quarta-feira, julho 13, 2005

Algo me escapa, nisto tudo...

Mantendo uma tradição nacional, os nossos alunos apresentam um deplorável desempenho na disciplina de Matemática.
Nos últimos anos, os conteúdos desta disciplina têm sido aligeirados de tudo o que possa levantar mais problemas até ao 9º ano, o horário da disciplina não tem sido aumentado e a função do professor (em geral) tem sido encaminhada para a de entertainer e de despoletador de aprendizagens espontâneas nas crianças, enquanto o sistema de avaliação se tornou um mero circo destinado a forçar o sucesso administrativo.
Depois, apesar de os exames serem de chacha pelo que sei, o pessoal espalha-se em grande.
No entanto, a solução que a actual e excelsa (por comparação com a anterior) Ministra da Educação encontrou, à pressão, para resolver o problema é mandar os professores TODOS ficarem mais horas na Escola para apoiarem os alunos.
Agora digam-me lá o que é que uma professora de Inglês ou um professor de Educação Moral e Religiosa poderão fazer por diminuir o galopante insucesso escolar na Matemática ?
Reorganizar o currículo, os conteúdos e as orientações do ensino da Aritmética e da Matemática [corrigimos a gralha, graças ao MdS] no sentido de um MAIOR RIGOR não ocorreu à Ministra.
Agora mandar, a trouxe-mouxe os professores ficarem mais horas na escola lembrou-se.
Claro que tentar lançar os alicerces de uma forma mais rigorosa de transmitir conhecimentos científicos fundamentais é capaz de ser impopular, porque acarretaria uma avaliação séria e, a curto prazo, levaria a um maior insucesso expresso nas pautas.
Mais fácil é acenar demagogicamente com um maior tempo dos professores nas Escolas como solução.
Só que, repito, o que adianta um professor de Educação Física ou Geografia, ficar a apoiar as dificuldades de um aluno do 9º ano com a Trigonometria ?

Como de costume, fica-se pela rama. Pela demagogia, pela proposta rápida e impensada, pela fuga ao que é necessário: repôr o rigor e a disciplina nas Escolas e abandonar os velhinhos mitos da geração de 60 de que aprender deve ser um prazer e uma alegria. Comparável só mesmo aquela divisa dos tempos da FNAT da "Alegria no Trabalho".
Agora lá vem a lengalenga da adaptação do ensino a cada caso individual, ladaínha herdada de estudos cientificamente mais do que duvidosos dos anos 60/70, e espalhada por quem não precisa de a aplicar no seu gabinete. Minhas amigas e meus amigos: 7X7 são 49, dê-se-lhe a volta por onde der. E o teorema de Pitágora não muda de formulação, só porque o menino ou a menina não gosta muito de pensar e é incapaz de uma abstraçãozita. E um trin
ângulo não passa a ter 5 lados, só porque a criancinha insiste em não perceber que são três.
E o que temos feito nos últimos 25 anos, cambada, é pactuar cada vez mais com o erro de demonstrar sempre mais compaixão pelos que, não sendo pobres de espírito, só ficam a ganhar quando por isso se fazem passar.
"Ah... A Matemática ....." (tremor, tremor...).
Mas também pode ser "Ah.... a História" ("O que interessa estudar o que já se passou, afinal ? O Ruben diz qué só datas pra empinar !).
Ou ainda "Ah... o Inglês... ( O Tiaguinho nã dá prás línguas, tá a ver ?)
Para não esquecer o "Ah... a Educação Visual... (Isso serve para quê, é que a Solange Maria desenha muito mal... tadinha...)

Por vezes, aprender não é nem deve ser um prazer, é preciso concentração e esforço. Isto se é que não queremos continuar a reproduzir gerações de analfabetos funcionais em matérias essenciais como a Língua Materna e a Matemática, para não falar de todo o resto.
E em tudo isto estou à vontade, porque Matemática foi sempre a disciplina em que obtive melhores resultados até ao 9º ano, mesmo se acabei por formar-me numa área completamente diferente. Mas, mesmo na Universidade, uma das minhas melhores classificações foi exactamente numa cadeira de Estatística, por isso...
E porquê ?
Porque aprendi cedo, e nem sempre com excessivo prazer, Aritmética e depois Geometria, Matemática e uns rudimentos de Álgebra.
É verdade que chumbavam muitos alunos a Matemática; mas pelo menos os que passavam não se iam depois espalhar nos Exames, demonstrando toda a ficção que é o actual sistema de avaliação no Ensino Básico E Secundário E Superior (a começar pelas ESE's, aviários de professores formados à pazada e, por regra, sem critérios científicos válidos, mas apenas com base no pedagogês mal percebido dos manuais).
Como estamos agora, apenas nos andamos a enganar e tudo cai - ainda mais - quando os exames são feitos de forma comparativa à escala internacional.
E não é com mais horas na escola de professores de Educação Moral e Religiosa (a menos que sejam milagreiros) ou de Educação Musical (mesmo se os pitagóricos foram precursores na ligação da Música à Matemática) que resolvemos seja o que for.
O problema não é a Quantidade, é a Qualidade, por paradoxal que isto seja quando se fala da Matemática.
Mas a senhora Ministra parece ser mais uma numa longa linhagem (excepção ao D. Justino) que parece não ter percebido, ou não lhe ter convido perceber, uma coisa assim tão simples.

AV1

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