sábado, outubro 30, 2004

Sobre António Hipólito da Costa

Acerca de um pedido que nos foi endereçado pelo nosso leitor Guerreiro (não nos esquecemos!!!) acerca do 1º visconde de Alhos Vedros, António Hipólito da Costa, embora tenhamos procurado elementos em dicionários biográficos de final do século XIX e inícios do século XX ainda não encontrámos nada de conclusivo.
Mas continuaremos a procurar.
Na pior das hipóteses, se ele foi nomeado por documento oficial, há-se encontrar-se a respectiva titulação na Chancelaria Régia.

quinta-feira, outubro 28, 2004

Figurões locais – O Anti-Medíocres

O antropólogo local de serviço, Vitor P. Mendes de seu nome, está triste e desiludido, embora dinâmico, a avaliar pelo texto que lavrou no Jornal da Moita do passado 21 de Outubro.
Não sei porquê. Se tivesse sido ele a andar a tentar promover-se à custa do apoio incondicional a tudo o que metesse bois à mistura ou a fazer os maiores encómios à Escola de Toureio da Moita e a Armando Soares, até compreendíamos.
Mas agora o sôr antropólogo, sempre independente dos lobbies locais, não.
Se calhar ao verberar os medíocres como faz, deve estar a lembrar-se só de nós, que invejamos o seu brilho (para citar a sumidade nesta matéria de combate à mediocridade, o José Tatiano Castelo Romanovo Branco).

quarta-feira, outubro 27, 2004

Desculpem lá

Eu sei que andamos a fugir aos temas locais mas o que querem ?
O nosso país parece uma enorme Moita, com os seus figurões de 3ª a tomarem conta do poder e a fazerem tudo para varrer para baixo do tapete quem lhes faça sombra.

O Professor (com P)

Marcelo falou.
Mais palavras para quê ?
Não há paes pra ele.

Figurões com pés de barro II – O Durão

O Zé Manel foi prá Europa pensando que as coisas eram como cá no burgo.
Faz lembrar aqueles rufias de bairro que aterrorizam a vizinhança mas que, quando chegam à grande cidade, dão com os burrinhos na água porque já já há quem mande e que não está para aturar maçaricos.
O Zé Manel pensava que na União Europeia as coisas se resolviam como nas boas e velhas RGA’s, com voz grossa, murros na mesa e intimidação.
Lixou-se e lixou-se muito bem.
Assim se vê a pequenez dos nossos políticos.
Em vez de firmeza, o Zé Manel o que mostrou foi que não se conseguiu libertar dos favores devidos a quem o levou para lá.
Entretanto, saído o grande líder de 3ª, ficámos nós cá com as anedotas de 4ª divisão.
Nada como aguentarmos, porque cada vez há menos gente que os tenha no sítio e consiga chegar a lugares com poder efectivo.
Basta olhar para a nossa cenourinha que, com a mania que é british, entregou isto à bicharada.
Agora é esperar que a coisa rebente por todos os lados, porque mais fundo do tacho que isto, só mesmo quando começarmos a cair pelos furos para o próprio lume.

Figurões com pés de barro I - O Nobre

A situação vivida aqui perto, na Arrábida, com a investida do ministro Nobre Guedes é demasiado caricata e ridícula para ser tomada a sério. A menos que sejamos o pobre agricultor Feliciano Duarte, cuja casita de primeira habitação é um atentado à serra que as mansões do próprio sôr ministro e outros poderosos não é.
Nada mais feio em quem governa que alegar a legalidade da imoralidade, quando se vem de uma área que se advoga de valores morais.
Nem me irei alongar muito sobre a questão, de tão desprezível que é a acção do poder.
Seja a do poder central (popular) como do poder local (comunista).
São as duas faces de uma moeda gasta e com uma credibilidade tão escassa que já não há telheiro que esconda.
Apenas posso recomendar que sigam o desenrolar dos eventos através do jornal Primeira Página (já aí temos o link ao lado) e que tentem obter a edição de 15 de Outubro onde o turvo da situação surge com alguma clareza.
No Alhos Vedros Visual incluímos o texto do director do dito jornal, Luís Bandadas, acerca do assunto e por agora omitamos mais comentários.

De uma vez por todas

Para acabar, pela minha parte, de vez com a questão do aborto/IVG, vou organizar a minha tréplica a Titta Maurício em pontos breves divididos em duas partes:

1) Sobre o contexto da censura em Portugal:

a) A sua fixação no período republicano, com destaque para AfonsoCosta/Partido Democrático/Maçonaria/etc, como o da criação de braços-armados contra a liberdade de opinião carece de alguma perspectiva histórica. Com efeito, parece falhar, ali perto, o período do franquismo na fase terminal da Monarquia, para não falar do que se passou nas duas últimas décadas do século XIX. Por economia de espaço, escuso-me a demonstrar com aparato de erudição, porque julgo que sabe do que falo e só por lapso o não terá referido no seu texto.
b) Quanto a citar Júlia Leitão de Barros (a “Cuca” para os mais íntimos, círculo a que me orgulho de nunca ter pertencido, vai para trás, Satanás, bate na madeira três vezes) como autora “insuspeita”, deixa-me curioso quanto ao que define como “suspeito”. Mas enfim, isto é a chamada petite histoire da História. Não o sabia tão adepto de uma historiografia próxima do Bloco. Sempre é refrescante ver como as afinidades do clã Portas se reflectem no eleitorado das respectivas agremiações políticas.
c) Largue lá a beira da casaca do Dr. Soares. Raios, eu não sou o Sérgio Sousa Pinto. Estou-me nas tintas para o clã Soares. Respeito o homem como figura da História de Portugal, mas sei os seus limites humanos.
d) Deixe lá a história da ligação dos pretensos censores da I República do Barreiro com a PVDE. Em primeiro lugar, seria preciso prová-lo para além de um ou outro caso individual; em segundo, seria interessante saber onde foram dar os censores do Estado Novo no pós 25 de Abril; em terceiro, as histórias de censura explícita ou implícita estão demasiado frescas na nossa memória e é demasiado fácil apontar casos de vira-casaquismo a figuras actuais da sua área política.

2) Sobre o aborto/IVG:

a) Só o recurso a argumentos religiosos permite fazer separações absolutas entre (o valor d)a vida humana e (de) outras formas de vida, ao ponto de considerar um embrião de dias como uma pessoa formada e cuja sobrevivência é um valor absoluto a preservar, contrariamente a todas as restantes formas de vida que, no seu entrelaçado, formam o nosso ecossistema. Na ausência de uma fundamentação religiosa, somos apenas uma espécie animal a defender a sua preservação em detrimento das outras, o que é válido pelo seu imperativo prático mas pouco para consubstanciar elocubrações filosóficas muito profundas.
b) A ciência não é peremptória quanto à questão do momento em que um embrião deixa de ser um conjunto de células indiferenciadas e passa a poder considerar-se um ser com consciência da própria vida. O sistema nervoso começa a desenvolver-se às 6 semanas e termina aos 2 anos, diz-me. Acredito. Claro que ao fim de 3 meses já é óbvio que estamos perante um ser vivo que, se for interrompida a gestação, demonstra reacção à morte, mas isso acontece com qualquer ser vivo, até com uma planta. Para mim, é muito importante tentar perceber quando o ser, mais do que uma reacção simples à dor, já possui capacidade de se aperceber mesmo que de forma simples da sua “morte”. Pode achar chocante este meu tipo de comparações, mas essa é uma valoração moral sua.
c) Para mim, existem circunstâncias que justificam que, mesmo sem anomalias visíveis, seja preferível um potencial ser humano acabar por não sobreviver à gestação. Desde razões de grave involuntariedade dessa gestação (violação, por exemplo) a previsíveis condições de vida degradantes (caso de tantas crianças que vivem em situações de miséria, sofrimento e violência parental que chegam mesmo a mortes horrendas como o exemplo “televisivo” da Joana). Sou tendencialmente maltusiano porque considero que o crescimento da população não deve fazer-se de forma descontrolada, sem atender aos recursos e às condições de vida existentes. Sei que este foi um traço de algum discurso anarco-sindicalista de finais do século XIX, mas vivo bem com isso. Não significa isso que defenda posições eugénicas ou de esterilização forçada das pessoas.
d) Defendo, portanto, que por razões sociais ou de saúde, seja permitido aos pais (no sentido de pais e mães), recorrer ao aborto/IVG quando não existem condições para a sobrevivência da potencial criança com uma qualidade mínima suficiente. O prazo em causa (8, 12, 14 semanas) não consigo defini-lo.
e) As posições anti-aborto/IVG deveriam, para justificarem que não se baseiam apenas na imposição de ideias religiosas, desenvolver acções de esclarecimento junto das populações, prevenindo-as contra a gravidez indesejada, e não apenas apoiando quem já está nessa situação. Porque a verdade é que os movimentos pró-vida, na sua quase totalidade, defendem um posicionamento restritivo quanto à vida sexual dos indivíduos, confundido “sexualidade responsável” com a sexualidade como função humana tendente quase em exclusivo para a reprodução e não para a fruição. Negar isto é negar uma evidência.
f) Fica mal utilizar expressões como “gajas nas ondas” a quem se apresenta como defensor de uma discussão séria. A mim, que tenho a mania que sou engraçado e que nem gosto das senhoras, ainda vá, mas a si, conservador e defensor de firmes valores morais, fica muito mal rebaixar os adversários por via do desnecessário desvirtuamento da sua designação.




terça-feira, outubro 26, 2004

Abaixo a Cabovisão

Fui selvaticamente atacado por uma equipa (certamente formada por infiltrados moiteiros) instaladora de Internet/IPhone da Cabovisão que, para além de não me instalar a net por cabo, ainda me ia destruindo todo o sistema do computador, deixando-me sem acesso à net durante o resto do dia até que, heroicamente, consegui salvar as minhas definições antigas.
Mais um pouco e não havia salvação.
Abaixo a Cabovisão, pois, e a incompetência dos seus serviços.
Mais vale uma ligação telefónica na mão que uma por cabo pelos ares.

domingo, outubro 24, 2004

A Bosta Local

Na sequência da defesa da criação da RAITA (ver uns posts abaixo), gostaríamos de apresentar o projecto de um novo jornal local, patrocinado pelos poderes políticos e fáticos moiteiros, de seu título A Bosta Local.
Pormenores para breve sobre a administração, direcção e redacção.

Vamos todos ao AVV

No Alhos Vedros Visual entrámos em completo des(var)io de esquerda.
Apresentamos a nova candidata do PC à CMM em exclusivo a partir do areal do Rosário.
Vejamos se a camarada/colega/socrática Eurídice se mostrará à altura do confronto.

A propósito de "O triunfo da estupidez"

Em relação ao post que inserimos recentemente com este título da autoria de um nosso leitor, gostaríamos de acrescentar que o enviámos aos responsáveis da Escola D. Pedro II, mas que o mail indicado no site da Escola se revelou errado, tendo a msg voltado.
Por isso não temos contraditório do mesmo.
De qualquer forma, apurámos que a situação terá sido mais ridícula do que a descrita pois foram os próprios órgãos de gestão a adiar o pedido de intervenção dos Bombeiros, os quais só apareceram pelas 8 da noite, horas depois da ocorrência, por mera incúria do Conselho Executivo da Escola.

Propostas de Outono II

25 anos depois, a nova edição comemorativa do London Calling dos Clash.
Mais de 25 anos depois, a série Eu, Cláudio em DVD.
O último número da Atlantic Monthly (agora só The Atlantic, a revista que nos faz sentir mais inteligentes só de lhe passar as páginas) com um artigo de James Fallows sobre como a guerra no Iraque não ajudou a combater o terrorismo.
Para ler ainda, o novo policial romano de Steven Saylor, A Sentença de César, sempre ligeiro mas muito agradável.

TM de novo sobre o aborto

Com uns 10 dias de atraso incluímos agora um novo texto de Titta Maurício sobre o problema do aborto/IVG. Proximamente daremos qui a nossa última réplica sobre este tema, esperando que TM revele tanta riqueza argumentativa a propósito de temas do concelho da Moita e muito em especial da freguesia de Alhos Vedros. Continuamos com o problema de os textos entrarem sem a formatação original, pelo que algusn parágrafos, sublinhados ou itálicos não estarem como no original.

Caro Paulo,

Pedindo desculpa pelo atraso na resposta, mas a oportunidade de o fazer só agora surgiu. Assim, sem delongas, "ataquemos" o assunto.
1. Quanto às suas (não) resistências a tentações... meu Caro, melhor fazia se citasse o velho Donatien Alphonse François, o "Divino Marquês": ficava-lhe a matar! E, em termos de comportamento hodierno, sempre era mais compatível. Agora opta por citar textos datados e destinados a quem professa e pratica determinada orientação religiosa - a qual, como aqui revelou, nem é a sua... nem nenhuma! Mas, "prontos", cumpriu a função: teve a sua piada, rimo-nos todos... passemos em frente... ainda que, se me permite, me reserve a possibilidade de a esta questão regressar numa outra oportunidade.
2. Continuo a aguardar o resultado do "espumar" do "Roldão Preto"... agora dançar...?!? nunca foi o meu forte!
3. Sobre o seu "um ou dois pontos algo imprecisos": a censura prévia, institucionalizada (no seio do Estado) ou não, o certo é que existia uma "organização" como instrumento (tipo "braço-armado") da célula macónica que dominava e governava o Partido Democrático, de Afonso Costa! Falamos, é óbvio, dos grupos de "vigilantes" republicanos (os macabramente célebres "Formigas Brancas"), encarregados de perseguir, punir e matar os opositores de Afonso Costa, além de suprimir jornais de provincia e condenando à prisão e desterro algumas dezenas de elementos do clero (qual era a sua legitimidade? A não ser que, mesmo não "institucionalizados", merecessem o apoio do Estado). Deixe-me citar uma recente biografia deste "personagem" (da autoria da insuspeita Júlia Leitão de Barros): «No Verãode 1913 [quando da 1ª Guerra não havia nem suspeitas de poder eclodir], já Costa era conhecido como "racha-sindicalistas". Fecharam-se jornais e associações. Prenderam-se grevistas e dirigentes. Proibiram-se reuniões e comícios [nenhum destes eram perigosos reaccionários ou monárquicos...]». E, nesse período de ditadura encapotada, Partido Democrático e Estado era uma e a mesma coisa... Porém, em 1922, já terminada a guerra e depois da revolução radical de 19 de Outubro de 1921 (seguida da "Noite Sangrenta"), foi promulgada legislação que criava a "Polícia Preventiva e de Segurança do Estado", incumbida de averiguações de carácter preventivo e secreto, e destinada «à vigilância dos elementos sociais perniciosos ou suspeitos e ao emprego de diligências tendesntes a evitar os seus malefícios» [art. 1º, al. d) do Decreto de 22 de Outubro de 1922]. Em 1924 (através do Decreto nº 9620, de 29 de Abril) o Regulamento Policial dispunha que são competências da Polícia Preventiva: - a vigilância secreta sobre todos os indivívuos que se tornassem suspeitos ou perniciosos, quer fossem nacionais ou estrangeiros; - a vigilância secreta e preventiva contra as tentativas de crimes políticos e sociais; - a organização secreta dos cadastros de todos os indivíduos ou colectividades políticas e sociais, mantendo-os o mais completos possível; - empregasse as diligências tendentes a prevenir e evitar os malefícios dos inimigos da sociedade e da ordem pública. Como se vê, tudo princípios nobres e democráticos... assim o Dr. Soares usa classificar a 1ª República... Curiosamente, rezam as crónicas, a maior e a melhor "fonte de abastecimento" de colaboradores era o Barreiro e, paradoxalmente, a sua maioria foi incorporada na PVDE... mas isso são só pormenores! Quanto à censura prévia, ela existia, porém não estava autonomizada das funções da Polícia Preventiva (talvez daí o equívoco).
Mas o tema era outro e lá estou eu a tergiversar...
4. Quanto aos argumentos científicos de 1967: repito, apenas procurei provar que, ao contrário do que afirmou (que havia dúvidas na comunidade científica sobre a definição do momento do começo da vida humana e do valor do estádio intra-uterino), já em 1967 havia consenso entre a comunidade científica sobre essa matéria. E com isso desafiava-o a demonstrar que, desde então, havia sido produzida conclusão diferente ou contraditória! Sobre esta questão... não outra!
5. O "Comentário mais longo": a) o seu excurso pelos textos bíblicos ficam-lhe bem e dou graças por a eles se dedicar... mas, repito: não fui eu, não sou eu, nem serei eu a cair na esparrela de argumentar sobre esta questão (o aborto) com recurso à Bíblia ou a Tradição cristã! Não é essa a minha linha argumentativa, não invoco o nome de Deus para tudo. Por isso,... passo! b) Quanto ao excurso científico... nada! Ao pedido de apresentação de textos científicos (mais recentes) que manifestem sérias dúvidas sobre o momento do início da vida humana e da unidade desta desde o estádio intra-uterino até à morte, a sua resposta foi «Penso que já terão existido um par de iniciativas depois dessa e que se terá dado um ou outro avanço nos nossos conhecimentos»... Quais, quando e o que disseram?!? A explicação sobre o que é a vida... não responde à questão do início da vida! Apenas que a vida... é vida e que os materiais e as reações químicas entre eles são similares em todos os seres vivos! Quer isso dizer que matar o "Bambi" é o mesmo que matar um homem?!? A citação do Dawkins volta a pecar por falhar o alvo: nem sou moralista, nem tenho pretensões a teólogo, nem aqui procurei descobrir o momento do começo da alma! O desafio é determinar quando começa a vida humana! E a argumentação sobre os óvulos que terminam abortos prematuros expontâneos então é incompreensível... até porque se a questão são os muitos obstáculos que o ser embrionário tem ainda que ultrapassar... o mesmo se terá de dizer dos recém-nascidos... principalmente quando se verificavam taxas de mortalidade infantil elevadíssimas! Uma vez mais, um argumento interessante... mas que não prova que a vida humana não começa na concepção... mas apenas que as dificuldades na vida humana ocorrem já desde a concepção! c) Quanto ao Matt Ridley, diga-se a mesma coisa: a minha questão está na definição científica do começo da vida humana. A questão não está na alma nem nas desgraças nem na capacidade criativa humana... mas sim em saber quando começa a vida humana, pois, se não encontrar fundamento bastante que desminta que esta começa com a concepção, então o aborto será sempre uma forma de eugénica, pseudo-higiénica, de matar um ser humano... apenas porque é invisível ao olho humano desarmado e se encontra indefeso. A questão é saber se o que se "elimina" num aborto é uma "coisa" ou um ser humano; se já não é um "aquilo", mas um "aquele" (ou uma "aquela")! d) Novamente Ridley... e o facto de na afirmação se referir a Sua Santidade, o Papa, esta nada mais é do que uma opinião discordante com outra opinião (ainda que de fé) àcerca de o Homem ser ou não o apogeu da Criação! Mas, uma vez mais, da questão da definição do momento do começo da vida humana... népias! e) Quanto às citações de Richard Feynman, não nego (até porque perfilho) a ideia da não absolutização da verdade científica. Porém, até prova em contrário, não se pode simplesmente afirmar que os postulados científicos não existem. No caso em concreto, no estádio actual do desenvolvimento do conhecimento científico, tenho para mim que é consensual (ia dizer unânime, mas, como aguardo prova em contrário, não me atrevo...) que a vida humana começa com a concepção. Ou há uma demonstração científica (séria!) do contrário e então podemos discutir a questão, ou a mera evocação de dúvidas metódicas sobre as certezas da Ciência não têm cabimento... pode ser que pretenda estendê-las [as dúvidas]a toda a Ciência (o que seria interessante de ver... ou ler) mas, a bem da serieda intelectual, jamais as poderá aplicar apenas a uma questão em concreto! f) Sobre a declaração final de Feynman sobre a liberdade de investigação... nada (uma vez mais) a opôr... porque nada tem a ver com a discussão! Até porque, repito, o que o dado que introduzi é produto de investigação científica (não sei quem foram os sponsors). Aquilo que pedi foi documento contraditório de valor equivalente... e nem invoquei o Estado ou qualquer governo como prova científica... isso aplica-se melhor a outros sectores!
6. Sobre a "capacidade de sofrimento", não compreendo que lhe pareça estranho: porque seria o argumento final que destroçaria as hostes "pro-choice"! Aliás, não é por mero acaso que sempre que os "pro-life" apresentam imagens ou descrições do que é e como é, de facto, um aborto (sem os artifícios da semântica que a todos desculpa), surgem logos vozes histéricas com acusações de terrorismo e brutalidade demagógica. Porém, o mesmo critério não é aplicado aos seus: veja o site das "gajas nas ondas" e verifique uma foto de uma mulher a esvair-se em sangue (quiçá, já morta!) a simbolizar a consequência de um aborto! Aí são imagens de choque com objectivos esclarecedores e pedagógicos... é quase como se estivéssemos a ver uma foto do National Geographic! Quanto ao desenvolvimento do sistema nervoso central, o Prof. Gentil Martins (se não estou em erro) num artigo publicado aquando da histriónica vinda do "barco do aborto", informou que a sua formação se iniciava às 6 semanas e terminava 2 anos após o nascimento!
Quanto à sua frase final subscrevo-a e reproduzo-a: «ensinamentos a recolher de tudo isto: duvidar de respostas feitas apresentadas como absolutas, busca de informação, tolerância para com a a diferença, atenção à especificidade de cada situação/contexto, argumentação baseada em factos enão em crenças, busca de soluções equilibradas»!

Cumprimentos,

João Titta Maurício

A saga acaba por aqui - Figuras de Alhos Vedros

Fica provisoriamente por aqui a inclusão de excertos da história de Eláudio Tarouca, em especial da introdução que descreve Alhos Vedros dos anos 20 e 30 do século XX. Em outra ocasião poderemos continuar mas por economia de espaço ficamos agora por esta passagem.

Éh... Vila de Alhos Vedros... que saudades desses tempos que lá vão! Como ainda hoje recordo, e com bastante emoção, certos habitantes da pequena vila... entre eles o tio Ratinho e a sua mulher, a tia Josefa. O Zé Paradas, que diziam que era o galo das galinhas do tio Ratinho... e que, em paga lhe comia parte dos ovos... O Zé Viegas, que tinha uma mercearia, que apesar de pequena, tinha de tudo à venda e onde a limpeza andava brigada com a água e o sabão; o Malaguetas, onde se vendia bom vinho; o José Fulgência, mais conhecido por o «Papa Ratos» e que tinha um corvo ladrão, que roubava postas de bacalhau - quando o «fiel amigo» era comida de pobre- que o gorducho do Zé Viegas tinha de molho, dentro de um alguidar, para as vender fiadas às freguesas de última hora; o João Pingocho, agente de seguros; as famílias Cabrita, Manuel de Jesus, o Ponta da Unha, a tia Joana do Baralho, os Cochichos, o Palmelão, o Manuel Canas, o Zé Triste, o Paixão, o Virgílio Pereira, com a sua afamada orquestra, formada pelos seus filhos, a família Aquino... Como me lembro bem do dono do forno da cal, do chefe Grade, que era o chefe da estação de Caminhos de Ferro de Alhos Vedros, e os seus três filhos, o Daniel, o Zeca e o Eurico; o Lelito, o Marciano, o Zé Santos e o seu filho o Zé Eleja, que era o goleiro do Graça... a família Cantante, a senhora Ana, o marido e os filhos, o Mário, o José, a Amélia, que eram ali das Arroteias; o tio Pedro do correio, o senhor Ezequiel, da farmácia, o Henrique Racinha, que certa vez me quis surrar por eu andar de namorisco com uma cunhada sua, que era a Joana, irmã do António Amâncio, da Moita; a família Carlos Januário, o Pisco, o Chadiça e a sua complicada família; o Féria, fabricante de velas de sebo e fascista dos quatros costados... E como me lembro tão bem da família João Pinto, que tinha uma padaria ali no largo do jardim, mesmo em frente ao coreto... os seus três filhos, bastante meus amigos, o João, a Izaura e o mais novo. A Izaura, moça inteligente, activa, dinâmica, esperta, aquela bela e fresca moça que nem alface em manhã primaveril, bela e simpática rapari­ga, cujas carnes se adivinhavam ser de cantaria firme... mulher para homem nenhum botar defeito. À família Pinto, uma amizade sã e fraterna, o destino nos ligou e ainda hoje, sempre que a minha me­mória passa por Alhos Vedros, eu os recordo com aquela saudade pura e sincera com que a infância tempera as almas daqueles que só vivem para derramar sobre o seu semelhante sementes de bem querer, de paz e de amor... ou se calha a passar por lá... sempre os visita­mos com verdadeira alegria fraterna.
Também recordo o João capataz, as suas duas filhas, a Lídia e a Graciosa e o irmão, o Manuel, moço da minha criação. Recordo também o capataz geral e os seus filhos, recordo o Alfredo Simões, conhecido pelo nome de «fanista» e os seus dois irmãos, sem esque­cer o seu pai que, quando se embebedava, fazia rir toda a gente. O Cossa, o Carlos da Graça, o António Valentim, o Tolentino, a sim­pática Aldegundes, a Piedade e a sua irmã Rita... e tantas outras pessoas da vila, que me vêm à memória... mas que seria prolixo aqui enumerar.
Era, pois, num ambiente de perfeito atraso mental e de subdesenvolvimento, onde todos conheciam a vida de todos, inclusive até quase a íntima, e do que de tudo se faziam os mais torpes e mes­quinhos comentários, num maldizer colectivo... em que ninguém queria ficar a perder... que nos criávamos, que o Elaudo Tarouca também se desenvolvia e se fazia gente... gente como toda a gente.
E os anos se iam passando, alheios às misérias, aos desentendi­mentos e à falta de educação e de cultura e, principalmente, de ideias... os quais já começavam despontando... assim como o bro­tar de uma semente lançada à terra fecunda.
Aí pelo ano de 1929, eu, como trabalhava no Barreiro, nas ofici­nas Gerais dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste, fui morar para ali. A minha vida no Barreiro, pela influência recebida na con­vivência com os militantes do Sindicato Ferroviário, entre os quais cito os nomes de Miguel Correia, o Alfredo Carvalho, António José Piloto, Madeira, o Joaquim Figueiredo, o Adão, o Joaquim Venâncio, o Manuel dos Santos Cabanas, o Calapés, o Manuel José Hartley, o Artur José Pereira e outros, sofreu uma transformação radical, fazendo-me saltar do ambiente atrasado e mais interessado em bisbilhotar coisas da vida alheia, do que propriamente interes­sado na minha, para uma actividade constante, activa e cheia de novas emoções, que se recebiam da dinâmica vida Sindical, em que eu, de um dia para o outro, passara a conviver.

sábado, outubro 23, 2004

Em defesa da R.A.I.T.A.

Vimos por este meio propor a criação da R.A.I.T.A., a Rádio Antena Independente de Televisão Alhosvedrense. Quem achar mal o acrónimo, pense só que originalmente havia quem defendesse a fundação da RATA – a RÁdio Televisão Alhosvedrense.
A RAITA pretende-se uma televisão independente nos novos termos definidos pelo Ministro Morais Sarmento, ou seja, com perfeita independência das opiniões contrárias a quem governa.
Neste espírito, apresentamos desde já uma proposta de grelha que, pensamos, estará de acordo com os desejos de quem manda no concelho. Como a RAITA começará em período experimental, ainda só se prevê que emita das 8 às 24 horas.

8 horas – Alvorada com foguetório e marcha.
8.05Notícias da Moita – primeiro jornal com noticiário oficial local.
8.30 – Espaço para a pequenada (inclui as séries Noddy vai aos Touros, História da Tourada em Animação e Músicas Taurinas para os mais pequenos).
10.00Praça de Toiros – Espaço matinal destinado ao público-alvo maioritário nesta faixa horária, ou seja, donas de casa, reformados e desocupados. Incluirá rubricas do maior interesse, desde a gastronomia (“1001 maneiras de fazer rabo de boi”) até à música-pimba, garantindo-se a presença de todoas(as) organistas/vocalistas do concelho ou artistas eméritos de karaoke.
13.00Jornal da Moita – telediário informativo, em que se divulgarão todas as iniciativas previstas na propaganda, digo, Central de Comunicação, digo, departamento de informação da CMM. Também se divulgarão os momentos mais altos da agenda do Presidente e Vereadores com pelouros.
13.30 – Magazine Tauromáquico: programa dedicado em exclusivo à cultura taurina moiteira, demonstrando as suas raízes pré-históricas.
14.00 – Novela “No Rasto do Boi Perdido”. Produção local de grande qualidade com actores de renome na freguesia da Moita e arredores (nomeadamente no Carvalhinho e Chão Duro).
15.00Momentos Dourados – transmissões diferidas de touradas realizadas na Praça de Touros Daniel do Nascimento desde a sua criação em 2562 a.C. até ao presente.
17.00A História da Bosta em 100 partes – documentário histórico com a chancela das Produções Bostíferas da Moita e com o patrocínio da Cola Bostik. Apresentação de V. P. Mendes.
18.00 – Magazine Artístico – programa destinado à divulgação das sevilhanas, do flamenco e de todas as manifestações locais genuinamente tradicionais ligadas ao mundo taurino.
18.45Magazine Desportivo – notícias do desporto na Moita, com destaque para os clubes locais, como o Moitense, o Moitense e o Moitense. Os comentadores residentes serão Carlos Manuel e Diamantino Miranda.
19.15Espaço de Debate – Programa destinado ao confronto de ideiais e perspectivas sobre a tradição taurina moiteira. Painel fixo composto por Vitor P. Mendes, Armando Soares, Luis Procuna, Luís Chula e um 5º elemento rotativo escolhido de acordo pelos quatro elementos fixos e que concorde em não emitir qualquer opinião contrária às deles.
20.00Jornal da Moita 2 – Repetição do Jornal da Moita das 13 horas, acrescido de uma ou outra reportagem com elementos do executivo autárquico moiteiro.
20.30Conversas entre Tábuas – Comunicação diária ao concelho de sua Excelência o Excelentíssimo Senhor Doutor Presidente da CMM.
21.00 – “O Boi Manso” – Esplendorosa série de qualidade com os dramas amorosos de um casal da Moita nestes tempos de incerteza emocional.
22.00Noite de Cinema – grandiosos documentos essenciais da História do Cinema Universal começando com “Sol e Touros”, filme muito conhecido produzido algures no século XX com bastantes actores internacionais.
23.55 – Hino da Moita.
24.00 – Encerramento da emissão.
Das 0.00 às 8.00 – Mira técnica com o brasão da Moita e slideshow com imagens de gado bovino ao som de marchas taurinas

Em ocasiões especiais poderão prever-se transmissões desportivas, por exemplo de jogos da NBA com os Chicago Bulls. Para encher alguns momentos mortos da programação poderão passar vídeos musicais de acordo com o espírito da estação (caso do “Take a Bow” da Madonna).

(Pensamos que ao fim de uns meses de emissão, a lavagem ao cérebro dos alhosvedrenses já terá dado os resultados desejados.)

A saga continua - Futebol de outros tempos

(... continuação)

Na vila havia também dois clubes de futebol, o Graça e o Inter­nacional. Este, apesar do seu nome pomposo, era o mais pequeno e pobre. A sua sede era num barracão que existiu no largo onde se fazia o mercado mensal da vila e cujo dono a gente nunca chegou a saber quem era. Quando a reunião não agradava a uma das facções do Club, com uma paulada dada no gasómetro a carboreto, pendu­rado numa das traves do barraco, tudo ficava às escuras e, assim, acabava a reunião... e assim também, pouco tempo depois acabava o Internacional Futebol Club... que, a maior parte do tempo nem bola tinha e cujos jogadores, para puderem jogar, tinham de pagar uma cota mensal... e cujo campo era ali mesmo naquele largo do mercado, tendo a prejudicá-lo umas quantas oliveiras por ali espalhadas, contra as quais, na cegueira de correr atrás da bola, quantas vezes nos chocávamos contra elas...
O Graça, nos primórdios da sua existência jogava no largo da Graça. Daí o nome do Club. O seu campo de futebol estava muito longe de possuir as mínimas medidas recomendadas pelas leis da FlFA, entidade que, então, nem conhecíamos... nem fazia falta para ser tudo mais fácil.
De um dos lados do campo-se é que àquilo se podia chamar um campo de futebol - havia um paredão, a todo o seu comprimento, de uns quatro metros de altura, contra o qual, o jogador que tinha a bola nos pés, ao ser atacado pelo adversário, a chutava contra o muro, para a receber de volta mais adiante, e, assim, faziam todos. Esta facul­dade valia para os dois «times», porque, assim, antes do jogo ser ini­ciado, era acertado entre as partes e sua senhoria o árbitro, ao qual nós chamávamos de «referee», mas se pronunciava de «réfe».
Um dos paus da baliza, lá do lado de cima - e digo «lá do lado de cima» porque o campo do Graça Futebol Club tinha um declive de uma baliza à outra, de cerca de um metro - era o tronco de uma velha oliveira. Enquanto isso, a baliza do lado de baixo era com­posta de três paus, que eram seguros por adeptos do quadro que defendia a baliza. Por isso, quantas vezes, uma bola, ao dar a impressão que ia entrar no golo, as balizas eram puxadas para o lado contrário, o que, de vez em quando, resultava tudo terminar num baile de pedrada e de porretada de criar galo na cabeça de muita gente... e a minha que o diga, que, por duas vezes, teve de «ser levada» à farmácia para ser tratada. . .
Para maior descanso às leis de futebol da época e também porque não havia outro campo onde jogar, no meio do campo havia um poço, com um gargalo acima do chão, aí de um metro de altura, cuja água, puxada a corda e balde, servia para abastecimento da vizinhança, na lavagem de roupa e, muitas vezes, também para beber. Por essa razão o poço não podia ser tapado. Acontecia que, de vez em quando, no decorrer da partida, a bola ia parar lá no fundo do poço, o que causa­va risota geral a toda a respeitável assistência ali presente... e, entre baixar ao fundo do poço e recuperar a bola, lá se iam uns quatro ou cinco minutos, e às vezes mais, conforme o interesse do quadro, cujo jogador ou assistente ia recuperara a bola... até que um dia, um «grande sabichão», inventou, durante o jogo, tapar o gargalo do poço com uma rede, o que foi uma grande descoberta e maior facili­dade para a boa marcha do jogo.
Do outro lado do campo, o lado paralelo ao muro, havia um grupo de velhas casas, rés-do-chão, mais ou menos aí de uns três metros de altura, cujas telhas eram mais as quebradas pelas bolas que caíam em cima do telhado, que as inteiras.
Quando a bola era apanhada por um dos donos de uma dessas casas, ou quando a bola entrava pela casa dentro e fazia em cacos os objectos de enfeito havidos sobre as cómodas, aí o jogo parava, o jogo ou os treinos, e só depois do ajuste de contas, ante as lamúrias e a exposição dos prejuízos causados, é que a bola era devolvida, depois de muitas juras e promessas dos danos serem liquidados logo após o término do jogo, o que era feito diante de testemunhas...
Mas... como quase sempre esses jogos terminavam em pancadaria, principalmente quando o jogo era com a malta da Moita do Ribatejo, aquilo terminava em debandada geral, no meio de muita correria, muita porrada e algumas porretadas, que era ver quem mais se podia pôr a salvo... e as juras e promessas de pagamento ficavam para serem liquidadas no próximo jogo, ante os raios e coriscos dos prejudicados.
E assim eram. .. eram e devem ainda ser, todos os acontecimen­tos de todos os pequenos meios populacionais. Apesar de tudo, aqueles acontecimentos, analisados hoje, a tantos anos de distância, não só nos enchem de saudade, como também não deixavam de constituir motivos, cujos comentários davam vida à pequena popu­lação da vila.

(ainda irá continuar...)

sexta-feira, outubro 22, 2004

A saga continua - Alhos Vedros nos anos 20

(... continua do post anterior)

Quem puxava as cordas, que faziam badalar os sinos, era o velho Ricardo, um republicano da velha guarda, que pertencia à Junta da Paróquia da vila e que era um reformado, trabalhador carpinteiro dos Caminhos de Ferro. Ainda, e apesar dos tantos anos já passados, me recordo bem com que tristeza o velho Ricardo tocava o sino grande, quando, no tempo da epidemia, no Verão e Outono de 1918, quase durante todo o dia, os mortos, em certos casos famílias inteiras, iam a enterrar no pequeno cemitério, e ele, o velho e honrado republi­cano, que a todos conhecia, pobre também como Job, chorando, não parava de lenta mas intermitentemente, tocar o sino, no seu último adeus de sentimento aos amigos que a peste atingia e a qual, se bem me lembro, chamávamos de «pneumónica».
Época triste e difícil de relembrar foi aquela do final da Grande Guerra de 1914-1918... Grande Guerra que aqueles que especulam com as vidas dos povos provocam para se encherem de dinheiro... dinheiro que, dizem eles, é preciso ganhar... nem que seja honrada­mente!
Naquele tempo havia em Alhos Vedros um Club, uma Sociedade Filarmónica, com a sua respectiva banda, e bem afamada que era aquela banda de música, e dois Clubes de Futebol.
No Club, que era frequentado pela chamada «elite» da vila, davam-se récitas, bailes e outras festividades e também ali, durante a semana, funcionava uma sala de aula, correspondente à quarta classe, além de mais duas escolas oficiais, sendo uma dirigida pelo professor Gusmão; a outra, pela professora Dona Maria Assis, que morava em Setúbal e a qual eu frequentava.
O grupo dramático do Club era composto por amadores e, entre eles, podem ser citados o senhor Paixão, os dois irmãos Gameiro, o Luís e o João, o José VaIverde, que era o cómico do grupo, mais dois ou três elementos, cujos nomes já o tempo apagou da minha memória. A «artista», que era pau para toda a obra era uma cançonetista de Lisboa, de nome Elvira Guedes que, à falta de me­lhor desempenhava qualquer papel e até com agrado para a pouca exigente plateia da vila... mas que trazia a mulher do José Valverde com a pulga na camisola, desconfiada com a «artista»... lá isso trazia. Eu era o ponto e, de vez em quando, também fazia umas rábulas em determinadas peças, cujos repertórios já sabíamos de cor e salteado.
Como era impossível, naqueles tempos, uma moça da terra fazer parte dum grupo dramático de amadores!!! A moça que pisasse um palco... seria logo apodada de desonesta e sobre ela recairiam todas as maledicências das gentes da vila... Em terras pequenas, onde todos se conhecem, ainda é assim... ninguém tem confiança em ninguém. Vontade não faltava, a certas raparigas da vila, gente boa, para colaborar... mas o que não se falaria depois... o que não se inventaria de aventuras praticadas atrás dos bastidores, e longamente badaladas lá .no rio dos Paus, onde, no princípio de cada semana, se juntava o mulherio da vila lavando a roupa suja...? Mas como as garotas não queriam ficar «faladas»... para garantirem o casamento, então, mesmo a contragosto, ficavam de fora. .. criticando a Enviar Guedes. E hoje, como tudo já é diferente!!! E ainda me lembro bem como aquelas récitas agradavam a todos os sócios do Clube, que ali convivíamos como uma família. .. mas que às vezes, por dá cá aque­la palha... todos brigavam.
Um dia, por determinado amuo sem importância, como eram todos aqueles amuos, o grupo dramático levantou arraiais do Clube e se passou, com artistas, cenários, reportório e tudo o mais, para a Sociedade, então denominada Sociedade Filarmónica Recreio e Entusiasmo de Alhos Vedros. A Sociedade, com maior número de sócios que o Club, tinha, para a terra, uma boa banda de música, onde se salientavam o cornetista Alfredo Estrela, operário caldei­reiro nos Caminhos de Ferro e também músico dos «Franceses», uma outra grande banda de música do Barreiro. Havia também um óptimo clarinete, de nome o Manuel da Velha, um outro, também tocador de clarinete, o Bonzão e que tinha mais folgo que um gato, um flautinista, o Abílio, de Santo António da Charneca... e outros mais cujos nomes a esponja do tempo já apagou da minha memó­ria... abalada e varrida por tantos vendavais...
À Diretoria da Sociedade eu vim a pertencer, além pelos anos de 1925-1926-1927, na companhia do Virgílio Pereira, pai, que era o presidente, do Filipe Nery de Sousa e mais outros companheiros. Foi na nossa gestão, creio que no ano 1926, que se levantou a ideia da construção da nova Sede Social da Sociedade... a qual, hoje, lá está em Alhos Vedros, para atestar aos despeitados e maldosos, que duvidam de tudo, quanto vale o trabalho colectivo de um grupo de homens, quando animados por um ideal de amor à colectividade, de confiança nos homens, sempre que despidos de interesses mesqui­nhos e personalistas.
E a Sociedade lá está. Agora, compete às novas gerações torná-­la cada vez maior e mais acolhedora, no sentido da verdadeira fraternidade que deve existir entre os humanos.

(Continua...)

quinta-feira, outubro 21, 2004

Início do 2º ano

Para assinalar o início do 2º ano da nossa vida iremos inserir aqui a parte mais relevante para o passado de Alhos Vedros do texto de Manuel António Boto sobre as aventuras e desventuras de Eláudio Tarouca de que colocámos imagens do original dactilografado no Alhos Vedros Visual.
O texto que se segue é retirado da obra publicada há um par de anos pelas Edições Ribeirinhas e pela CACAV


A Saga de Elaudo Tarouca
Por:Manuel António Bôto

De Alhos Vedros a Leon 1936.1939
Alhos Vedros – Uma corrente com muitos elos.

Eu vou narrar um episódio que teve início poucos dias antes da guerra civil de Espanha, baseado na vida de um rapaz pobre, pobre de dinheiro, então quase analfabeto, que nasceu e se criou na peque­na vila de Alhos Vedros, localizada na margem esquerda do rio Tejo, vila que fica a cinco quilómetros do Barreiro. Trata-se de um moço que, então, teria uns vinte anos de idade, idade do topa-a-­tudo, filho do regedor da vila, o senhor Tarouca.
Chamava-se o rapaz em questão conhecido de toda a gente de Alhos Vedros, Elaudo Tarouca. A história que vou narrar, parte é tal e qual eu a ouvi da sua boca e mais tarde confirmada por outras pes­soas, rememorando detalhes que aconteceram tal como se enca­deiam os elos de uma corrente. A outra parte, essa, foi-se desen­rolando diante de mim e da qual fui testemunha e, por vezes, até per­sonagem presente em certos detalhes.
Eu o conheci. Era um moço alto, forte, sem ser gordo, olhos vivos, inquietos, brilhantes, daquele brilho mais que reflexo, cheios de uma vivacidade contagiante e quase que para além do normal e, em certos momentos, parecendo até que aureolado por uma lumi­nosidade que o transfigurava. Mãos enormes, todo ele forte de osso e de vontade, uma determinação marcava-o nas expressões faciais, lábios grossos, moço alegre, atitude vitoriosa, corpo firme numa armação óssea assente sobre uns pés marca 40, a determinar um equilíbrio perfeito e correcto do seu corpo.
Alhos Vedros era, aí pelos idos de 1917, era, porque até hoje se modificou muito, uma pequena vila de uns 500 habitantes, a maior parte composta de ferroviários, que todos os dias iam trabalhar nas oficinas gerais dos caminhos de ferro do Sul e Sueste, no Barreiro. Havia também operários corticeiros, muitos mesmo, que movimen­tavam as 8 ou 9 fábricas de cortiça, que ali se tinham concentrado, pelas facilidades do porto fluvial e da estação de caminhos de ferro com que a vila contava. Uma dessas fábricas, a do senhor Hermenegildo Ramos, um alentejano funcionário superior do Monte Pio Geral de Lisboa, era gerida pelo seu pai... e dizia o meu velho, até que com certo orgulho, que tinha nascido e sido criado sobre uma cama feita de pranchas de cortiça. Havia ainda trabalha­dores que mourejavam de sol a sol nas marinhas de sal, havia cam­poneses, dois professores, um médico, uma farmácia, dirigida pelo senhor Ezequiel, uma fábrica de vidros, um forno de cal, três ou qua­tro padarias, um correio, onde todas as manhãs íamos perguntar ao senhor Pedro, ou à sua filha, se tinha chegado alguma carta para nós. Havia ainda uns dois ou três sapateiros, umas quantas lojas e mer­cearias, tudo em estilo pobre e onde todas as compras eram anotadas no rol, para pagar no fim do mês. Havia também muitas, mas muitas mesmo, tabernas, onde se vendia vinhaça... e alguma dela até feita de uva e se jogava cartas, onde, por vezes os ardores do álcool e o jogo de baralho armavam cada desordem, ao ponto do regedor e os seus dois «cabos dordes» terem de intervir a porrete limpo que eram as armas então usadas, para separar os desaguisados contendores de ocasião.
Alhos Vedros tinha ainda uma igreja, até que bem grande e uma misericórdia, as quais quando da implantação da República, em Outubro de 1910, tinham sido fechadas ao culto católico, o único permitido na época. Me recordo bem, aí pelos anos de 1919, 1920, quando todos os santos, o altar-mór, azulejos, vitrais, púlpitos, pias de água benta e todos os paramentos da igreja, que fica mesmo ao lado do pequeno cemitério da vila, foram vendidos em leilão, numa disputa pouco limpa entre católicos e bricabraquistas, a ver quem dava mais, onde, quase sempre, os especuladores das casas de bricabraque levavam a melhor. .. E, assim, o grande casarão da igre­ja paroquial, por ter ficado abandonado, passou a servir para a rapaziada do meu tempo, lá dentro brincar. Os seus grandes sinos, enormes mesmo, só passaram a servir para, no dia da Independência de Portugal, a primeiro de Dezembro de cada ano, tocar a rebate fes­tivo ou para anunciar que alguma fábrica de cortiça de Alhos Vedros estava ardendo, chamando os bombeiros do Barreiro que, quando ali chegavam, só restavam cinzas. Isto acontecia numa época em que quase todas as fábricas da vila arderam. Como a cortiça, nessa época de grande crise, não tinha saída para o estrangeiro... o melhor com­prador era uma fogueira... depois... bem, depois o seguro pagava... não muito satisfeito, mas pagava. Parece-me que, das fábricas da vila, só na que o meu pai era gerente, nunca entrou o tal «senhor Fogueira», comprador por atacado.
(Continua...)

quarta-feira, outubro 20, 2004

Colaboração de Guerreiro

Caros Amigos,

Ao navegar pela net descobri isto em http://usuarios.lycos.es/ocamarro/lavradio.html

Descrição Histórica do Lavradio

Lavradio foi um priorado da Ordem de Santiago, que o rei D. Pedro II doou a D. Luís de Mendonça Furtado, vice-rei da Índia, que ali nascera. Deve-se também a D. Luís de Mendonça a elevação do Lavradio à qualidade de vila no ano de 1670, na mesma altura em que o rei o fazia conde do Lavradio.
No entanto, como o conde do Lavradio faleceu sem sucessores, a vila passou para as mãos da coroa, não chegando o Lavradio a ser concelho independente.
No Lavradio possuíam os cónegos de S. João Evangelista, de Lisboa, uma quinta de que obtinham bons rendimentos com vinhas e marinhas. Tinham também uma ermida dedicada a N. Sra. da Piedade. Com a extinção das ordens religiosas a quinta foi vendida e a capela profanada.
O Lavradio pertenceu ao antigo concelho de Alhos Vedros que foi extinto pelo decreto de 24 de Outubro de 1855, após o que passou ao concelho do Barreiro.
Foram famosos os seus vinhos, especialmente o Bastardinho.

Guerreiro

O triunfo da estupidez

O texto que se segue foi-nos enviado por um leitor enfurecido com uma situação ocorrida no fim da tarde de 3ª feira dia 19, na Escola Básica D. Pedro II.
Como tínhamos referido, não pretendíamos incluir nenhum texto durante a semana em que comemoramos o 1º aniversário que não se referisse a Alhos Vedros mas, como a semana está quase a acabar e a situação descrita é de tal forma ridícula, achámos que não seria de todo errado incluí-lo desde já.
Refira-se ainda que fizemos os possíveis por confirmar os factos junto de outras fontes, desde amigos professores na dita escola como outros pais de alunos(as), e que no essencial a história é fidedigna. O título do post, confessamo-lo, porém, é de nossa autoria.



Sou um vosso leitor ocasional e nunca pretendi colaborar mas a fúria que me enche é tal que este parece ser a única via que tenho para divulgar o que se passou hoje na Escola D. Pedro II, em que a minha filha anda.
Resumindo, fui obrigado a carregá-la às cavalitas às seis e meia da tarde, no final das aulas porque a entrada da Escola estava de tal maneira inundada devido à chuva que ninguém conseguia passar sem ser com água quase pelos joelhos. Explicando melhor, parece que durante a tarde as sarjetas foram ficando entupidas junta ao portão da Escola e quando choveu mais a água ficou sem escoamento e foi acumulando-se até impedir que as pessoas passassem para dentro ou para fora.
O Conselho Directivo da Escola não interrompeu as aulas antes de ser tornar quase impossível passar e no fim da tarde, quando se juntam muitos carros e gente à saída da Escola, estava uma confusão enorme. Os alunos que não se importavam de se molhar foram saindo mas muitas dezenas ficaram retidos e foi possível ser transportados ás costas ou ao colo dos pais ou de outros colegas para de lá sairem. Alguns pais como eu perguntaram à funcionária da entrada porque não abria o portão para irmos recolher os nossos filhos ao interior do pátio, mas a senhora disse que o Conselho Directivo não deixava que eram ordens superiores, que não podem entrar pessoas estranhas à Escola. Que era preciso esperar por quem viesse desentupir a coisa. O que não aconteceu durante pelo menos uma hora ou mais. Ora eu sei muito bem, porque já vi muitas vezes que entram carrinhas e outros carros na Escola quando é preciso, ambulâncias, fornecedores, etc, em situações de emergência e não só. Desta vez, os senhores do Conselho Directivo acharam que não era uma emergência terem dezenas de crianças (e professores que também os vi) retidos na Escola que só sairam com o risco de ficarem ensopados e adoecerem.
Claro que o eterno professor Fernando, com o seu ar de santinho de pau oco estava bem refastelado na sua cadeirinha à espera que tudo passasse para sair pelo que me disseram, porque ele não tem mais que fazer na vida. Como a Dulcinia, outra senhora professora que também só se lembra dos seus interesses e que eu bem conheci quando ainda tinha o nariz como os seus pais o fizeram. Infelizmente para mal da nossa Educação são pessoas como estas que mandam nas nossas escolas e esquecem os deveres mais simples de respeito pelos outros e pela saúde das filhas dos outros pois se fossem deles por certo que podiam entrar no seu carrinho porque não eram pessoas estranhas.
A estupidez desta gente não tem limites e deviam ser chamados à responsabilidade por alguém porque o que aconteceu ontem á tarde foi uma vergonha. De incompetência, de descuido e de desrespeito. Infelizmente o que se passa é que são sempre os mesmos a mandar e ficam anos a fio no poleiro que ninguém de lá os tira. Quando é preciso mostrarem o que valem é o que se vê.
Crianças ensopadas e obrigadas a meter os pés em quase dois palmos de água e a ficarem com sapatos, meias e calças todas a escorrer água. A minha escapou porque a fui buscar mas claro que quando liguei para o telefone da Escola não havia ninguém para me atender porque deviam estar muitos ocupados no quentinho do gabinete.

Os meus maiores obrigados se divulgarem esta minha carta porque sei que não é este um dos assuntos que mais vos interessam

José Manuel Ferreira.

Votos do Manuel Pedro

Já passou um ano, desde que o Blog: Alhos Vedros ao poder se instalou contra tudo e contra todos na vida local.
Quantos desejariam que a tranquilidade e o status quo se mantivessem nestas águas estagnadas que é o concelho da Moita.
Mas a história não se pode contrariar, o que nasceu errado, continua errado e o erro que foi cometido ao ser deslocada a sede do concelho de Alhos Vedros para a Moita, por motivos até hoje obscuros não se pode ser omitida e será sempre recordada a todos os habitantes do concelho, enquanto existir este Blog.
Não é por os Alhos Vedrenses não se manifestarem que o assunto está fora de questão.
Os condicionalismos inerentes à situação de quase ditadura em que temos estado depois do 25 de Abril aqui neste triste concelho é que tem condicionado e muito, a intervenção dos Alhos Vedrenses.
Sob a fachada de um poder de esquerda e com as bandeiras de Abril desfraldadas por todos os motivos e utilizando esse alibi, o PCP têm-se mantido no poder desde 1975, na Madeira, João Jardim é criticado por se perpetuar no poder desde 1978.
Aqui o PCP está desde 1975...
Já não há espaço para dúvidas , o poder no concelho terá de mudar nas próximas eleições e quem o vai receber de mão beijada é o PS, com os seus novéis Socráticos: Eurídice Pereira, José Capelo, Heldér Pinhão e o cata-vento, Vítor Cabral .
Em Portugal nem as moscas mudam, e estamo-nos a tornar um imenso merdaçal, em que todos tentam apresentar-se politicamente correctos e todos com raras excepções, são imensamente medíocres .
O poder que se seguirá ao poder CDU que tem dominado, vai-se confrontar com diversos problemas que vai herdar da anterior gestão camarária:
- Excesso de funcionários camarários
- Erros de Gestão: O não conhecimento da zona ribeirinha, Exemplos:
- O Dique da Moita
- O Cais Novo de Alhos Vedros
- O não tratamento dos esgotos

Acreditem que vai ser difícil gerir este município da maneira como o PCP o deixará...
Desejamos ao PS boa sorte, pois bem vão precisar.
Quanto a Alhos Vedros, continuará menosprezado pelo poder moiteiro, verá a sua situação piorar de dia para dia e terá de esperar até que um movimento popular se levante e faça de Alhos Vedros, um concelho autónomo e só assim poderemos construir um futuro em que sejamos de novo o que fomos no passado !
Até lá os poderes moiteiros podem mudar mas Alhos Vedros será sempre menosprezado, ... por vezes de tão menosprezado será potenciado...?
Só com a vontade dos Alhos Vedrenses é que conseguiremos este objectivo, mas até hoje só temos constatado a passividade e a apatia dos cidadãos.
Provavelmente, interesses que nos escapam serão mais importantes...
O que faz falta é animar a malta, como dizia Zeca Afonso que aqui no concelho tem imensas praças e parques e ruas com o seu nome e que sempre contestou o PCP, que após a sua morte o idolatrou.

Saudações Restauracionistas de Manuel Pedro
19.Outubro.2004

Especial 1º aniversário - Memórias de Alhos Vedros VI

Memórias curtas II

Ir ao Cinema

Infelizmente já há muito não é possível ir ao cimena em Alhos Vedros.
Não sei se esta terra já teve muito ou pouco, pelos padrões das diferentes épocas.
A verdade é que, durante a minha vida, tem vindo a perder bastante.
Uma delas foi o cinema a meio da Avenida Bela Rosa.
Podia ser pouco confortável com os seus bancos de madeira e correntes de ar nas canelas, mas existia e esteve lá até à década de 70 acabar.
A primeira memória que tenho de ir ao cinema é dele.
Tinha uns 3 ou 4 anos e foi o filme «Os 10 Mandamentos» de Cecil B. De Mille e até hoje penso que os meus pais me levaram, porque não me quiseram deixar sozinho ou na casa de ninguém.
Do que me lembro com mais vivacidade foi que quando os sacanas dos egícios tentaram atravessar o Mar Vermelho e as águas, que se tinham levantado para os judeus fugirem, se fecham sobre eles apanhei um susto de morte e quase me borrei todo.
Depois, ou antes porque confesso que até hoje não consigo ver o filme sem um arrepio de terror infantil, quando o Charlton Heston levantou as tábuas dos ditos mandamentos e se dão os trovões e relâmpagos que enquadram a gravação dos mesmo nas pedras, eu fugi que nem um perdido pela coxia acima, em pânico, porque pensava que o mundo estava para acabar e o céu para cair naquele mesmo momento.
A custo fui apanhado pelo meu pai já quase na porta de saída.
Levado a ferros para o lugar, lá fui estoicamente resistindo a tudo o resto.
Penso que este é o maior elogio que se pode fazer ao cinema. Ter-nos dado algumas das maiores emoções da nossa vida.
E a mim, a primeira grande emoção foi nesse dia no velho cinema de Alhos Vedros.

terça-feira, outubro 19, 2004

Especial 1º aniversário - Memórias de Alhos Vedros V

Memórias de outros tempos (1947)

Alhos Vedros nem sempre viveu na pasmaceira em que se tornou.
A história de Eláudio Tarouca fez-me recordar outra “estória” que me contaram sobre as gentes de Alhos Vedros de há muitas décadas.
As gerações mais antigas passaram por tempos certamente mais difíceis que os nossos, mas nem por isso perdiam o ânimo para comemorar o que verdadeiramente interessava, independentemente das consequências.
O episódio que em seguida passo a descrever, foi-me contado por alguém que viveu a maior parte do século XX na vila e aí testemunhou como se viveram em Alhos Vedros alguns dos momentos marcantes dessa centúria. Os detalhes, por vezes, podem escassear mas o essencial permanece.
Estávamos em 1947, quando a Segunda Guerra Mundial ainda há pouco terminara.
Um pouco por todo o lado, alguma alegria tomava o lugar do desânimo que dominara os anos anteriores.
Entre nós, acreditava-se que a vitrória das democracias ocidentais levaria a uma inevitável transformação ou substituição do regime vigente em Portugal.
Acreditava-se numa possibilidade de Liberdade política, de opinião e da sua expressão.
A esperança não tardaria a desaparecer com tudo o que envolveu a tentativa do MUD e do General Norton de Matos irem a votos mas essa é outra estória da História
A estória que aqui trago passou-se quando, com a desculpa comemorarem o segundo aniversário do fim da guerra, um grupo de alhosvedrenses decidiu organizar uma marcha até ao Barreiro.
Lá se fez a coisa, com homens, mulheres e crianças, alguns e algumas pensando que iam para uma festa, com bandeiras dos países vencedores da guerra, incluindo a da União Soviética e outras bandeiras vermelhas, mas claro que estas enroladas para não darem nas vistas. A marcha seguiu atravessando lentamente mas com entusiasmo o descampado com duas ou trêss casotas que hoje conhecemos como Baixa da Banheira.
Os informadores – os conhecidos “bufos” – da região eram conhecidos, mas isso não pareceu atemorizar os entusiasmados manifestantes. No entanto, aqueles fizeram o seu trabalho e contactaram a GNR do Barreiro que decidiram não intervir imediatamente no evento mas ver no que dava a coisa.
A certa altura, com a tarde a avançar, os espíritos animaram-se e aos gritos de “Viva a Inglaterra”, “Viva a América” e “Viva a França”, o pé começou a deslizar e saíram uns vivas à “Rússia” ou “União Soviética”. No entanto, socorrendo-se do seu bom senso, os organizadoires da marcha decidiram não avançar até ao Barreiro e fizeram marcha atrás junto do cemitério do Lavradio, avisados de que algo se estaria a preparar.
Foi então que, com a marcha de regresso e já cansada, os GNR decidiram avançar pela estrada do Barreiro apanhando toda a gente junto ao “Forno da Cal”, entre a linha de caminho de ferro, as salinas e os muros das fábricas que aí existiam.
Diz quem levou, que foi o fartote de distribuir cacetada entre o pessoal em debandada, com destaque para um dos tenentes que comandava os atacantes.
Quem foi mais lesto escapou por onde conseguiu, fossem buracos nos muros da fábrica, pelo meio da água ou fugindo para o outro lado da linha férrea, até que a fúria amainasse.
No centro da vila, quem lá tinha ficado ia sabendo do que se passava pelos que iam chegando com mais ou menos vergões no lombo, nas pernas e nos braços ou com a cabeça a sangrar.
Ao entardecer estava tudo disperso, menos quem no centro de Alhos Vedros esperava pelos seus, resistindo às ordens policiais para recolher a casa. Ocupada até à noite Alhos Vedros viveu horas de expectativa para saber o que se tinha passado com quem faltava chegar.
Quem me contou isto diz que só voltou alta noite depois de escapar a uns bons pontapés do dito tenente quando tentou, com ar de não ser nada com ele, dizer que tinha ido “à festa”.
Nos dias seguintes, cada um dos intervenientes tinha muito para contar, acrescentando os mais imaginativos todo o tipo de peripécias mais ou menos mirabolantes a um acontecimento que, já de si, tinha muito que se lhe dissesse.
Outros tempos, outras aventuras, outras emoções, outra fibra nos de Alhos Vedros.

António da Costa, Outubro de 2004

segunda-feira, outubro 18, 2004

Especial 1º aniversário - Memórias de Alhos Vedros IV

Memórias curtas I
(estas são minhas)

Fruta da época

Agora que a época do figo acabou e a das laranjas ainda não abriu estamos no tempo das romãs e dos marmelos, fruta por excelência dos Outonos que se vão fazendo frescos.
Agora, para nossa tristeza, quase já só compramos romãs e marmelos nos super e hipermercados, provenientes dos pomares e estufas de Espanha, preços perfeitamente estranhos para quem cresceu a apanhá-las(os) directamente das árvores.
Nas últimas décadas foram a pouco e pouco desaparecendo por completo as árvores de fruto espalhadas um pouco por todo o lado em Alhos Vedros, em terrenos descampados, em quintas, terrenos ou apenas simples quintais.
Outrora, por cá, quem tivesse pouca vergonha e duas pernas para saltar um muro nunca passaria fome de fruta. Desde as bolas atiradas nos jogos do campo da “Largada”, que o Filipe Fonseca aqui recorda noutro texto, para dentro do laranjal que ficava para nascente só para se pedir autorização para lá entrar e, atrás da bola, virem umas braçadas de laranjas, ao esgueiranço entre a cerca de um terreno/quintal junto à Rua da Bemfadada onde existiam as figueiras com os maiores figos que já vi, tudo valia.
Romãs tinha-as do terreno de um avô e marmelos do quintal dos outros avós, mesmo se crus nem os conseguia provar. No entanto, nada sabia tão bem como a fruta, proibida, alheia, acabada de apanhar.
Infelizmente, isso dificilmente as novas gerações conhecerão, salvo uma ou outra nespereira, a figueira sobrevivente que ficava ao campo onde se jogava à bola e um ou outro laranjal que ainda sobrevive, como o que fica junto à Avenida Bela Rosa, até que se lembrem de urbanizar a coisa.

domingo, outubro 17, 2004

Especial 1º aniversário - Memórias de Alhos Vedros III

Futebol de Rua

Nunca tive grande jeito para jogar à bola, diga-se desde já. Facto que nunca impediu nenhum puto de jogar desalmadamente à bola em todas as oportunidades que tivesse, da infância à dolescência avançada. São cerda de 10 ou mais anos em que a bola parece ser a principal razão da diversão e da nossa exist~encia, enquanto as raparigas não vão ganhando o seu devido lugar.
À porta de casa, dentro de casa, nas ruas mais próximas ou mais afastadas, na Escola, em qualquer espaço aberto aproveitável, tudo era sítio para chutar a bola, em jogo mais ou menos colectivo, com mais ou menos amigos.
Pelo menos era assim quando cresci em Alhos Vedros nos anos 70 e existiam muitas opções para montar um campo, desde que houvesse a dita bola – e aqui não me limito a uma bola no sentido convencional, porque qualquer garrafa de plástico vazia servia, se mais não aparecesse – um punhado de malta para formar equipas (embora dois ou três já dessem para jogar às “balizas pequenas” ou de “baliza a baliza”), meia dúzia de minutos livres e umas pedras para fazer de postes.
Embora qualquer canto de rua servisse, em Alhos Vedros, entre o pessoal com que me dava, lembro-me de dois espaços principais para as jogatanas mais animadas e de maior dimensão: o largo “da Largada” junto à actual Humberto delgado (antiga Óscar Carmona) e o chamado “Campo das Figueiras”, perto do que agora é a creche Charlot mas então era apenas campo aberto a caminho das “Morçoas” que ainda nem esse nome sabiam ter. Era aqui que se encontravam, por exemplo, as equipas da “vila” e dos arredores.
Eram tardes inteiras de bola, no Verão desde o almoço ao jantar, sem descanso, sem lesões, sem foras-de-jogo, sem descontos de tempo, mesmo se com muita discussão quanto aos limites do jogo (tempo ?, nº de golos ?, quantos ?), às faltas mais ou menos intencionais (do pescoço para baixo era tudo canela da rija) e aos golos, pois os postes e a trave eram virtuais, para além dos pedregulhos que os assinalavam.
Ainda durante a primária, no intervalo da manhã, os jogos eram obrigatoriamente no largo do lado direito da escola (para quem saía do portão) que era ocupado pela classe que lá chegasse primeiro, a menos que os grandalhões da 4ª corressem com toda a gente, a bem ou a mal e ocupassem o território (técnicas do PREC, o que se haveria de fazer). Estes jogos serviam para os mais atinadinhos emporcalharem as batas que às 9 horas tinham chegado imaculadas, enquando os mais experientes e escaldados pelas tareias maternas, as enrolavam cuidadosamente em monte comum atrás das balizas para evitarem maiores males.
Portador de dois portentosos pés esquerdos, mesmo sendo destro, eu ficava sempre para perto do fim no processo de selecção de equipas. Não era o último a ser escolhido, porque havia um ou outro “caixa de óculos”, mas raras vezes ia à frente do penúltimo. Em dias maus, com nº ímpar de candidatos, até podia ser o que ia de brinde para a equipa reconhecidamente mais fraca. Em dias de encontro de estrelas, ficava na assistência e mais nada.
Em campo, quando não tinha o azar de ir para a baliza (havia um ou outro especialista), só tinha autorização para jogar à defesa e não passar da linha imaginária de meio campo, pois fintas só sabia fazê-las a mim mesmo. Já a parar adversários era mais forte e provoquei algumas ateragens memoráveis de avançados menos rápidos a evitarem-me. Era a chamada obstrução involuntária. Mesmo assim era sempre um fartote de correria e transpiração, sem se ver onde se punham os pés as pernas e tudo o resto. Nesse tempo e nessa idade ainda não se tinham inventado as lesões e, a menos que o tipo caísse de cabeça na pedra da baliza ou partisse a perna numa queda, continuava-se a jogar até que se pudesse. Os resultados, claro está, tendiam para os dois dígitos, tipo 13-9, 14-12, caso não se combinasse que acabava aos 10 para dar lugar a outra equipa.
A roupa ficava empapada de suor e poeira (Verão) ou lama (Inverno), mas isso só era relevante à chegada a casa quando nem sempre as mais plausíveis justificações eram aceites com caridade e as consequências se revelavam frequentemente bem dolorosas.
Mas, no dia sequinte, lá estávamos todos de novo.
Quer a “Largada” quer as “Figueiras” (já só sobrevive uma das três originais) desapareceram há muito, na função primeiro e depois no próprio espaço. Um foi sendo ocupado a pouco e pouco por casario, enquanto o outro foi sendo retalhado por ruas e agora serve, de quando em vez, para a instalação de um ou outro circo em digressão.
O que há muito não há são os gritos incessantes de miúdos em correria louca horas a fio sem qualquer outra preocupação que não fosse apanhar a bola e metê-la na baliza adversária. Quer dizer, no meu caso, era mais impedi-lo, mas acho que percebem a ideia.

Filipe Fonseca

Parabéns de TM

Caro Paulo (e demais autores do blog),

Como é óbvio, compreendo e aplaudo a decisão: "cesse tudo o que a antiga musa canta, pois valores mais altos se alevantam!"
Feliz aniversário... e, se não se aprovar a transferência da sede do nosso concelho para a Baixa da Banheira, então que regresse de onde talvez nunca devesse ter saído: Alhos Vedros!

Parabéns!

João Titta Maurício

PS (sem segundas intenções): é a 3ª vez que tentamos editar este post que, por qualquer razão, não quer entrar nem à força.

sábado, outubro 16, 2004

Especial 1º aniversário - Memórias de Alhos Vedros II

Atendendo à simpatia com que divulgaram um texto meu sobre o Estado da Educação em Portugal, venho desta forma corresponder ao pedido que me foi feito pela equipa do Alhos Vedros ao Poder para colaborar na comemoração do seu 1º aniversário.
Afazeres profissionais não me permitem produzir um texto original sobre as minhas memórias alhosvedrenses.
Em sua substituição envio um texto feito em finais de 1989, salvo erra, para publicação num dos primeiros número do Boletim da CACAV. O Raminhos ou o Manuel João Croca saberão mais exactamente em que número e data, pois não possuo nenhum exemplar da publicação.
À data, a construção do Centro Cultural José Afonso e a expansão da Helly-Hansen na rua onde vivia levaram-me a reflectir sobre a ideia de desenvolvimento existente no concelho. Felizmente já usava um PC Schneider já na altura e como guardo religiosamente as disquetes de então, ainda recuperei com o Word o texto feito inicialmente em Works. Quinze anos depois, apenas corrigi gralhas, coloquei acentuação então em falta e acrescentei um subtítulo.



Estórias - Ideias de Progresso

“Meus meninos, há uma coisa a que se chama civilização. É feita de esperanças e de sonhos. É só uma ideia. Não é real [...]. Há depois esta coisa a que se chama progresso. Mas que não progride. Porque à medida que o progresso progride o mundo pode escapar-se.”
Graham Swift, O País das Águas

Talvez seja um desnecessário excesso afirmar que o progresso não leva a parte nenhuma. Talvez seja bem mais importante ter em atenção que ele leva a muitos lados, em muitas e desvairadas direcções, infelizmente nem sempre as melhores, conforme a perspectiva de cada um.
Opôrmo-nos ao “progresso”, independentemente das variadíssimas facetas e cambiante que tal conceito abriga, é empenharmo-nos numa empresa voluntariamente fadada ao insucesso. Ele é algo de inevitável, de tão incontornável como o escorrer do próprio tempo, ao longo do qual tudo o que tem a sua existência, viva ou inanimada, se transforma.
Com maior ou menor velocidade, mais ou menos notória e quase independentemente da vontade daqueles ou daquilo sobre que(m) age.
Talvez a definição mais simples (e, no fundo, mais verdadeira) de “progresso” consista, apenas, na natural transformação de tudo o que existe no espaço, ao longo do tempo, desde a escala local à planetária. No sentido da simplificação ou da sofisticação e consistindo em aparente retornos a padrões do passado ou em avanços para caminhos ainda inexplorados, ele não pode ser parado. Com o tempo, o progresso acontece, porventura por ciclos, mas de forma sempre contínua. Nós apenas podelos modelar, no que estiver ao nosso parco alcance, o seu decurso, de maneira a dar-lhe um aspecto mais consentâneo com a nossa concepção (que, é necessário admiti-lo, nunca poderá ser a única válida) do que consideramos ser melhor.
Partindo do princípio (raras vezes abertamente contestado) de que nenhuma concepção do “progresso” tem legitimidade para se impôr, sem discussão, sobre todas as outras apenas porque é a dos detentores do poder político e/ou económico, vem-se aqui, após todos estes rodeios, abordar muito levemente alguns dos aspectos que nos últimos tempos têm marcado o “progresso” em Alhos Vedros, nomeadamente aquilo que mais nos (como dizê-lo de forma mais sensível) entra pelos olhos dentro.
Ou seja, falar daquilo que se costuma construir com o objectivo declarado de viverem lá pessoas ou aí trabalharem (ao que vulgarmente chamamos, casas, prédios, blocos de apartamentos, fábricas, etc, mas que no caso presente podemos perfeitamente substituir pelas designações bem mais expressivas de “caixotes” e “barracões”). Assim como da sua distribuição no espaço (o que se espera que resulte em ruas, travessas, cruzamentos...), do seu enquadramento com a paisagem, natural ou arquitectónica, já existente (o que se revela de extrema dificuldade pela sua inacessibilidade a espíritos menos elevados e esclarecidos, como o é o deste escriba) e, finalmente, do conjunto final resultante da conjugação urbanística de tudo isto no que, a priori, seria suposto ser uma unidade orgânica, lógica e funcional. Confesse-se, a partir de já, que coordenar ideias coerentes e lógicas quando o seu objecto é delas completamente destituído (a menos que se encontrem a um nível profundo, MUITO profundo) é tarefa árdua e ingloriamente ingrata.
Vejamos, por exemplo, o caso dos “caixotes” e “barracões”: qualquer alma é obrigada a admitir que a maioria de bom aspecto, nem a intenção têm. Prédios, fábricas ou centros culturais, não passam de um aglomerado de paredes, toscas e feias, onde não assoma o mínimo laivo de ideias de verdadeira arquitectura, a não ser a de diminuição máxima dos custos, e em que é estranha a noção de que a originalidade deve ter uma (não tão dispensável quanto isso) relação com criatividade.
Depois, constatamos que ou estão agrupados aos montinhos sem nenhuma directriz visível na sua arrumação, ou se encontram em locais onde a sua harmonia com o meio envolvente faz lembrar a de um elefante rodeado por um bando de pintaínhos que, aterrorizados, o tomam pela mãe-galinha. A necessidade de enquadramento urbanístico por parte de quem projectou/autorizou a sua construção restringe-se à vaga e difusa ideia de que “enquadramento” deve ter algo a ver com “quadrado” e de que “urbanístico” soa bem, mas como começa por uma das últimas letras do alfabeto, seria preciso ler o dicionário até à letra “u”, o que não é coisa ao alcance de todos, pormuito boa vontade que haja. Quanto ao problema do enquadramento paisagístico é resolvido muito mais facilmente. Como, por regra, se destrói a paisagem para construir, na sua essência, esta é uma falsa questão.
Isto não é excesso de ironia mas, se bem repararmos no surto que se verifica por toda Alhos Vedros, quer como cartões de visita nas suas entradas, quer no seu interior, talvez se esteja é a pecar por moderação pois o vazio de ideias e a enfadonha monotonia do fenómeno é geral e nem se percebe porque nuns lugares toma o nome de “fábrica” e, em outros, de “centro cultural”.
Se em algumas destas construções se produz riqueza, seria de interrogar qual o seu destino principal e em que condições é produzida, se em outras se pretende criar e expôr “cultura” conviria perguntar “quando?” e “o quê?”.
Mentes tacanhas continuam a associar maior mprogresso a mais e mais construções e pessoas em circulação. Isso é tomar a nuvem por Juno. Mesmo nos nossos tempos já se começou a abandonar tal associação de ideias. Já não se pensa apenas em termos de “mais”, de quantidade, pura e simples. Começa-se a dar uma importância fundamental a “melhor”. Mais, sim, mas Melhor. A qualidade do progresso começa a impôr-se como um imperativo inegável. Mesmo em outras zonas do nosso concelho isso é visível. Porquê em Alhos Vedros, tal desnorte no planeamento urbanístico ?
Porque não fazer as coisas um poucochinho melhor e com maior consideração pelas pessoas que delas se vão utilizar ? Porquê encaixotá-las no seu trabalho, no lar, na rua, nos espaços de lazer ? Porquê tão completa ausência de qualquer fio condutor de um pretenso “progresso” que parece esquecer aqueles que deveria servir ? Porquê a inexistência de critérios minimanente perceptíveis, coerentes (o que não quer dizer necessariamente padronizados pela mediocridade) e, já agora, transparentes ? Ninguém tem culpa de não saber fazer mais, mas pelo menos que exista a dignidade de dar a conhecer os seus processos de decisão. No fundo, só apetece perguntar incessantemente o porquê das coisas.
Porquê ? Porquê ? Porquê ?
“Meninos, não deixem de perguntar. Porquê. Não parem com os vossos Porquês, professor ? Embora seja mais difícil quanto mais vezes vocês o perguntarem, embora seja mais inexplicável, mais doloroso e a resposta nunca pareça correcta, nunca tentem fugir a essa pergunta – Porquê ?”
Graham Swift, O País das Águas
Paulo Guinote

Esclarecimento

Para que fique claro, até ao próximo dia 21, em que iniciaremos o nosso 2º ano de existência, só incluiremos posts subordinados ao tema de "Memórias de Alhos Vedros".
Por isso, um longo texto de Titta Maurício, de novo sobre a questão do aborto, bem como a consequente resposta, só surgirá depois dessa data. Também por essa razão ainda não aludimos aqui ao que se passa na vizinha Câmara de Palmela, com as demissões em bloco de pessoas ligadas ao urbanismo. Ou, agora mesmo, às ligações estranhas entre autarcas e construtores civis na Amadora.
Não foi nenhuma pressão da administração, mas apenas o facto de queremos assinalar a nossa data com escritos sobre Alhos Vedros.
Se Titta Maurício, ou qualquer outra figura política do concelho, tem algo a dizer/escrever sobre o assunto, muito bem. Caso contrário, o que chegar só entra para o fim da próxima semana.
Agradecemos a compreensão de todos.

sexta-feira, outubro 15, 2004

Especial 1º aniversário - Memórias de Alhos Vedros I

O Carnaval numa terra sem lei

Pediram-me um texto sobre memórias minhas de Alhos Vedros para assinalar o primeiro aniversário deste blog com o qual, de vez em quando, me digno colaborar. Aqui vai o que me ocorreu.

Em tempos em que a única manifestação popular com alguma dimensão em Alhos Vedros se resume ao desfile de Carnaval, numa versão meio abrasileirada, nada como recordar como as coisas eram no Entrudo de outros tempos que, para espanto nosso, já têm um quarto de século.
Para quem o viveu, o Carnaval de Alhos Vedros na segunda metade dos anos 70 era uma manifestação digna do velho faroeste.
Em especial no Domingo e Terça-Feira na curva da Estrada Nacional junto à Barbearia do “Setúbal”, da Taberna do Zé António e da antiga papelaria (de que não me lembro o nome) assistia-se a espectáculos impagáveis.
A partir da hora do almoço o pessoal ia-se juntando, assim como quem não quer a coisa.
A água estagnada do poço abandonado onde agora existem apartamentos ou a da bomba pública junto ao Coreto e frente à “Velhinha” era cuidadosamente recolhida em sacos pelos mais empreendedores e galhofeiros. Depois esses sacos eram alegremente despejados nos incautos condutores que, de janela aberta, passassem e abrandassem para fazer a curva ou, em momentos mais parados, sobre quem estivesse mais a jeito. A entrada/saída lateral do café do Júlio servia normalmente de atalho, para quem depois acabava por sair na Humberto Delgado como se nada fosse consigo.
Embora a cena se repetisse anualmente, a GNR só aparecia tarde e más horas para tentar dar uma aparência de ordem ao local. Eram normalmente dois agentes, nenhum deles a primar pela elegância, aprumo ou aparência de autoridade. Tentavam acomodar-se numa das esquinas do cruzamento, sendo rapidamente deixados isolados para servirem melhor de alvo. Com maior ou menor celeridade, lá vinham uns projécteis atirados por trás das casinhas da esquina contrária e lá tínhamos os sôres agentes mais ou menos molhados conforme a pontaria dos atiradores.
E assim se passava a tarde até ao anoitecer e a luz escassear, lá pelas 6 ou 7 da tarde.
Num desses Carnavais, um infeliz condutor mais corajoso (talvez pelo facto de ir num Mercedes, o que na época era sinal de estatuto bem mais raro que hoje) decidiu abrir a porta e vir discutir com quem lhe atirara água pela janela; imediatamente levou um balde inteiro em cima de outro folgazão, desatando então em correria, em perseguição de quem o molhara. O resultado foi que não apanhou o prevaricador (salvo erro o Zé Eduardo, que se escapou pela Cândido dos Reis acima) e deixou o carro à mão de semear do resto da turba. Penso que, mesmo para quem não assistiu, o desfecho não deixará grandes dúvidas. Quando voltou tinha o carro que parecia ter passado por Sadr-City nos dias que correm.
Bons velhos tempos de inconsciência e divertimento selvagem e luso.
Nada de meninas mal descobertas a tiritar de frio, em cima de camionetas mal amanhadas, imaginando que que estão a desfilar no Sambódromo com 40 graus à sombra.
Enfim, não havia dinheiro para mais, mas a malta divertia-se muito.

José Silva

quinta-feira, outubro 14, 2004

Efeméride

Entramos hoje na 52ª semana de existência, o que significa que daqui a uma semana completamos o nosso primeiro aninho de vida.
Inicialmente, pensámos assinalar o evento com a inserção de um conjuntos de posts dos nossos colaboradores e amigos que tiveram a paciência de corresponder ao nosso apelo. No entanto, perante a extensão de alguns dos textos recebidos, e para que cada um tenha o seu devido destaque, a nossa equipa achou melhor ir colocando um em cada dia da semana.
O tema aglutinador é o de «Memórias de Alhos Vedros», estando neste momento em carteira os seguintes textos, em princípio a aparecerem por esta ordem:

* Carnaval numa terra sem lei, por José Silva
* Sobre a restauração do concelho de Alhos Vedros, por Manuel Pedro (texto de 1999 a inserir como imagem no fotoblog a partir do original publicado n’O Rio nº 34 e que podemos considerar como o documento fundador do nosso movimento)
* Estórias, por Paulo Guinote (texto original de 1989 que este nosso amigo nos cedeu e originalmente publicado num boletim da CACAV nesse ano ou no início de 1990)
* Futebol de rua, por Filipe Fonseca
* Memórias de 1947, por António da Costa

Em paralelo, integraremos no fotoblog a imagem das primeiras páginas dactilografadas do conto/crónica/relato de Manuel António Bôto sobre Euládio Tarouca, um alhosvedrense que nos anos 30 combateu na Guerra Civil de Espanha. Já existe uma edição em livro com poucos anos, mas é sempre agradável revermos as páginas do original produzido há 30 anos, mais exactamente em Dezembro de 1974.
Fizemos esforços, mas até agora infrutíferos, para desencantarmos uns exemplares de antigos periódicos de Alhos Vedros (que os houve), mas parece que levaram sumiço os que um nosso parente tinha em depósito.

Para depois ficará a prometida divulgação da transcrição das cassetes que documentam a 1ª reunião do CACETE, que como já anunciámos é o Comité Abrangente para o Combate Eleitoral contra o Totalitarismo de Esquerda, plataforma que inclui todos os partidos que no concelho da Moita estão contra o monopólio do PC na autarquia moiteira.

Censura(s)

A leitura do bom (mesmo se algo "curto") artigo da Visão sobre os esforços do actual Governo para domar a comunicação social trouxe-me à memória o saudoso jornal humorístico Os Ridículos em 1917 quando o governo da chamada "União Sagrada" recorreu á censura com motivos de segurança nacional (estava-se na Grande Guerra).

O primeiro excerto seleccionado é o que se segue:

"O parlamento norte-americano recusou-se a sancionar o projecto de lei estabelecendo a censura.
Pois não sabe o que é bom, e perde a melhor oportunidade de completar a sua educação civica.
A censura é das mais nobres instituições que a imaginação liberal tem creado. Nós que aqui estamos fallando não sômos dos mais castigados. Em boa hora o digamos. E d'alto !
Mas faz gosto pegar em alguns de Lisboa, e vel-os cheios de coisa nenhuma, como se os redactores estivessem todos a banhos.
Os Estados Unidos que são uma velha democracia estão-se nas tintas para fazerem a experiencia. É sina das raças decadentes resistirem a toda a especie de innovação. C nós, ninguem nos deita a barra adeante. Em sendo coisa radical, queremos sempre o premio grande.
Isto cá é mais que Republica; é um concurso hippico."

Os Ridículos, 6/Jun/1917, p.2

Este segundo comentário foi censurado mas está disponível na colecção do jornal depositada na Hemeroteca Municipal de Lisboa. A edição original saiu com uma “bexiga” (espaço em branco)neste local da página (também se pode encontrá-lo no blog Abrupto do Pacheco Pereira, p+ara onde o enviámos).

“Com uma imprensa d'estas, aonde jornaes aconselham aos exaltados politicos a liquidação dos directores de outros jornaes, n'uma imprensa cheia de intruzos que d'ella só fazem biombo para arranjos politicos, n'uma desgraçada situação d'esta ordem... é fechar os olhos e deixar ir para o fundo !
Resignação e esperança de que melhores dias surjam para a nossa querida terra ! "

Os Ridículos, 5/Jul/1916, p. 2

quarta-feira, outubro 13, 2004

Alhos Vedros, vila do vício ?

Em vez de um curral de bois à moda da Moita, Alhos Vedros parece estar a tornar-se um simpático antro da devassidão sexual.
Já não nos chegava a antiga Kleopatra para quem chega da Moita e o novo Strip Club para quem vem da Baixa da Banheira, agora até temos um pseudo duo musical lésbico ?
Ena, ena...
Sempre é melhor que a Igreja Maná à entrada da Baixa ou o campo do Moitense à entrada da Moita.

terça-feira, outubro 12, 2004

Manifesto Anti-Média Capital

Agora que os meios de informação estão quase todos nas mãos de dois ou três mega-empresas das quais são a Lusomundo e a Média Capital as principais detentoras destes monopólios informativos ... Faço aqui um apelo ao boicote activo ao grupo Média Capital, cuja política é de acabar com a concorrência comprando e extinguindo depois as mesmas empresas concorrentes; vou dar um exemplo desta política destrutiva: recentemente a Média Capital comprou as rádios Voxx e Luna, a Voxx passava música independente e alternativa e a Luna, do Montijo, passava música clássica, Jazz e música de Filmes de muito boa qualidade, estas duas rádios tinham para mim muita qualidade, mas muito pouca audiência. O grupo Média Capital comprou-lhes as frequências e extinguiu as duas rádios retransmitindo agora nas suas frequências canais de rádio comerciais, sem qualidade, como é a Best Rock por exemplo.
Estas rádios assim como a Rádio Comercial só passam playlists que são um conjunto de músicas que as grandes editoras multinacionais lhes pagam para passarem até à exaustão com o objectivo depois de venderem esses produtos de consumo às dezenas de milhar, devido à divulgação nas rádios do grupo Média Capital.

Os programas de autor estão proibidos nas rádios desse grupo e o disc-jockey que se atrever a passar uma música que não esteja na dita playlist vai aumentar a lista de desempregados deste país.
Isto significa que alguns grupos e artistas portugueses, mas também muitos grupos estrangeiros de qualidade que não estão nas grandes editoras multinacionais nunca são divulgados, porque as editoras multinacionais consideram por exemplo as músicas nacionais não anglo-saxónicas subprodutos da indústria discográfica e sem possibilidade, logo à partida, de sucesso.
Todos os grupos portugueses e artistas nacionais estão neste grupo de menosprezados, exceptuando cinco ou seis fenómenos nacionais que são os Madre Deus, Marco Paulo, os Delfins, a Amália Rodrigues o Rui Veloso e o Pedro Abrunhosa e a isto se resume a música portuguesa que é divulgada em Portugal por este grupo Média Capital e pelas grandes editoras discográficas.

Artistas como Fausto, Paulo de Carvalho, Mind da Gap, Adolfo Luxúria Canibal, Irmãos Catita, Ronda dos quatro Caminhos, Camané ou Francisca, por exemplo, apesar da sua grande qualidade não passam nas playlists deste grupo, cujo dono é também um fervoroso apoiante do P.P.

Agora a Media Capital, está interessada em adquirir parte do grupo que possui a rádio TSF e os jornais Diário de Notícias e Jornal de Notícias, isto quer dizer que vão deixar de existir espaços autónomos de informação e como esta empresa é privada o que sucederá e já está a suceder com o caso do Marcelo Rebelo de Sousa é o regresso da censura, agora duma forma mais perigosa porque é uma empresa privada que detendo a maioria dos meios de comunicação, pode censurar os seus funcionários e colaboradores exercendo pressões económicas sobre eles e o Estado pode pressionar essa empresa a nível político para condicionar a sua actuação, isto é o puro capitalismo selvagem que se instalou em Portugal.
O maior problema é que o monopólio dos media, acaba com a heterogeneidade e a diferença de outras opiniões.
De que serve existir a opção de ter 20 rádios se todas são parecidas ?

Esta empresa não pode continuar impunemente a destruir a nossa liberdade de escolha, por fazer um não serviço a Portugal e aos portugueses, venho por este meio pedir um boicote activo por parte de nós, o público, a este grupo!

Televisão:
TVI

Portais na Internet:
IOL
Portugal Diário
Mais Futebol
Cotonete

Rádios:
Rádio Comercial
Rádio Clube Português
Best Rock
Cidade FM

Revistas:
LUX
LUX woman
MaxMEN
Casas de Portugal

Não Vemos, não ouvimos, não lemos e só podemos ignorar !
Joaquim, o Contraditório (o nosso)

segunda-feira, outubro 11, 2004

Para breve

Brevemente, em exibição neste blog:

O MANIFESTO ANTI-MÉDIA CAPITAL

Reserve já o seu lugar

Tempos sombrios

O nosso primeiro vai falar logo à noite.
Depois de ter levado puxões de orelhas do Presidente e, quase certamente, do José Burroso, hoje ao almoço, talvez neste mesmo momento em que escrevo.
Depois de ter, num número de aparente malabarismo duvidoso, nos Açores, ter desautorizado tudo o que pacientemente o seu Ministro das Finanças tinha explicado há pouco tempo acerca da sua política para o IRS.
A ideia forte parece ter sido: se a malta está preocupada com o Marcelo, vamos dizer que cortamos nos impostos para voltarem a gostar de nós.

Uma boa ideia, corajosa, séria, decente, seria hoje à noite, na sua comunicação ao país, que Santana apresentasse a sua demissão e nos mandasse a todos a votos.
Mesmo nesta democracia incompleta em que vivemos, um banhito de legitimidade eleitoral nunca faz mal à governação.
Isso, sim, seria uma lição de dignidade que daria a todos os seus críticos e ao par responsável pelo atoleiro em que estamos: o citado Burroso e o arrependido Sampaio.

Então todos nós teríamos de direito a exercer o nosso contraditório.

domingo, outubro 10, 2004

Alhos Vedros Visual

Visitem-no.
Tem algumas novidades e uma deliciosa entrada da secção "Nostalgia".

Proposta de Outono

Não se esqueçam, amanhã começa a série V de Os Sopranos.
Já estou a fazer exercícios de aquecimento às meninges.
Para preparação, visitem o site.

São rosas, senhor

Vivemos em tempo de milagres.
De 40 metros quadrados nascem 168.
Perante o escândalo, aparece um telheiro salvador.
Ah ah!! Dizem os serviços acusadores!!
Derrubai esse telheiro prevaricador ou seremos inclementes.
O patego abre a boca de espanto. Afinal ainda há Lei e Ordem nesta nação.
Oh oh... diz o ministro. Fui apanhado. Derrubado o telheiro será!
E assim viveremos todos felizes para sempre.

(Enquanto cai o pano, em fundo e em décors a lembrar os do filme Moulin Rouge, o senhor comunista presidente e o senhor popular ministro dançam o cancan de braços entrelaçados)
Amar o Sul, Amar o Sul, Amar o Sul !!!

Velhas siglas, novos significados

Diz-me um amigo da Caixa que, para o mercado internacional, CGD é a sigla de Celeste’s Garden of Delights.
Já outro amigo do Montepio me diz que MG passou a significar Maridinho’s Garden.
(Para quem não percebeu esta última tem a ver com as avenças que transitam no casal como se fossem rendas de casa do tempo da velha senhora.)

É triste mas é verdade

Há já muito tempo que, tirando um ou outro mendigo declarado, não via pessoas a ir aos contentores de lixo vasculhar os restos aí lançados, de comida, de objectos semi-utilizáveis, ou mesmo papelões e garrafas. Pessoas com um mínimo de aspecto que se vê terem sido empurradas para isto para não andarem a pedir de porta em porta.
De há um par de anos para cá comecei a vê-las à noite, meio escondidas, por vezes imigrantes de Leste. Agora, já não são só esses e já é mesmo à luz do dia.
É este o Portugal que temos.
O que interessa é a estabilidade política e a protecção dos interesses dominantes.
E, já agora, que o nosso Ministro da Defesa possa acabar por completar a sua equipa de assessores com o último que faltava dos tempos heróicos da Moderna e da Amostra.
O que interessa é recompensar as velhas solidariedades e os silêncios.
O resto, o “povo” com que se enche as bocas em tempos de campanha eleitoral, que se desenrasque.

Resposta de Luís Guerreiro a comentário de Roldão Preto

Caro Roldão Preto, a visão que temos do Mundo é completamente diferente e não existem pontos de contacto a nível ideológico, quero por isso dizer-lhe que não estou disposto a alimentar discussões estéreis como as que teve com Titta Maurício, as polémicas sobre quem defende melhor a direita ou quem se assume mais integralista ou menos, não me interessam minimamente.
Eu Luís Guerreiro assumo-me como um homem de esquerda.
Por isso vou cingir-me ao tema do meu pretenso colaboracionismo com a Moita, ou o poder moiteiro como no Blog é divulgado.
Escreveu o senhor em 23.9.2004 o seguinte comentário no Alhos Vedros Visual o vosso foto blog:


"Embora aprecie a Arte em Azulejo do Luís Guerreiro, quero aqui frisar que o intuito do Blog: Alhos Vedros ao Poder é em primeiro lugar, a Restauração do Concelho de Alhos Vedros e em segundo lugar a luta contra os Lobbys moiteiros, e se bem sabemos este artista já colaborou com o poder moiteiro fazendo diversos painéis para o mercado da moita, no qual se repararem todos os painéis são temas da Moita (4), e nenhum faz alusão a Alhos Vedros, com as suas actividades corticeiras ou salineiras por exemplo. É esse menosprezo para com Alhos Vedros que a Moita sempre teve, que devemos recordar, mesmo a Luís Guerreiro ou a qualquer outro artista colaboracionista.
Roldão Preto"

As encomendas que recebi da CMM, especialmente dos painéis para o Mercado Municipal da Moita foram escolha do então presidente em exercício em 1992, porque eu até apresentei outros desenhos como opção.
Tem razão em protestar pelos temas serem todos sobre a Moita, mas a culpa não é minha, eu fui apenas o executor da obra.
Esses painéis na altura até deram uma certa polémica porque os Bonjours o pai, já falecido e o filho puseram as fotos dos painéis do Mercado na sua montra, dizendo que eram cópias dos seus arquivos, o que era mentira, pois foram feitos a partir dum postal antigo que existia na Junta de Freguesia da Moita.
Na altura fui lá explicar aos Bonjours o seu equívoco e tudo se resolveu, sendo as fotos e a mensagem retirados da montra da Foto Bonjour.
Uns anos depois em 1996 ou 1997, apresentei ao então vereador, João Lobo uma proposta para completar a obra que está no Mercado Municipal com painéis temáticos trípticos sobre as actividades, história e actualidade, dedicados a cada uma das freguesias do concelho da Moita, sendo a imagem central do tríptico em azulejos a cores e os outros dois de cada tema em sépia , como os que estão lá.
Nem João Lobo nem ninguém da CMM, respondeu a esse meu pedido...Recordo a Roldão Preto que sou profissional de Azulejaria Artística e não tenho outra fonte de rendimentos e Deus sabe as dificuldades que eu tenho tido nos últimos tempos, por causa da crise em que está mergulhado o País e também porque não compartilho a ideologia do poder local, nem nunca a compartilhei, mas só em casos extremos me recuso a aceitar uma encomenda o que também já aconteceu, quando a Firma de desmantelamento de barcos Batista & Irmão que têm, como sabe o concessionamento do Cais Novo de Alhos Vedros, me encomendaram em 1989 um painel em azulejos sobre o tema, para colocarem na sua sede em Sacavém, o meu primeiro impulso foi recusar terminantemente, mas resolvi apenas não lhes dar resposta, como também não me voltaram a comunicar, o caso encerrou por aí.
Perdi essa encomenda, mas fiz o melhor para com a minha consciência...
A verdade é que eu compartilho o seu ódio para com esse monstro que anda a destruir essa zona ribeirinha de Alhos Vedros.

Recordo com saudade os tempos em que ia mergulhar no Cais Novo e nadar naquela praia lá ao fundo, cheia de barcos e pessoas que iam para lá ás dezenas.
Recordo também a apanha de caranguejos, nas tocas ou com camaroeiro.
Os barcos no cais novo eram poucos e as pessoas ainda podiam entrar no cais para pescar. Agora é o que se sabe e tudo o que nem sequer imaginamos.
Eu, o Paulo Gil o Marmota, o Puto Russo o Zé Tó, o Animal, o Cristiano e toda essa malta que formava o grupo da Caverada, em 1977, 78.
Pode por isso o Sr. Roldão Preto, ter a certeza que tem em mim, muito mais um seu apoiante do que um inimigo.
Fiquei particularmente triste quando Roldão Preto afirma que sou colaboracionista com lobbys Moitenses, eu que em todas as exposições que fiz em Portugal e também no Brasil, sempre bem alto o nome de Alhos Vedros, como aliás pode ver junto à minha assinatura em todos os painéis produzidos pela Azulejaria Artística Guerreiro, desde 1989.
Recentemente consegui inclusive meter Alhos Vedros no mapa das “Rotas da Cerâmica”, como em post anterior comuniquei ao vosso Blog.
O Sr. Roldão Preto é colaborador do blog: Alhos Vedros ao Poder, mas as suas opiniões podem também ser questionadas, porque não é Deus nem Cavaco para ter certezas absolutas e nunca se enganar !
O meu percurso como artista não pode ser associado a qualquer ideologia, tenho de servir todos os clientes com a maior imparcialidade e fazer todo o tipo de trabalhos para todo o tipo de pessoas que me contactem.
Os meus parâmetros são apenas a qualidade.
Para lhe dar uma ideia da abrangência que tenho de ter, afirmo-lhe que nunca apreciei a tauromaquia, mas isso não me impediu, nem poderia, de desde 1989, fazer todos os anos os Trofeus para a Tertúlia Tauromáquica Setubalense conseguindo penso eu, abranger o gosto e a estética próprias desse fenómeno que é também artístico.
Podemos não gostar, mas temos de respeitar as suas nuances artísticas.
Poder-lhe-ia dizer que possuo as imagens da revista tauromáquica “La Lídia” que são impressas antes do advento da fotografia com gravuras e são absolutamente lindas num conceito estético pós-Romântico dos finais do séc. XIX que muito aprecio.
Outros conceitos sobre arte eu poderia desenvolver, como por exemplo o Realismo Socialista Soviético e a Arte Nacional –Socialista, que são épicos à força do homem sobre os elementos que eu gosto muito e cujas ideologias detesto e lutaria sempre contra.
O que pretendo dizer-lhe é que a Arte pode valer por ela própria e mesmo que sirva para enaltecer um regime ou uma ideologia, não tem de ser negada por isso mas apenas tem ser entendida por concepção estética do autor.
O “colaboracionismo” com o regime fascista de Salazar que Almada Negreiros teve não impede que as suas obras sejam maravilhosas e uma referência da Arte Moderna Portuguesa e Mundial.
Sei que a sua realidade é muito diferente da minha, pois sou um leitor atento deste Blog, sei por isso que foi militar e voluntariou-se para ir lutar na guerra colonial...
Acredito que seja um homem de convicções, mas eu também o sou e só respeito quem me respeita.
Por isso peço-lhe que pondere melhor antes de começar a criticar a torto e a direito, respeite a minha condição de artista porque acredite que não é nada fácil viver só da Azulejaria aqui no Concelho da Moita e só com muita teimosia e uma ajuda muito grande da minha companheira e da minha família é que a AAG ainda continua.
Mas cá estou para a luta e para continuar engrandecendo na medida do possível o nome da minha terra natal: Alhos Vedros e por acréscimo o concelho a que actualmente pertence: O Concelho da Moita !

Sem mais assunto despeço-me com amizade
Luís Guerreiro