O orgulho em ser ignorante

Transcrevo com bastante prazer pessoal um comentário deixado em post anterior por um prosador "anónimo":

«Por falar em recuos e em conhecimentos, convidava-o a regressar ao periodo da revolução francesa para compreender a génese do conceito de "esquerda" e perceber que naquele periodo ficou logo bem definido a base universalista do mesmo. Coisa que nem os republicanos foram e muito menos toda e qualquer doutrina comunista internacionalista.

Compreendo que não tenha digerido bem a formação ideológica que lhe implantaram, porque afinal baba-se tanto com as vitórias sobre a bandeira como o salazar.

Neste blog só falta mesmo dizer e à semelhança do Salazar "Para África e em força"

Os nossos soldados pensaram que estavam a defender solo pátrio em áfrica, quando na realidade estavam era a defender os interesses de uma poucas famílias que gozavam de monopólios económicos que o Estado Novo lhes proporcionava. Agarre-se bem à bandeira porque vai precisar bem dela. Na volta, na volta, o que quer é mesmo um estado forte que o proteja, não é seu fascista mascarado de esquerdista?»

Ora bem, este comentário tem duas partes, qualquer delas memorável pelo fino recorte literário e escassez de substância coerente ou conhecimentos na matéria sobre que disserta.
começo pela parte final - menos interessante para o povo mas deliciosa para mim, porque é um comunista conhecido nesta santa terra a chamar-me esquerdista e facista, quando em outro post um socialista me chama comunista. Ainda em outro qualificam o me colega - confessado anarquista - como hesitando entre a fidelidade ao Bloco ou ao PSD.
Se bem vejo, estão cobertos todos os quadrantes políticos neste blogue só com dois autores, o que é um exemplo de imensa pluralidade, coisa pouco habitual nestes tempos.

Mas voltando aqui ao Madeira, deculpem ao comentador anónimo, percebe-se que em matéria de teoria política leu «Esquerdismo, a doença infantil do comunismo» de Lenine e parou.
Minto, leu qualquer coisa sobre o fascismo e o Hitler e acha que percebe imenso de História Nacional e Universal. Provavelmente comprou uns volumes daqueles que são distribuídos com os jornais.
E leu o «18 de Brumário» do Marx e acha que percebe de Revolução Francesa.
A esse respeito o primeiro parágrafo do comentário é especialmente ridículo.
De acordo com o Madeira, desculpem, com o comentador anónimo, o «conceito de esquerda» ficou logo definido na Revolução Francesa como sendo universalista.
Pois, talvez seja assim.
Ou então não.
Porque a Revolução Francesa provocou aquela que é a primeira grande guerra dos tempos modernos, que atingiu toda a Europa e parte de África e as fronteiras da Ásia.
E foi travada em nome da «Pátria em Armas» num espírito profundamente nacionalista.
E mesmo os que mais promoveram a guerra revolucionária como uma guerra de «libertação» dos outros povos europeus foram os Girondinos - ala moderada dos revolucionários - e não os Jacobinos - a Esquerda -, com destaque para Robespierre, que se opôs à guerra, pretendendo consolidar a revolução na França.
Mas isso o nosso comentador anónimo não sabe porque só conhece a Revolução Francesa com base em vulgatas marxistas de 3ª ordem e julga que o Napoleão era um grande revolucionário de esquerda, certamente.
Ainda bem que o comentador anónimo não assinou a dita prosa, porque assim se perceberia até que ponto o caruncho pode danificar as capacidades cognitivas.