domingo, agosto 21, 2005

Embirrações de estimação

Em tempo de férias, existe uma série de fenómenos que me irritam quase tanto como os textos da nossa classe política local e nacional, para não falar dos artigos de opinião mais ou menos criativa da Inês Pedrosa, do António Mega Ferreira, do Manuel Maria Carrilho, do João Carlos Espada, da Clarra Ferreira Alves, da Clara Pinto Correia e de outros cronistas/bloguistas de menor nomeada.
Fiz aqui uma selecção resumida só para expelir a bílis do sistema (e para depois não me acusarem de guardar o fel para outros textos):

1º lugar - 1746 pontos - Ser obrigado, durante uma boa refeição em ambiente festivo e com muita gente conhecida ou por desconhecer, a ouvir chupar repetidamente os restos de comida de entre os interstícios dos dentes, em especial se a pessoa em causa está perigosamente próxima e já de si não nos é especialmente simpática. Digamos que, em situações de maior fraqueza, pode levar-nos a tentar cortar as veias dos pulsos com a faca de peixe.

2º - 965 pontos - Enfrentar, em qualquer circunstância, grupos de excursionistas, desde jovens nórdicos em alegre investida neo-viking a idosos nipónicos com aparelhagem digital de nos fazer morrer de inveja. Em particular, quando nos tentam arrancar informações sobre o local onde nos encontramos por mais que nos tentemos façar por albaneses perdidos e incapazes de perceber qualquer idioma terrestre para além do usado nos discursos do camarada Enver Hoxha e na correspondência internacional da UDP nos anos 70.

3º - 782 pontos - Colegas de viagem/férias que, logo que estão fora do seu ambiente natural, desatam logo à procura de restaurantes que sirvam comida tradicional portuguesa (quando no estrangeiro) ou fast-food internacional (quando em outras regiões do país). Neste caso, a única solução é tentar atirá-los para o meio de uma excursão de nórdicos com esperança que venham a ser espezinhados cruelmente.

4º - 623 pontos - Ficarmos à mercê de serviços profundamente indigentes e exploradores de revelação de fotografias ou de transferência do suporte digital para outro. Este ano tive direito quer a que me devolvessem um rolo de negativos APS num rolinho fora da caixa original "porque não temos máquina para voltar a pô-lo lá dentro", quer a que ninguém achasse um cabo USB para transferir as fotos do cartão de memória para um CD.

5º - 321 pontos - Encontrar, em pleno mês de Agosto, postos de turismo a fechar às quatro da tarde ou a estarem pura e simplesmente sempre fechados, bem como comerciantes que se recusam a prestar qualquer tipo de serviço fora do habitual, embora gastando numeroso tempo a queixarem-se da situação de crise.

6º - 265 pontos - Ser obrigado a suportar a simpatia de completos estranhos que tentam mostrar-se amigáveis só porque nos identificam como veraneantes/turistas como eles em ambientes afastados da nossa região de origem. Meus amigos e amigas, se eu em férias quisesse grandes companhias e conversas, ia fazer viagens consecutivas de transportes públicos pela área metropolitana de Lisboa. Poupava dinheiro e o efeito entediante seria o mesmo.

7º - 136 pontos - Descobrir que o nosso país profundo e/ou ultra-periférico, quando não ardeu, está tão ou mais abimbalhado do que aquilo que a reportagem da Volta a Portugal nos mostra todos os anos (sim, tive ocasionalmente acesso a esta pérola televisiva da RTP).

E fico-me por aqui para não me estender mais.
Como poderão comprovar, nem tudo nestas três semanas foram flores e nem sempre o esforço compensou o proveito.
Durante a semana procurarei elucidá-los sobrea importância de dispôr de boas casas de banho em viagem ou no caso de nos encontrarmos em ambiente excessivamente simpático e eufórico, assim como é complicado gerir um metabolismo que me impede de fazer a tradicional sesta vespertina sem que isso acarrete acordar como se estivesse com um jet-lag de pelo menos seis horas.

AV1

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