terça-feira, junho 29, 2004

Material alheio (direitos de autor para o JPPereira)

Não é nosso hábito mas hoje merece transcrição um texto do blog do Pacheco Pereira sobre a situação política nacional.
O texto é o que se segue, mas podem sempre visitar o original.


POBRE PAÍS

o nosso.

Há uns anos, nos momentos mais complicados de dissolução da URSS, nada funcionava na Rússia. Todos os dias de manhã, no Hotel Ukraina, o pequeno almoço era uma saga. Chegava o samovar com o chá e não havia chávenas lavadas. Chegavam as chávenas, não havia colheres. Chegavam as colheres e não havia chá outra vez. Os estrangeiros recém-chegados protestavam em vão. Os russos e os velhos habitantes do Hotel Ukraina, que já conheciam todas as rotinas, iam buscar chávenas à cozinha, acumulavam duas ou três chávenas em cima da mesa para armazenar o precioso chá, etc. Um amigo meu disse-me: “vais ver, ao quinto dia já estamos como eles, a ir buscar chá à cozinha, muito caladinhos”. Ao terceiro dia já íamos buscar chá à cozinha.

Não há nada como o hábito e como o sentimento de impotência para que se aceite tudo. Não há nada como a ecologia envolvente para se achar tudo normal. O resvalar contínuo para a mediocridade, o abaixamento dos requisitos mínimos, que antes juraríamos nunca aceitar. Que eram mesmo inimagináveis. Não, meus amigos, é na cozinha que está o chá, que estão as chávenas, que está o açúcar. É na cozinha. O que é que querem mais? Qualidade no serviço? Isso não é aqui. Nem no Hotel Rossya, do outro lado.

E à coerência...

E o nosso "primeiro" à coerência do discurso político, como o outro aos costumes, disse nada...

Para quê fingir que se reflectiu muito e que a decisão não está tomada, se não se reflectiu muito e a decisão já está tomada ?

O Zezinho das RGA's e o Paulinho das Feiras (bem como Pedrocas da Kapital) são as várias faces de uma e mesma moeda.

Sei que este blog não se destina a discutir questões nacionais, mas sinceramente não há pachorra para estes tipos e para os seus emissários cá no burgo.
vejam-se as apressadas reuniões partidárias locais e o zero de conteúdo ou originalidade das posições (não) tomadas para se ver a que estado chegou a nossa mediocridade.

quarta-feira, junho 23, 2004

21 razões para detestar os espanhóis e os seus aliados na nossa região - os moiteiros

1. A mania que eles têm de invadir-nos de 200 em 200 anos só para levarem nos cornos. Será masoquismo?!?
2. Tratado de Tordesilhas, em que eles ficaram com o ouro e a prata toda e nós com as mulatas e a caipirinha... pensando bem, o negócio até nem foi tão mal para nós porque, entretanto, o ouro e a prata acabaram-se.
3. As sevilhanas: que raio de gente com auto-estima se veste com vestidos às bolinhas tipo joaninha e saltita enquanto um parolo de cabelo oleoso geme como quem está com uma crise de hemorróidas?
4. Castilla la Macha, Estremadura e Andaluzia: todos eles desertos áridos e monótonos, mas sem camelos nem tipos de turbante para tirar fotos com os turistas.
5. O antigo costume espanhol de reclamarem para si terras às quais não têm direito (como Gibraltar, Ceuta, Olivença - que é nossa! - e as Canárias). Em contrapartida, esqueceram-se de levar a Moita.
6. Enrique Iglesias, y su magnifica verruga en la tromba.
7. A língua castelhana: esse prodígio da linguagem, em que seres humanos são capazes de emitir ruídos imitando perfeitamente o som de um cão a roer um osso.
8. Filipe I.
9. Filipe II.
10. Filipe III.
11. Os Seat, os piores automóveis que existem a oeste da Varsóvia. Boca chauvinista, a treinar diante do espelho: «Yo esborracho tu Seat Marbella com mi pujante UMM»!
12. A Guardía Civil (a GNR espanhola), e a sua mania de arrear porrada em políticos portugueses na fronteira: mesmo que eles estivessem a pedi-las, nos nossos políticos somos nós quem "molha a sopa".
13. Badajoz, a segunda cidade mais feia do mundo, a seguir a Ayamonte.
14. Os nomes que ostentam: quer queiram, quer não, Pilar é nome de uma viga de betão e Mercedes é tudo menos nome de mulher!
15. A mania que têm de se afirmarem como uma nação unida quando três quintos da população tem um ódio de morte a Espanha (já os moiteiros adoram-nos).
16. El Córte Inglés... Até eles tiveram vergonha da sua criação,pelo que não lhe chamaram "El Córte Español", optando por atirar as culpas a outro povo, totalmente inocente.
17. Café espanhol: uma zurrapa intragável e, além disso,para se conseguir uma bica em Espanha, o cliente tem que especificar expressamente que a quer «sin leche». E, à cautela, convirá também pedir sem Sonasol, sem gelo, sem pêlos do peito do empregado...
18. A riquíssima culinária espanhola: paella de carne, paella de peixe, paella de gambas... Claro que galegos, bascos e catalães têm uma culinária riquíssima, mas esses não são espanhóis (ver ponto 15).
19. O hábito cínico de nos tratarem por "nuestros hermanos". Aí o português deve, com ênfase, esclarecer: «Xô, bastardo! Vai prá p*** que te pariu».
20. A televisão espanhola: 100% parola, e onde é considerado top de audiências um concurso em que a corrente, chamada Mercedes (vrumm! vrumm!), tem que dançar sevilhanas (arrghh!) com o Enrique Iglesias (vómitos!) para ganhar um Seat (keep it!) ou um T2 em Ayamonte (nãaaaaaaaao!).
21. Já imaginando a contra-argumentação que alguns tentarão contra esta minha lista, devo lembrar que os filmes do Canal 18 NÃO são feitos em Espanha, nem por espanhóis. Vejam o genérico. São americanos e dobrados em espanhol porque os espanhóis ficariam logo murchos se ouvissem as senhoras a gemer noutra língua que não a sua.
Aliás, os espanhóis nunca foram muito dotados: sabiam que a DUREX comercializa em Portugal preservativos com uma média de 1 cm mais compridos do que aqueles que comercializa em Espanha?!? Agora, agradeçamos todos: «Obrigado D. Afonso Henriques, por nos teres
separado dessa raça, para que hoje possamos dizer, com orgulho, eu sou português (e alhosvedrense)!»

Apelo do Roldão Preto

Apelo !
Alhos Vedrenses chegou a hora da acção directa !
Vamos lutar contra o poder moiteiro com todas as nossas forças !
As razões do declínio e do estado desesperado a que chegou Alhos Vedros são todas culpa do poder moiteiro: a construção de fábricas e anexos de fábricas que destruiram toda a malha urbana de Alhos Vedros, para enriquecer o poder moiteiro, à custa do bem estar da população Alhos Vedrense são culpa do poder moiteiro, agora restam ruínas e um cenário tipo pós-guerra, mas não terminam aqui as agressões à nossa terra. Não ! O Cais Novo que se pretendia na sua construção ser um porto de transportes fluviais, foi logo em 1977 arrendado a uma empresa de desmantelamento de barcos que tem desde essa altura destruído toda essa zona ribeirinha de valor imenso a nível de flora e fauna ribeirinhas e também todas as salinas da Baixa da Banheira, que é para todos os efeitos zona vital de Alhos Vedros e como tal será anexada ao futuro concelho de Alhos Vedros
O Parque das Salinas é um mega projecto que não tem as
infraestruturas básicas necessárias para a sua existência, além de os esgotos correrem a céu aberto desembocando directamente no rio para gáudio das ratazanas do tamanho de coelhos que lá habitam...
É demasiado grande e a relva não tem nada a ver com a flora ribeirinha, e gasta imensas quantidades de água para ser regada e muita mão de obra de funcionários da Câmara da
Moita, que são pagos à custa de todos os Alhosvedrenses.
Basta ! Gritamos nós !
Abaixo o poder moiteiro ! Independência do concelho de Alhos Vedros !
Secessão !
Os moiteiros que se orientem sem Alhos Vedros, com as suas touradas e largadas e festas e morteiros, estamos fartos desta miséria vaidosa que são os moiteiros !
Nada nos une a esta sub-raça de bastardos amantes de espanha subservientes lacaios de sevilha e das sevilhanas, vamos acabar com eles !
Apelo ao povo de Alhos Vedros, gente orgulhosa do seu passado que boicote tudo o
que vier da Moita !
A palavra de ordem é :
- Fora que é da Moita !
Todos os caixotes do lixo que têm o brazão moiteiro têm de ser pintados por cima e deve-se escrever Alhos Vedros, o LIDL da moita não é da Moita pertence ao nobre território de Alhos Vedros, o Intermaché da Moita está dentro do
território de Alhos Vedros, a estação de comboios da Moita, será sempre Alhos Vedros B,
Vivam as Brigadas Restauracionistas de Alhos Vedros, se for preciso partiremos para a luta armada, e lutaremos até à morte contra o poder moiteiro que nos atrofia e não nos deixa respirar !
Viva Alhos Vedros !
Saudações Restauracionistas de Roldão Preto !


domingo, junho 20, 2004

Movimento "Moita para Espanha, Já"

Por mão amiga chegou-nos mais um dado importante para apoiar o movimento "Moita para Espanha, Já", o qual revela que este é um desejo que está a ser cuidadosamente preparado pelos moiteiros.
Com efeito, na Escola Básica do 2º e 3º Ciclo D. Pedro II já existe a disciplina de Espanhol (deveria ser Castelhano, mas enfim) a ser ensinada às criancinhas que o desejam.
Aprendido o idioma já se podem tornar Procunas e emigrarem para Espanha atrás dos touros. Não é por nada, mas porque é que não fazem cursos intensivos para adultos, de maneira a acelerar o processo de integração em Espanha ?
Depois, é só mais umas aulas de sevilhanas e uns colóquios sobre peñas e eles recebem-nos de braços abertos.
Olé !

sexta-feira, junho 18, 2004

António da Costa sobre a Tradição - Parte II

António da Costa volta a abordar a questão das tradições moiteiras, investindo de novo contra aqueles que defendem que o futuro do concelho está em fugir à frente de touros e novilhos pelas ruas da terreola.
Estes últimos dias é só cultura nos nossos posts.


A tradição já não é o que era !


Tendo começado um texto anterior sobre este tema com uma referência a Hobsbawm que se destacou, entre muitas outras áreas, pela sua análise do fenómeno nacionalista, começaria este com outro autor, politólogo, que também estudou o nacionalismo e as estratégias usadas pelos movimentos nacionalistas para se apropriarem daquilo que gostam de apresentar como as tradições imemoriais das comunidades humanas cujos direitos afirmam defender.
Ernest Gellner afirma, entre outras passagens deliciosas, que «os fragmentos e remendos culturais usados pelo nacionalismo são muitas vezes invenções históricas arbitrárias. Qualquer velho fragmento ou remendo teria servido na mesma. (...) O nacionalismo não é o que parece e, acima de tudo, não é o que parece para si mesmo. As culturas que reclama defender e reviver são muitas vezes invenções suas, ou são modificadas para além de qualquer reconhecimento» (Nations and Nationalism, 1983, p. 56).
Ocorreu-me esta passagem que tanto pode ser aplicada aos nacionalismos como a muitos regionalismos e localismos, a propósito de alguns argumentos usados recentemente por um defensor das tradições tauromáquicas da Moita que, inadvertida ou voluntariamente, acabou por confessar que as mesmas não passam de uma estratégia para que a Moita não seja apenas um dormitório na orla de Lisboa (Vitor P. Mendes, Jornal da Moita de 3 de Junho de 2004, p. 6), mesmo se as afirma tricentenárias (o que me parece de difícil prova) ou obra de «sucessivas gerações que persistiram num rumo cultural próprio, fortemente identitário».
O autor em causa baralha-se e tropeça um pouco na própria argumentação, pois embora reclame a ancestralidade da identidade cultural da Moita, acaba por declarar que a mesma acaba por não passar de um recurso actual para que os moiteiros afirmem a sua auto-estima (o que nunca me pareceu um problema de que padecessem após várias décadas de maravilhada observação da impedância e incontinência em particular das suas elites tauromáquicas e pseudo-intelectuais), à semelhança de Paços de Ferreira, Gondomar ou a Marinha Grande (apresentadas como capitais nacionais de diversas actividades económicas, o que não é bem o mesmo que fazer largadas em Maio e Setembro). Depois, embora se utilizem critérios de ancestralidade para defender as pretensões identitárias da Moita, consideram-se anacrónicas as pretensões alhosvedrenses de recuperação de um poder usurpado. Em primeiro lugar, essas pretensões têm raízes bem mais ancestrais que os touros na Moita e, em segundo, se tomarmos como critério de unidade administrativa «o querer viver com dignidade e criar os filhos em paz e numa terra de oportunidades» teremos de criar uma superestrutura transnacional para albergar todos o que o desejam, tornando-se obsoletos os concelhos. Para além de que qualificar a Moita e o seu concelho como «terra de oportunidades» suplanta em humor subliminar tudo o que Manuel Pedro escreveu no seu artigo sobre o Imposto Taurino.
Por outro lado, criticando também de forma sinuosa o Manuel Pedro, V.P.M. parece acreditar que quem critica as questões de touros na Moita é porque não conhece a coisa em si. Nada de mais errado, pelo menos na minha perspectiva, pois só conhecendo algo é que podemos saber se gostamos ou não. As expressões taurinas que usa como exemplos do que os pretensos leigos não seriam capazes de perceber são uma forma de pegar de cernelha o assunto, não sei se me faço entender.
Reagindo ainda de forma muito implícita a pretensões como as dos animadores do blog Alhos Vedros ao Poder (parece que uma reacção explícita não ficaria muito bem), V.P.M. considera anacrónicas as posições que criticam o poder actual da Moita e passa a questionar o que é Alhos Vedros neste momento. Ora bem, V.P.M. coloca aqui o dedo na ferida mas de forma distorcida porque a questão certa seria «No que tornaram Alhos Vedros?», pois Alhos Vedros não chegou ao que é por obra do acaso, mas sim por muita acção (moiteira) e inacção (alhosvedrense, por certo) que procurou apagar (a primeira) ou deixou desbaratar (a segunda) um passado e uma memória que mereciam melhor sorte.
A Moita é o que é (se é rica, não sei, pois sempre me pareceu querer ser mais do que é) graças a um poder que centralizou e não partilhou durante mais de um século, deixando definhar quem lhe poderia fazer frente em termos históricos e patrimoniais, mesmo se beneficiando da apatia de quem devia ter defendido os seus direitos mas preferiu calar-se ou aliar-se ao poder do momento. Pois, porque não podemos comparar a história de Alhos Vedros e o seu património com as identidades culturais (legítimas ou inventadas é questão em aberto) da Moita. Não nos esqueçamos que a autonomização da Moita em relação a Alhos Vedros (amputando o seu concelho) resultou da atribuição de mercês a um nobre poderoso e não de qualquer movimentação das suas populações. As discussões que marcaram o final do século XVII na zona são elucidativas sobre a perturbação que a divisão provocou, quebrando laços de solidariedade e cooperação económica que existiam e só se recompuseram de forma desiquilibrada em favor da Moita, graças às pressões do seu novo senhor.
Só para dar um exemplo do abandono a que está votado o património histórico da região, lembre-se que nos arquivos da CMM existem cerca de duas dezenas de livros de vereações de Alhos Vedros que permitem acompanhar a história do seu concelho desde, pelo menos, 1624 (se os não destruiram como muita da documentação da Misericórdia de Alhos Vedros, uma das primeiras dos país, deitada para o lixo no meio de restos de seringas usadas, algodão ensanguentado e outros detritos do hospital) até 1839 (o último livro que vai até 1855 estava pelo Barreiro há uns anos atrás). Infelizmente, ninguém se preocupou em transcrevê-los e publicá-los. Provavelmente porque os recursos económicos para publicações só existem se forem para revistas sobre tauromaquia.
Continuando com alguns exemplos de atitudes que, mais do que um atentado ao património são um ataque à mera inteligência humana, relembremos a ideia peregrina, de há uma década atrás, mais coisa menos coisa, de desmontar o pelourinho quinhentista de Alhos Vedros, com o pretexto que esta vila já não era sede de concelho, para o levar para a Moita. Será que o pelourinho do Estado Novo não chega ? Ou não transmitirá a dignidade histórica suficiente ?
Passando para outra área, da gestão do espaço urbano, lamentavelmente conduzida durante anos por um alhosvedrense seduzido pelo poder (político e económico, apesar da pretensa ortodoxia), quem foi que ao arrepio do então nóvel PDM aceitou construir enormes barracões por Alhos Vedros, em nome de um desenvolvimento económico de que hoje restam apenas as carcaças ? Porventura na Moita foram aceites tais desmandos ? Quem concebeu para Alhos Vedros um plano urbanístico que apenas obedece a interesses privados, dando autorização à construção de blocos de apartamentos ao sabor do momento e sem qualquer tipo de qualidade arquitectónica ?
Qual foi o poder que nunca deu um passo institucional para recuperar, em termos de preservação do património de uma forma capaz, o eixo histórico de Alhos Vedros, desde a Igreja até à cadeia medieval, passando pelo Largo do Pelourinho e Misericórdia, assim como o largo do chamado Cais Velho ? Alguém acha que é um parque com charcos de água estagnada e uns arbustos a tapar o cadáver da Gefa que resolvem o assunto ?
E quem foi que deixou toda a zona ribeirinha, de salinas, moinhos de maré e sapal, de Alhos Vedros à disposição de quem tem toda a qualidade de monos (pneus, frigoríficos, etc) para se livrar ?
Realmente, só resta rir de tudo isto, pois é o que nos resta depois de 30 anos de poder autárquico democrático, incapaz de inverter as décadas anteriores de poder salazarista.
Há mais de 15 anos, ao falar com António Nabais, um investigador de património local da Margem Sul, ele dizia-me que a sorte de Alhos Vedros era ter ficado esquecida no meio dos desmandos que se viam no urbanismo da zona. O problema é que, para além de esquecida, Alhos Vedros foi asfixiada e, quando se lembraram, foi para começar a destruir, ou ajudar a cair, o que restava.
Caiu o cinema ? Ceda-se às pressões imobiliárias e façam-se apartamentos e lojas dos 300 !
A velha cadeia está em ruínas ? O que querem, são apenas pedras velhas !
Os barracões das velhas indústrias da cortiça já caíram ? Coragem porque ainda há os barracões das indústrias têxteis para saquear e cair !
É verdade que o mais triste de tudo foi que boa parte dos alhosvedrenses com alguma iniciativa, quando não decidiram fazer carreira nas nomenklaturas partidárias do establishment, convertendo-se à inanidade das práticas correntes, foram-se embora da freguesia, entre a tristeza e a necessidade. Agora, não sei se é tarde mas, pelo menos, alguém que tenha a vontade e o ânimo de escrever o que muitos pensa(ra)m mas não tiveram a coragem de afirmar publicamente, por apatia, conveniência, sei lá. E não venham com a história que só nos conhecem o nome e etc, porque quando mostrámos a cara e inquirimos os responsáveis, não nos responderam ou nos trataram como irresponsáveis opositores ao desenvolvimento local (leia-se, da Moita).
Se tenho lágrimas ? Tenho ! Por isso é que preciso de rir, porque, caso contrário, é difícil suportar tanta estupidez junta. Aliás, há quem diga que o humor, como sinal de inteligência reflexiva e auto-crítica, é o que nos distingue entre os animais. Há quem o tenha, há quem o não consiga ter.

António da Costa
(editor cultural do blog www.alhosvedrosaopoder.blogspot.com)
Junho de 2004

quarta-feira, junho 16, 2004

Colaboração de José Silva - Regresso em grande

O nosso colaborador José Silva voltou e decidiu (provavelmente para prazer do nosso leitor Titta Maurício) atirar-se com força aos jovens socialistas locais.
Leiamo-lo e rejubilemos.

O cosmopolitismo das jovens esperanças partidárias locais – o caso do PS
Eu tinha prometido aos meus amigos do blog Alhos Vedros ao Poder contribuir com um texto sobre o aparente cosmopolitismo de alguns jovens vultos do PS local mas, ao começar a escrever o texto, apeteceu-me alargar o seu alcance.
Na verdade, comecei a pensar que a adesão dos jovens aos partidos é um bocado como a simpatia pelos clubes de futebol: é tanto maior quanto o sucesso da equipa. Sem o sucesso do Porto desde finais dos anos 70 era impensável haver um número razoável de miúdos adeptos do Porto abaixo do Mondego nos anos 90. Assim como a atracção do Sporting diminuiu muito para a juventude no mesmo período.
Com as “jotas” dos partidos passa-se um bocado o mesmo. Só que é necessário considerar duas variáveis, a do sucesso a nível nacional (domínio do aparelho estatal central) e a do sucesso a nível local (domínio do aparelho autárquico)
Diz-me o meu irmão, já entrado nos 40, que no tempo dele (década de 70, após o 25 de Abril) na Moita e em Alhos Vedros só havia duas ou três hipóteses: a malta era do PC, da UDP ou do MRPP, quanto mais à esquerda melhor. O PS era de direita e o resto nem abria pio. Com o tempo, os do MRPP passaram-se quase em bloco para o PSD, os da UDP ficaram na mesma (agora estão no Bloco, mas mais velhos) e os do PC alaparam-se às vantagens do poder local (um até já chegou a Presidente da Câmara).
Quando a nível nacional os ventos mudaram, assim se foram mudando as vontades e crenças de alguns (muitos!!!).
No meu tempo, fim de anos 80 e primeira metade de 90, assisti por cá e em Lisboa a fenómenos muito giros. Primeiro, tudo alaranjou; a seguir, tudo rosou. Agora, mais para o fim, tem sido a febre do Bloco de Esquerda, que ninguém percebe ser uma estrutura para os velhos mais velhos e empedernidos herdeiros dos anos 60, sempre ávidos de poder, captarem a juventude tenra e inocente (estes não comem crianças, mas gostam de jovens).
Como a nível local, o PC foi resistindo, os dilemas dos jovens do concelho da Moita foram muitos porque, se queriam vantagens imediatas a nível local, deviam permanecer em domínios tradicionais (no PC), enquanto se pretendiam carreiras mais promissoras a médio/longo prazo as apostas tinham que ser outras. A JSD teve o seu período áureo a meio do cavaquismo e muito foi o menino que se governou; quando a laranja começou a apodrecer, foi ver a migração juvenil (e não só, pois os seniores já foram jovens e sabem como as coisas se fazem) para o PS. Cá no concelho, com o avanço eleitoral dos socialistas, foi um ver se te avias de jovens a descobrirem a sua vocação socialista, versão guterrista, tudo a salivar pela hipótese de um sucesso, mesmo que à tangente, como no Barreiro.
Como a viragem nacional para o PSD foi muito rápida, e ainda está trémula, é mais seguro o pessoal apostar na rosinha e tentar dar nas vistas nas estruturas locais do PS.
Vem isto tudo a propósito de alguns textos que surgem na imprensa local de jovens activistas partidários de um socialismo que eu gostaria que me soubessem dizer qual é (o dos livros que o Soares pai guardou na gaveta e agora desenterrou ? o guterrista, versão católica ? o soarista júnior, que ninguém percebe ? o do Ferro, que tem inveja de não ser bloquista ? o da esperança pragmática do tacho local ?), que produzem aquele tipo de texto redondo, que não vai dar a lado nenhum, mas que satisfaz muito o ego por se ver a cara estampada nas páginas de um jornal (ou o que por vezes passa por isso) ou o nome impresso em letra de forma.
Com efeito, o discurso de alguns dos “jovens” actuais é muito pobrezinho pois, à falta de conhecimentos ou convicções, restam os lugares comuns ou as tácticas do momento com vista a alcançar ou manter o poder. Ou se refugiam em banalidades vagas de carácter geral (supostamente sobre o mundo), ou em banalidades vagas de carácter particular (supostamente sobre o concelho).
Vem tudo isto a propósito da leitura de dois textos de uma jovem luminária socialista do concelho que padece do chamado vazio de ideias coberto de muita conversa fiada com floreados inúteis ou redundantes.
Embora não goste de fazer acusações às pessoas, mas aos percursos ou às ideias, não posso deixar de identificar o jovem (é da minha geração, pelo que isto não se trata de paternalismo) Hélder Pinhão como um destes activistas políticos locais que com muita pretensão nada trazem de novo ao debate. No texto “Concelho da Moita – Uma responsabilidade de todos” (O Rio nº 153), HP perora sobre o oportunismo político das obras e publicações da Câmara Municipal da Moita. Ora bem, o caríssimo terá razão, mas nada disso é novo e até tem barbas brancas, para além de que está por provar que os socialistas sejam melhores, a avaliar por muitos exemplos de autarcas socialistas com a camarada Edite à cabeça, condenada por aproveitamento indevido de publicações autárquicas para fins eleitoralistas, seguida da camarada Fátima (em fuga aos tribunais), do camarada Abílio (preso no momento em que escrevo e me lêem) ou dos camaradas Narciso e Manuel (prontos para formar milícias de peixeiras em Matosinhos). Por isso, estas superioridades morais de quem tem o rabo mais que preso não ficam lá muito bem, mas sempre se pode tomar a coisa por ignorância da juventude ou falta de leitura da imprensa nacional.
Quanto ao texto “As Europeias” (Jornal da Moita nº 209), em que o jovem já se assina como “autarca” (bela profissão) entramos já no domínio da pura exibição do lugar-comum mais rematado sobre temas de dimensão nacional. Não sei se a publicação destes textos dá créditos para a subida nas estruturas partidárias, mas é o que parece. A defesa da imagem do cartão amarelo ao governo é feita com uma subtileza e uma riqueza argumentativas ímpares, conseguindo-se em poucos parágrafos uma acumulação de clichés que o Jorge Coelho ou o João Soares, apesar da prática, teriam alguma dificuldade em igualar. Populações espoliadas, pânico dos agentes económicos, falta de sensibilidade social, expectativa do ser humano, obsessão do défice, hipotecar a saúde, são tudo mimos que, mesmo que referindo-se a realidades, podiam ser menos rasteiros e óbvios. Por uma vez, podia-se tentar a via da originalidade, sei lá, de uma ideia própria que não papagueasse a cartilha. Enfim, é o que se pode arranjar nos tempos que correm.
Se o último governo do Guterres e este do Durão é o que se arranja para governar o país nos dois maiores partidos do sistema (mais o PP), o que se poderá exigir das esperanças autárquicas locais ?
Então o parágrafo final, de crítica à CDU, é um outro espectáculo do que estas esperanças socialistas consideram ser discurso de combate político

Nota final: Já repararam que não há líder da JS que algures antes dos 30 anos não se passe para o Parlamento Europeu, como estratégia para governar a vidinha ? Ele foi o Tó Zé Seguro (já é quase um veterano, esta jovem ex-esperança), ele foi o Sérgio Sousa Pinto (aquele empertigadote que parece querer assumir a herança do Marocas), ela é a Djamila Madeira (que bem gritou até ficar em lugar elegível). Só não me lembro se foi o Sócrates, mas de calhar apenas foi a excepção que confirma a regra.

José Silva

segunda-feira, junho 14, 2004

Eleições - comentário

De acordo com os resultados, o pessoal em Alhos Vedros foi votar acima da média do concelho, pois votaram 41,17% dos inscritos na freguesia contra 38,57% no concelho.
Poderia fazer comentários sobre o elevado civismo dos alhosvedrenses, mas eu também me abstive, o que contribuiu decisivamente para que o MPT descesse de 27 para 25 votos em relação a 1999.
Mas, confessemo-lo, estava calor e tinham-me convidado para uma caracolada.
Para além disso, o Roldão Preto e Manuel Pedro não param de dizer que temos que formar o Partido Restauracionista Alhosvedrense (ou algo parecido) e votar em outro partido era coisa que cheirava a adultério pré-conjugal. E, para votar em branco ou fazer um boneco malcriado no boletim, preferi ficar sossegado.
Só gostava de saber quem são os 7 resistentes do POUS, os 8 açorianos distraídos do PDA ou os 15 neo-fascistas do PNR. Quanto ao resto, a coisa tá perigosa pois o Bloco de Esquerda ficou a menos de 90 votos da Força Portugal. Mesmo com aquele desdobrável em que diziam que eram eles que batiam mais forte e depois mostravam fotos de prisioneiros iraquianos é uma proeza. Quanto ao resto, rosinhas xuxalistas e vermelhuscos andaram taco a taco. A coisa promete para as autárquicas. Para finalizar, nada como assinalar o crescimento dos amigos do Leonel Coelho (vulgo PCTP/MRPP, e quem souber o significado completo da sigla sem erros ganha uma senha para a Feira do Livro)que subiram de 102 para 104 desde 1999 (os votos foram 103 e 105, mas penso que ele também votou).

Eleições - Serviço Público

Pronto, as eleições já acabaram. Se quiserem ver os resultados em Alhos Vedros, sigam o link.

sexta-feira, junho 11, 2004

Novidades

Anuncia-se para breve o regresso do José Silva ao nosso blog com um texto sobre o "cosmopolitismo xuxalista", o qual versa, como deveis calcular, as pretensões que alguns adeptos socialistas da região têm de grande cosmopolitismo intelectual.
Não é para aguçar a curiosidade, mas a coisa adivinha-se verrinosa.

quinta-feira, junho 10, 2004

Há tradições e tradições

Na Moita a tradição em Maio é andar-se atrás ou à frente de touros +pelas ruas da terra.
Em Alhos Vedros a tradição é comprarem-se livros na Feira do Livro da Academia, pobrezinha, mas honrada.
Há tradições e tradições.

segunda-feira, junho 07, 2004

Figuras Desprezíveis e Louváveis, parte II

Saudações Restauracionistas de Roldão Preto !

Figuras Desprezíveis: Vitor Cabral (o rei camaleão)

A ascensão política de Vitor Cabral, presidente da SFRUA de Alhos Vedros (A Velhinha) deve-se à sua grande capacidade de mudar de cor, consoante se mudam
os tempos. Começou no PSD, que o designou nos princípios da década de 90 do século 20 como cabeça de lista para a junta de freguesia de Alhos Vedros.
O vento mudou... e ele mudou...
Quando entra Guterres e o País parecia ter ficado todo rosa, Vitor Cabral acompanha a evolução dos tempos e torna-se "XuXaLista".
Nas últimas eleições autárquicas dá a cara pelo PS, mas consta que também sondou a CDU para um possivel lugarzinho de vereador, porque os tempos começaram a correr mal para o PS...
Com quase todo o espectro político esgotado, agora só resta a Vitor Cabral o BE o PP e o MRPP, mas esse em Alhos Vedros já tem um rei...
Resta a Vitor Cabral esperar que O PS local ganhe as próximas eleições autárquicas, o que se aparenta tarefa difícil por estar minado com tantas contradições e aliado ao facto de se prever a médio prazo, o aparecimento de uma lista restauracionista, para a independência do Concelho de Alhos Vedros.

Figuras Louváveis: Manuel Tavares (um amigo do mar)

Por vezes há nortadas do lado de Palmela, diz o Manuel Tavares a rir, esta atitude perante o rídiculo da vida aliada ao conhecimento das artes do mar,fazem deste senhor um verdadeiro patriarca do cais de Alhos Vedros.
Quando passamos pelo cais de Alhos Vedros, sempre nos deparamos com este indivíduo.
Sempre descalço, os seus pés são uma ferramenta dura e robusta, diz-se no cais que quando ele calça sapatos, estes têm tendência a rebentar.
A ironia perante as adversidades é uma arma que só os sábios possuem, a capacidade de sabermos rir de nós própios é para alguns uma questão de sobrevivência.
O poder da actuação !
A teoria é nada, a acção é tudo !
Manuel Tavares busca o espírito de entreajuda entre os utentes de barcos típicos em Alhos Vedros.
Quem no cais velho nunca pediu ao Manuel Tavares que abrisse uma vela que apanhasse um cabo...
O desenrolar dum cabo é coisa digna de ser vista...Quando o Manuel o faz.

A constante vida ribeirinha.

As fases de desenvolvimento do MODECOCA

Este texto destina-se a aprofundar a análise inicial, superficial, daquilo que entendo por MODECOCA – Modelo de Desenvolvimento Económico do Cafezinho.
Como em outros objectos de estudo das ciências económicas e sociais, também o MODECOCA se caracteriza por alguma complexidade conceptual, sendo necessário distinguir as suas diversas fases, à semelhança da industrialização ou mesmo dos modos de produção.
Nesta perspectiva, o MODECOCA caracteriza-se por três fases de desenvolvimento, num sentido ascendente de sofisticação mas que podem coexistir no tempo, em diferentes espaços, ou numa mesma unidade de espaço, conforme adiante veremos.
O MODECOCA I corresponde à fase inicial do processo em que o cafezinho/bica é servido na sua formulação mais básica, com chaveninha, colher e embalagem de açúcar, servindo para suprir as necessidades mais básicas do consumidor, o qual se caracteriza, por sua vez, por alguma simplicidade, quando não rusticidade. Este consumidor, quando regular, pode completar a sua bica com a leitura dos principais títulos de A Bola ou Record (homens) ou da TV 7Dias, Nova Gente ou 24 Horas, quando disponíveis em cima de uma das mesas do estabelecimento, seguindo-se comentário em voz alta com os(as) acompanhantes, bem como o sacramental cigarrinho que se aprendeu a fumar na saída da infância, início da adolescência quando isso era sinal de se ser “fixe”. Em alguns casos, com destaque para os meses do ano com temperatura média acima dos 20 graus tende a aparecer de calção, t-shirt ou camisola de cavas e sandalocha (homens) ou então com calça de lycra coleante de cor viva, maquilhagem generosa e cabeleira (quase legítima) loura (senhoras). É esta a fase dominante, se não exclusiva, em Alhos Vedros.
O MODECOCA II, fase seguinte, surge com o início da sofisticação do serviço: já se oferece um chocolatinho com o café e, por vezes, existe um recipiente com pauzinhos de canela para mexe o líquido, assim lhe transmitindo um aroma mais rico. O consumidor regular que escolhe este serviço já tem pretensões mais cosmopolitas e, para além da imprensa fornecida pelo estabelecimento, chega mesmo a comprar um jornal ou revista que leva para ler, ou mostrar que lê, em especial ao fim de semana. O Correio da Manhã é uma opção, chegando-se mesmo a ousar o Diário de Notícias. As senhoras optam pela Caras, Lux ou Vip. O calção e a sandalocha já rareiam, mas o gel azeiteiro espreita à esquina de braço dado com os óculos escuros, mesmo em dia de nevoeiro. Contam-me que em alguns locais da Moita esta fase já chegou, demonstrando a faceta cosmopolita da urbe.
O MODECOCA III, por fim, já é uma fase de grande desenvolvimento e sofisticação do modelo, pois acarreta o serviço de variantes complexas da velha bica, como o capuccino, mokaccino ou mesmo, delírio total, um irish coffee. Esta é uma fase ainda só atingida em bolsas espaciais diminutas, e fora dos limites do concelho da Moita, sendo necessária a deslocação a centros comerciais das redondezas. Aqui o público é claramente mais cosmopolita, pois já consomem o Público e o Expresso (as senhoras arriscam uma Máxima, uma Holla em castelhano), conheceram o interior de um cinema já neste milénio e sabem que a FNAC já não é uma marca de ares condicionados. O gel impera, em camadas generosas, o óculinho escuro é de marca de renome e, no caso do belo sexo, a indumentária procura mimetizar o estilo jovem e fresco de Cinha Jardim ou mesmo da astróloga Maya. O porte é altivo e a atitude de domínio. Já se conduz apenas carro de marca alemã, e turbodiesel, estacionado em diagonal no espaço reservado aos deficientes ou às motas. Encontramo-nos, portanto, já na fase final da evolução, no topo da pirâmide social suburbana. Em Alhos Vedros, esta fase é apenas uma miragem (só mesmo para estrangeirados) e, no conjunto do concelho, um objectivo a alcançar em duas gerações. Por enquanto, resta ir a um estabelecimento de um qualquer Fórum da Margem Sul ou ousar atravessar o rio e visitar Lisboa.

António da Costa, 6 de Junho de 2004

domingo, junho 06, 2004

Comentários breves

No último nº de O Rio o Carlos Vardasca bate no Titta Maurício com um texto que segue em muito a lógica da nossa réplica neste blog ao texto de TM sobre o 25 de Abril.
Das duas uma, ou o Carlos anda numa linha de raciocínio muito próxima da nossa (o que é possível) ou então recebeu inspiração na leitura do nosso blog (também é possível).
Não é que a primeira hipótese não seja razoável mas, no caso da segunda, aceitamos que prá próxima nos dê um pequeno creditozinho.

Quanto ao Jornal da Moita contém um texto do antropólogo Vitor P. Mendes que pretende responder em parte ao Manuel Pedro e, não sabemos, ao texto que já tinha sido publicado aqui pelo António da Costa e entregue para publicação n'O Rio. A análise ao texto em causa não nos cumpre, pois o A.C. é que está a preparar a coisa, mas desde já se sublinha que, na palavra de um seu defensor, a tradição taurina da Moita é uma forma de a terra não ser apenas um dormitório de Lisboa. Agora sabemos que é um dormitório, mas com touros à solta duas vezes por ano.
Boa onda, como diria o Unas.

Por fim, o nosso fotoblog está com mais umas imagens que valerá a pena ver.

sexta-feira, junho 04, 2004

Brigado, brigado

O nosso leitor Guerreiro (não confundir com Luís Guerreiro, o azulejista que há umas semanas nos enviou colaboração)faz-nos um elogio e chama a atenção para outro dos escândalos que há anos marca Alhos Vedros, ou seja, o desparecimento do campo de jogos do CRI com justificações mais do que insatisfatórias.


Desporto em Alhos Vedros

FINALMENTE, alguma coisa boa para Alhos Vedros(este blog), espero que continuem, não parem por favor. Gostaria de felicitá-los por isso.

O que se passa com o desporto a nivel do concelho da Moita é outra vergonha. Porque continua o C.R.I.(www.cri.web.pt) sem ajuda para o campo de jogos, aquele que foi aprovado há anos e que não avança nem por nada.
Neste ultimos tempos, já avançaram o complexo desportivo de Sarilhos Pequenos, o Campo de jogos do Moitense, o Campo do Banheirense e um projecto no Vale da Amoreira. Todos esses apareceram depois do CRI.
Será que se esqueceram de Alhos Vedros?


Cumprimentos

Guerreiro

quinta-feira, junho 03, 2004

Não esquecer

Para colaborações e protestos aqui vai o nosso endereço avedros@clix.pt.
Ultimamente a caixa anda cheia, mas mais de metade são mensagens com vírus. Anda para aí moiteiro rebarbado a tentar vingar-se.

Salsaparrilha ao Poder

Na sequência do que se passa com os novos matadores moiteiros, também nós vamos iniciar o nosso movimento para que novos matadores, neste caso alhosvedrenses, consigam a alternativa.
Vamos começar pelo apoio a Salsaparrilha, o nosso melhor matador de moscas. Irá correr uma petição para juntar fundos para que ele faça uma viagem de estudo e trabalho a uma zona tropical em África ou na América Latina onde consta que existem as maiores moscas do planeta, para que ele se exercite, treine e aperfeiçoe.
Na calha, está ainda Coroconita, jovem de 10 anos que já revela imenso potencial como matador de pulgas, outra especialidade que carece do devido reconhecimento e apoio oficial.

Justiça seja feita

O jornal «O Rio» publicou, enfim, o texto do nosso colaborador António da Costa sobre as tradições tauromáquicas moiteiras.
Bem haja ao director, sr. Brito Apolónia, pela coragem.

terça-feira, junho 01, 2004

A bica como motor do desenvolvimento local

Embora não seja caso único, Alhos Vedros é um exemplo daquilo a que se pode chamar (e deveria ser objecto de estudo académico) com propriedade o modelo de desenvolvimento económico da bica.
Esclareçamos, desde já, o conceito. Por modelo de desenvolvimento económico da bica/cafezinho (MODECOCA) designo o modelo em que a economia de uma zona (localidade, concelho, região, país) assenta no comércio do cafezinho servido em chaveninha, com pires por baixo, colherinha e pacotinho de açúcar, incluindo nos estádios de maior avanço o pauzinho de canela e um chocolatinho como brinde (em Alhos Vedros ainda não chegou a esta fase). Na fase final do desenvolvimento, inclui-se a hipótese do comércio de capuccino, mokaccino e afins.
Nas zonas em que o MODECOCA se inscreve e se torna o motor da economia, todos os sectores tradicionais da economia faliram: a agricultura desapareceu, a indústria faliu e o comércio e os serviços definham.
Como é fácil constatar para quem vive em Alhos Vedros há algumas décadas, este é o retrato perfeito do panorama económico alhosvedrense sob dominação moiteira.
A agricultura não existe, por muito que brade aos céus um vereador contra a PAC. Existe alguma produção de palha em terrenos meios deixados ao abandono, mas isso não conta. Ao contrário de outros concelhos com zonas rurais e com potencial agrícola, no concelho da Moita só se cultivam urbanizações.
A indústria faliu nos seus principais sectores, a cortiça, por definhamento, os têxteis, por ganância patronal e irresponsabilidade/incompetência política. Depois da fase em que se instalaram em velhos armazéns (origens da GEFA, BORE, HELLY-HANSEN, para não designar as várias mutações que assumiu a Lander), chegou a da expansão em enormes edifícios pré-fabricados de mau gosto, inscritos em zonas habitacionais contra quaisquer padrões urbanísticos (a centopia disforme que se tornou a Helly-Hansen) ou que deviam ser protegidas em termos de paisagem (a GEFA/GUSTON quase engoliu a beira-rio junto ao Cais e a Igreja). Acredito que alguém ganhou com o negócio e as autorizações dadas para a expansão à custa de subsídios comunitários. Quem lá trabalhou nesta fase, ganhou menos do que mereceria pelas condições em que fez esse trabalho. Depois, vieram as pseudo-falências e fechos justificados com as consequências da globalização da economia e a deslocalização das empresas. Nada que não se pudesse antecipar e que deveria ter aberto os olhos dos autarcas moiteiros (a começar pelos alhosvedrenses assimilados pelo poder), mas que foi ignorado em nome de “interesses”, de quem em concreto não se pode dizer, por causa dos processos judiciais. Agora restam “monos” esventrados a grande escala para recordar esses tempos áureos em que a CEE pagou muito carrinho novo e lubrificou, rejuvenescendo, algumas contas bancárias. Entre-se do lado da Moita (Helly-Hansen), do Barreiro (Corticeira Ibérica, Gefa) ou circule-se pela terra (Bore, velhos barracões das corticeiras) temos direito a visões semelhantes às de uma povoação abandonada após uma qualquer guerra; aliás, se seguirmos do Barreiro ou do Vale da Amoreira para a Moita pela estrada, o que mais se vê da terra são ruínas.
O terciário, por seu lado, nunca passou da cepa-torta, cada vez mais torta com a concorrência banheirense nos anos 70 e das grandes superfícies desde fins de 80. À semelhança de Portugal no mercado global, também o mercado interno de Alhos Vedros não chega para manter um comércio próspero, sendo nulo o seu potencial de atracção para as populações circundantes.
Ficámos, por isso, reduzidos aos numerosos cafezinhos de esquina e vão de escada, agora em que até as tradicionais tascas se tornaram relíquias da memória.
Com poder económico baixo e margens para gastos curtas, mas muita vontade de não fazer nada de útil, falar do irrelevante, roçar o traseiro por cadeiras alheias, mirar e ser mirado(a) pela vizinhança, o(a) alhosvedrense típico(a) aderiu ao modelo de comportamento da modernidade suburbana, migrando para os cafés em diversos períodos do dia, de manhãzinha («é para acordar, que eu sem um cafezinho não faço nada»), a seguir à refeição («é para a digestão») ou em qualquer outra parte do dia/noite («é para espairecer um bocadinho»).
Assim nasceu e se expandiu o MODECOCA, fonte da única actividade económica que nas últimas décadas se expandiu em Alhos Vedros e parece capaz de resistir, mesmo que com crises ocasionais, à transição para o novo milénio.
Um modelo secundário (o MODECOCERTRE – Modelo de desenvolvimento económico da cerveja e tremoço), para além de ser mais difícil de pronunciar tem uma natureza mais sazonal e um potencial menor de crescimento pois, mesmo que existam heróis que começam um dia com a “bejeca e tramoço” e cada vez mais mulheres alinhem, o seu período forte está associado ao aumento da temperatura, à época dos caracóis e ao período vespertino. É um bom complemento ao MODECOCA mas não tem condições para o substituir.

Em texto(s) posterior(es), aprofundaremos algumas destas questões que, como dissemos, deveriam merecer estudo académico, da teoria económica à psicologia, não esquecendo a antropologia e a sociologia.

António da Costa, aos 31 dias de Maio do ano da graça (graçola !) de 2004