«Como rei constitucional, para uso particular de um povo sem ambições, que preza antes de tudo as suas comodidades e o conchego do seu lar, o monarca que hoje se senta na cómoda poltrona a que as câmaras municipais e outras graves corporações do Estado chamam trono por ocasião dos aniversários solenes, é certamente uma das testas coroadas mais benignas, mais bem conceituadas e das que menos desafiam hoje na Europa as iras da demagogia entre nós inaugurada simplesmente como sociedade de passatempo e recreio, para entretenimento de um ou outro espírito fantasista do país.
Há cerca de quinze anos, que tantos aão, pouco mais ou menos, os do seu reinado, que Sua Magestade ouve quotidianamente, no uso das régias prerrogativas, as descomposturas matinais dos partidos monárquicos que, em virtude da rotação do sistema, se acham na adversidade - fora das secretarias do Terreiro do Paço. Enquanto um grupo lhe dá beijocas na irresponsável mão, há sempre outro que lhe dá cacholetas na resplendente coroa, até que o segundo volva a comer para o primeiro ficar a malhar.»
Rafael Bordalo Pinheiro, "O senhor D. Luís" in Álbum de Glórias, Lisboa, 2003, p. 59.
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