Tendo em mente a definição anterior de moiteiro como colaborador activo do poder ilegítimo exercido pela Moita sobre as terras e populações envolventes, podemos apresentá-lo como, em termos de carácter, a mais perfeita combinação de ignorância e presunção. Enquanto os alhosvedrenses são, sem sombra de dúvida, bastante ignorantes mas muito pouco presumidos e, por exemplo, os montijenses são extremamente presumidos mas nem sempre ignorantes, os moiteiros apresentam doses anormalmente elevadas nas suas mentes de ignorância e presunção.
Isto é fácil de demonstrar.
Se o conhecimento ocupa lugar, um excesso de ignorância (= falta de conhecimento) deixa todo o espaço da mente livre para ser ocupado, neste caso pela presunção. Assim se explica que numa mesma mente coexistam grandes quantidades de duas características (ignorância+presunção).
A combinação destas duas “qualidades” numa pessoa ou grupos de pessoas tem um nome específico que os cientistas sociais definiram como “estupidez” e que um intelectual como Carlo Cipolla definiu magistralmente – e cito de memória - como “a capacidade de produzir mal nos outros sem que disso se receba necessariamente um bem”. Convenhamos que esta é quase de forma literal outra forma de pronunciar “moiteiro”.
Em termos físicos muito haveria a dizer, pelo que agora ficaremos apenas com o macho da espécie, bem mais daninho e mesquinho que a fêmea (esta, em alguns momentos, pode mesmo ser uma boa aliada pois pelos danos que provoca ao macho moiteiro podem ser demolidores e muito úteis).
Quando crianças as características podem ser mais difíceis de detectar, embora desde tenra idade se começam a notar o olhar algo esgazeado, a abundância da perdigotagem ao falar e uma propensão para hiperactividade mal dirigida e francamente inútil.
No moiteiro a adolescência é um período francamente irritante. Para além da gabarolice descontrolada, inversamente proporcional às dimensões penianas, acentuam-se os traços que atingem a sua plenitude na vida adulta, nomeadamente o início da utilização, na última década, de abundante gel na cabeleira.
Como adulto, o moiteiro destaca-se pelas feições vermelhuscas, o olhar vítreo, frequentemente devido a prolongado processo de etilização, a rotundidade da cintura e a perna curta.
Em termos de vestuário, os óculos escuros tornaram-se indumentária padrão, aliados ao casaquinho de cabedal, a calcinha justa de ganga e o ténis de marca (tanto comprado na loja legítima – as elites – como no mercado – as massas). O fatinho e a gravata são apanágio apenas do topo da hierarquia dirigente mas ainda lhes assentam tão bem como ao Luis Filipe Vieira.
Em termos de acessórios, para além do omnipresente telemóvel para o qual falam com o tom de voz que usariam para comunicar de viva voz com o interlocutor a 20 km de distância, o mais curioso é o chaveiro que é usado no bolso, preso às presilhas das calças ou ainda na mão, chocalhado em movimentos giratórios, quando o moiteiro se encontra em situação de espera. Por analogia, supõe-se que, atendendo ao ruido produzido, este hábito derive directamente de reminiscências do som dos chocalhos usados pelo gado bovino quando pasta nos campos.
Sabemos que esta descrição é escassa atendendo à riqueza de cambientes apresentada pelo moiteiro, pelo que prometemos para breve novo capítulo dedicado a tão apaixonante tema.
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