sexta-feira, julho 15, 2005

O que está no papel...

... fica no papel.
Se bem entendi um comentário do Mário da Silva, na reunião que houve sobre o PDM em Sarilhos Pequenos, o arquitecto que coordenou a equipa responsável pelo dito coiso terá, a certa altura, dito que muito do que está feito no papel ou que parece incontornável do ponto de vista legal, depois logo se vê...
Ou seja, nós preparamos isto muito bonitinho para as entidades aprovarem, mas depois logo se arranja maneira de dar a volta ao que é incómodo.
Bem... foi assim que fizeram com o PDM anterior, por isso não vejo que não aconteça com este.

Mas a propósito desta forma muito nacional de fazer projecto bonito e promessa fácil, que depois não é para cumprir, lembrei-me de um episódio passado há pouco mais de 4 anos (Inverno de 2001) em outras paragens.
A pedido de um familiar com os chamados "direitos adquiridos" na freguesia em causa, fui a uma reunião de esclarecimento da população com parte do executivo camarário local, com o seu Presidente à cabeça.
O problema prendia-se com o facto de a autarquia pretender esgotar logo em 2001 todo o espaço para fins habitacionais que o PDM previa até 2008 ou 2010, mais coisa, menos coisa, pois já não me lembro bem.
A população queixava-se da pressão enorme do trânsito que já se sentia sobre os acessos existentes e de problemas de estacionamento variados e crescentes.
Muito inquirido, o Presidente em causa garantiu que antes de qualquer dos novos loteamentos e respectivas urbanizações estarem concluídas, os novos acessos estariam prontos, pois eram contrapartida dos promotores imobiliários envolvidos. E o homem, com o ar mais sério do mundo, prometeu que o seu Verbo era verdadeiro e se faria, não carne, mas alcatrão.
Claro que passados estes anos, as urbanizações já lá estão, mas os novos acessos continuam por concluir, com a agravante de ainda estar para ser eliminado um outro acesso anteriormente existente.
Entretanto, o autarca migrou com sucesso para outras paragens e a sua sucessora (já estão mesmo a ver de quem estou a falar, não é ?) surge impoluta perante todo o processo, pois as promessas não tinham sido suas.
E eu, quando lá vou a casa da família, lá tenho de passar pela estrada meio esburacada, de esperar que o trânsito em sentido contrário passe, para poder ultrapassar os carros estacionados no interior da terreola, ou então sou obrigado a ziguezaguear no sei interior.
E, à excepção da população, que acreditou no que lhe prometeram, todos os restantes envolvidos andam sorridentes.
Os promotores promoveram os seus interesses e disso já colheram os proventos.
Os autarcas envolvidos foram eleitos ou reeleitos, aqui ou ali e provavelmente sê-lo-ão de novo.
Só as infraestruturas não apareceram.
Mas isto é a prática comum e nem merece grande admiração, apenas o registo anedótico.

Por isso, não me espanto com duas coisas:
1) Que o que está (ou ficará) definido no novo PDM será revisto sempre que interesses relevantes se levantarem e aí não haverá REN ou RAN que resistam. Então se envolver interesses materiais relevantes, não há nada que não se consiga.
2) Que as promessas de equipamentos e infraestruturas de apoio para as novas áreas residenciais na freguesia de Alhos Vedros só aparecerão, se aparecerem, muito depois das urbanizações estarem em pleno vapor. A menos que se fale de áreas comerciais. Essas surgem muito mais facilmente do que equipamentos para fins de lazer, desportivos e/ou culturais.

AV1

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