


Em 1981 a publicação dos
Subsídios para a História de Alhos Vedros foi a verdadeira
pedrada no charco do total desconhecimento existente - para além das memórias individuais e das estórias orais - quanto à ancestralidade de Alhos Vedros e detalhes da sua História.
Obra do padre Carlos Alves era uma publicação de divulgação, sem grandes pretensões académicas.
Mas preencheu um cantinho do enorme vazio existente sobre o tema.Rapidamente esgotada a edição, passou mais de uma década até aparecer uma segunda, em 1992.
Foi entre esses anos que, curiosamente, o meu interesse sobre as origens e a situação de Alhos vedros teve maior vigor.
Ou dizendo melhor: cresceu e quase desapareceu.
Primeiro com a constatação do muito que se podia fazer em termos de preservação do que tinha ficado como que parado no tempo, o que o historiador local/regional António Nabais considerava ser a
sorte da terra; depois o desânimo perante o esventramento da terra em nome do progresso, que se viria a confirmar fugaz, e a permanência de verdadeiros atentados ao património natural, como era o caso da zona ribeirinha.
Os abarracamentos pseudo-industriais que se estenderam um pouco por toda a localidade desfearam-na, assim como o mau-gosto urbanístico, mas os alhosvedrenses parecem ter encarado isso, na sua maioria, como os efeitos indesejados mas necessários, do desenvolvimento.
Em 1992 eu já tinha desistido, porque percebera que o caminho tomado era outro e que a sensibilidade para as questões do património - apesar de alguns esforços individuais ou da acção da CACAV - era nula. A 2ª edição da obra, com poucas modificações em relação à anterior (uma nova introdução e um esboço cronológico) deu-a a conhecer a mais gente.Mas não era o suficiente para fazer os alhosvedrenses encararem o seu Património como uma riqueza.O Urbanismo é que imperava e o poder moiteiro ditava as regras, mesmo quando isso era feito por gente de Alhos Vedros.
Em matéria de estudos pouco se ia fazendo, apesar das promessas.
E tudo se ia degradando.
Passaram 15 anos e o panorama ainda é mais deplorável em termos de destruição do património local, natural e edificado.O poder político é de uma insensibilidade brutal nestas matérias e a ignorância é a regra.O modelo de desenvolvimento é o da suburbanização terceiro-mundista, patega e míope.
Em termos de estudos locais, progrediu-se alguma coisa, mas muito menos do que o desejável.
Quem tem o dever de apoiar este tipo de trabalhos prefere gastar o dinheiro em carros, viagens ao estrangeiro em nome de geminações tropicais ou em eventos que não deixam marca.
E ao fim de 15 anos, os
Subsídios do padre Carlos Alves ainda mantêm grande parte da sua importância.
A nova edição é bem mais agradável, mais completa e rica do que as anteriores.
Pelo cuidado gráfico, pelo enriquecimento iconográfico.
Mas, até por isso, alguns detalhes poderiam ter sido melhorados, com o apoio de algum estudioso local.
Falta uma bibliografia de apoio com as obras publicadas nos últimos 25 anos. São poucas, mas existem. E ainda outras de enquadramento.
Falta uma ficha técnica mais atenta à identificação, datação e origem das imagens.
Falta uma modernização do conteúdo equivalente à modernização da forma.
Mas não deixa de ser um objecto bonito de se ter, como que o reencontro com o velho "clássico" que foi amarelecendo nas nossas estantes.
O Padre Carlos está de parabéns, pela longevidade do interesse que o seu estudo suscita.
O Vitor Cabral também, pelo empenho que colocou nesta edição.
E a todos os outros, nomeados ou não, que ajudaram a esta edição.
Agora venham mais cinco... não reedições, mas novos trabalhos.