quarta-feira, agosto 24, 2005

O Problema da Água

Já se percebeu, em inúmeras ocasiões, que um dos cavalos de batalha da CDU nestas autárquicas será o do saneamento básico e da gestão da água no concelho.
O problema da Água é, na verdade, um dos que se virá a revelar crucial num futuro bem próximo, quer por causa dos crescentes anos de seca, quer por causa do gradual esgotamento das suas fontes naturais de abastacimento, não esquecendo ainda o seu mau uso (caso exemplar é o desvario de piscinas individuais aqui no concelho ao lado, na urbanização Palmela Village) e a poluição crescente dos solos, rios e mares, em especial quando não existe uma política coerente de ocupação dos solos e se insiste na sua impermeabilização.
Ora bem, a CMM gaba-se de ter uma cobertura a 100% de água potável no concelho e de praticar dos preços mais baixos no mercado.
Essas são realmente boas notícias.
Mas, como de costume, não contam toda a verdade e só comparam o que é favorável.
Vou relevar o facto de ser relativamente pequeno o peso dos custos com o abastecimento de água nos orçamentos familiares.
No entanto, vou aqui chamar a atenção para um par de aspectos estatísticos que podem ser interessantes em toda esta questão e que resultam da análise dos dados disponibilizados pelo INE a este respeito (os dados são acessíveis de forma gratuita no endereço http://www.ine.pt/prodserv/quadros/quadro.asp, mediante um mero registo de nome, mail e password). Os dados reportam, infelizmente, a 2001, mas as alterações terão sido mínimas.

Em primeiro, lugar, o facto de existir uma cobertura a 100% da população do água potável não é propriamente uma coisa por aí além. Na região de Lisboa e Vale do Tejo a larga maioria dos concelhos tem taxas de cobertura acima dos 98%, mesmo em concelhos bem mais extensos e são quase duas dezenas os que atingiram os 100% da população. Em boa verdade, só o Montijo se encontrava então abaixo dos 90% e isso em parte deve-se à dispersão do município.
Em segundo lugar, esquece-se que no aspecto da drenagem e tratamento das águas residuais, a Moita é um dos únicos 8 concelhos de toda esta vasta zona que tem uma perentagem inferior a 10% de população abrangida por este tipo de serviço (com 7,2%), só ficando acima do Barreiro, de Vila Franca de Xira, Coruche e Salvaterra de Magos. É aqui que a história da incapacidade de criar atempadamente uma ETAR se esquece e é chutada para o Poder Central.
Em terceiro lugar, verifica-se em termos de despesa, o município da Moita é dos que pouco investe na protecção da biodiversidade e da paisagem (apenas 123.000 euros contra os 428.000 de Palmela, os 598.000 de Sesimbra, para não falar de valores bem mais altos de concelhos com orçamentos mais gordos), mesmo se apresenta melhores resultados do que os vizinhos Barreiro ou o Montijo.

Significa isto que quando se discute o problema da Água e da sua gestão, era bom que todos os aspectos envolvidos viessem à baila (e são mais dos que os aqui alinhavados) e não apenas os indicadores mais convenientes para a fotografia.
Só assim é possível debater de forma honesta problemas muito sérios para o nosso futuro.

AV1

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