terça-feira, agosto 17, 2004

O Foral de Alhos Vedros

Gente amiga comentou off the record que os os nossos reparos sobre a obra de Maria Clara Santso e José Manuel Vargas sobre o foral de Alhos Vedros eram algo injustos na apreciação do estudo, da bibliografia e no comentário algo personalizado sobre o que esperávamos dos autores.
Esclareçamos as questões por pontos:

Quanto ao estudo, se à parte técnica da transcrição e comentário pouco haverá a acrescentar, tirando uma ou outra questão de critério paleográfico, o mesmo se não poderá dizer do estudo de enquadramento histórico pois a primeira parte limita-se a debitar um discurso dezenas de vezes repetido por todo o país sempre que se publica um foral manuelino, sem nada de mais original, enquanto a segunda sobre Alhos Vedros se acomoda aos elementos do próprio foral, aos dados de uma publicação de Ana Leal e Francisco Pires sobre as Visitações e muito pouco mais, sendo bastante pobre, porque meramente descritiva do que as fontes dizem de forma directa e não fazendo um enquadramento espacial no âmbito da região em que Alhos Vedros se inseria.
A propósito da bibliografia mais haverá a dizer, pois são ignoradas positivamente todas as publicações existentes sobre documentos similares da margem sul ou do distrito de Setúbal (já nem falo de outro tipo de textos ou fontes), as quais não sendo muitas sempre são algumas: António Nabais publicou o foral de Alcochete e Aldeia Galega em 1995 para as respectivas Câmaras Municipais; o mesmo autor e Alexandre Flores já tinham publicado um estudo sobre os forais de Palmela em 1992 (CM Palmela); Alexandre Flores também tem obra publicada sobre Almada e até o foral de Canha foi publicado em 1999 pela Câmara do Montijo com transcrição de Rosa Bela Azevedo. Como se vê, tudo publicações anteriores à ques está sob análise e que, sendo da iniciativa de autarquias vizinhas, os autores teriam obrigação de conhecer. Se as não conhecem, talvez estejam no ofício errado; se as conhecem e, por comodidade, preguiça ou imposições externas, as não usaram, o caso talvez até seja pior.
Em relação aos autores, e em atenção aos antecedentes, esperaria certamente que o José Manuel Vargas fosse mais além do que foi, pois há já bastantes anos atrás fez trabalhos de boa qualidade que até já recomendámos neste blog. Quando à Drª Maria Clara Santos não lhe conhecemos obra historiográfica original em extensão suficiente para depositarmos nela mais ou menos esperanças e acreditamos que certamente o trabalho na autarquia lhe deverá ter ocupado o tempo em outras actividades que não o estudo da memória histórica e doo património do antigo concelho de Alhos Vedros.

Justificar-se-ão os autores que esta era uma obra despretensiosa, de divulgação, patati, patátá, sem grandes ambições e todo o rosário que costuma acompanhar estes textos. Ora aí está o problema !
A ambição não pode faltar nestas iniciativas e o comodismo preguiçoso típico da burocracia autárquica não se deve instalar. Se nem com apoio vão lá, como é que querem que se faça alguma coisa. E para que é que servem Núcleos de Amigos da História Local se o trabalho produzido se reduz a papaguear o que já é conhecido e a transcrever facsímiles ?
E depois temos ainda de suportar aqueles textops introdutórios dos Presidentes e Vereadores de serviço que, não percebendo nada da coisa, escrevem sobre esta “maravilhosa obra”. Tenho a sensação que as obras de que percebem são outras e quanto a maravilhas nem se fala.

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