Existem maneiras mais ou menos subtis de apagar a memória das populações/povoações.
Em Alhos Vedros uma das menos evidentes passa pela própria toponímia das ruas.
Quase ou mesmo todos os povoados com existência ancestral têm orgulho nas suas origens e exibem-no, como uma mais valia patrimonial. Qualquer terra com raízes (pré-)medievais como Alhos Vedros, para além do mais sede de concelho mais de meio milénio, regista para a posteridade os locais simbólicos da sua História comum. Têm a sua antiga “Rua Direita”, o seu Rossio, o Largo do Paço, as ruas com referências às antigas actividades económicas aí dominantes no passado mais ou menos longínquo ou com a evocação aos seus antigos habitantes mais ilustres.
Em Alhos Vedros, a memória parece ter sido apagada e reescrita apenas a partir do momento da sua decadência e em particular desde quando deixou de ser sede de concelho. Significa isto que, à parte os sacramentais navegadores dos Descobrimentos e terras do Ultramar que tanto diziam à toponímia salazarista, quase só encontramos por Alhos Vedros menções a datas/acontecimentos e figuras da História contemporânea (5 de Outubro, Cândido dos Reis, Miguel Bombarda, Agostinho Neto, Humberto Delgado, etc, etc). Até um 1º cabo, certamente conhecido na sua família, tem direito a uma rua mas nada sabemos da antiga toponímia da vila de Alhos Vedros.
Aliás, mesmo uma das principais artérias da povoação (que corria das imediações da actual Junta de Freguesia até perto da actual Estação dos Caminhos de Ferro, passando pela Cadeia, Pelourinho e Misericórdia, com ramificações para os antigos Paços do Concelho e para a Igreja), está tão descaracterizada e segmentada que nada a evoca.
Compreende-se que em povoados de instalação mais recente (Baixa da Banheira, Vale da Amoreira) ou de História mais curta e árida (a actual sede do concelho), não exista uma memória a preservar, mas numa terra com uma existência quase certamente milenar isso é incompreensível.
Culpa de quem ?
Culpa do poder e da gestão toponímica dos moiteiros e seus apaniguados, mas não só.
Culpa dos próprios alhosvedrenses que há muito parecem aceitar o seu destino como se ele não estivesse na suas mãos e como se deles também não dependesse algum tão simples, quanto fundamental, como a preservação da sua memória.
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