domingo, abril 11, 2004

Reflexão pessoal do artista do azulejo Luís Guerreiro

O nosso leitor Luís Guerreiro deixa-nos aqui o seu testemunho sobre as dificuldades de um artesão a trabalhar em Alhos Vedros com os métodos moiteiros de apoio a este tipo de actividades

«E por falar em aumentos !
Vem a propósito a denúncia de uma situação de que fui vítima este ano. Vou expôr a situação:
Possuo uma pequena placa publicitária situada na Estrada Nacional 11, perto da encerrada e agora a saque empresa Helly Hansen, que é a única forma que tenho de indicar que existe a poucos metros dali uma Azulejaria Artística, que é desde 1989 a minha única actividade laboral, depois de ter estado 4 anos nas Caldas da Rainha a estudar a arte do azulejo.
Má hora em que pensei retornar à minha terra natal porque, tirando os primeiros anos em que a Câmara Municipal da Moita me deu efectivo apoio através de encomendas como os painéis de azulejos do Mercado Municipal da Moita (1993), pouco ou nenhum incentivo tenho tido.
Depois dessa data a Câmara da Moita deixou de ser um parceiro para a minha actividade, passando a uma situação de assegurar a minha invisibilidade artística através da ignorância completa do meu trabalho. De detentor de uma actividade de caciz artístico e cultural passei para um mero parceiro económico com os mesmo deveres e direitos de qualquer empresa.
Ora as características do meu trabalho não são de molde a ser enquadrado no estatuto de empresário, mas sim de artista, como aliás comprova o meu cartão de contribuinte em que estou exactamente na condição de trabalho de um Pedrito de Portugal, ou de um José Luís Procuna, porque é exactamente esse o meu estatuto profissional.
Sou um artista na arte do azulejo como os supracitados o são na arte de tourear...
Vem isto a propósito do aumento radical que sofreu a taxa mensal dessa pequena placa publicitária, que passou de € 2.52 por mês para € 10.7, ou seja de € 30.28 por ano para € 128.4, o que perfaz um aumento de mais de 400%.
Numa altura em que a crise se instalou em Portugal, com este governo de direita ultra-liberal e sem sentido social, é com muita pena que vejo este executivo local do PCP actuar desta maneira.
Na Assembleia da República, o PCP fazouvir a sua voz e muito bem, digo eu, contra os aumentos e perda de poder de compra dos portugueses. Mas a nível local, aqui no concelho da Moita, age desta forma.
Será que o PCP nacional está ao corrente da acção destes seus filiados da Moita, e se está, concordará ?
O desalento apossa-se de mim porque as encomendas teimam em não aparecer e tirando a Junta de Freguesia de Alhos Vedros que, através da sua Presidente Fernanda Gaspar, metodicamente me tem incentivado com encomendas e a quem agradeço o apoio, os responsáveis autárquicos da Moita têm vindo a ignorar a minha actividade, em especial desde que o antigo e eleito presidente se demitiu do cargo. Para além da insensibilidade demonstrada, agora até é a sobrevivência económica da minha actividade (de cariz artístico e cultural, volto a frisar) que colocam em causa.
Faço aqui também eco de um pormenor que me indicou outro colega artesão.
Todas as Cãmaras recebem convites para os seus artesãos participarem nas Feiras Nacionais de Artesanato, o que é uma forma de nós vendermos as nossas peças, recebermos encomendas e darmos a conhecer a nossa arte.
A Câmara Municipal da Moita por certo recebe esses convites, porque há uns anos atrás enviava-me, e a outros artesãos, as fichas de inscrição para essas Feiras, tendo mesmo participado em algumas. Actualmente, não sei porquê, deixaram de enviar esses convites, talvez seja para poupar nas cartas e selos, mas se assim é, pelo menos podriam expôr esses convites nos Paços do Concelho, para os artesão deles tomarem conhecimento.
Recordo que a maioria das Câmaras, para além de enviarem sistematicamente tais convites aos artesãos, muitas vezes ainda fornecem transporte e outras ajudas para esses artesãos se deslocarem a tais certames, porque, se pensarmos bem, essa é uma forma das autarquias darem a conhecer os recursos culturais da sua região, como fazem com os turísticos, desportivos e empresariais.
Mas, parece que a Câmara da Moita está de costas voltadas para os artesãos e artistas locais, excepção feita, é claro, aos artistas tauromáquicos.
Nesta Sociedade da Informação em que tudo deveria estar mais próximo dos cidadãos, noto com pesar que no município da Moita sucede exactamente o contrário.
È caso para dizer que entre o autismo deste governo local e o do governo nacional venha o Diabo e escolha.»

Luís Guerreiro, artista alhosvedrense
Abril de 2004

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