O nosso colaborador José Silva voltou e decidiu (provavelmente para prazer do nosso leitor Titta Maurício) atirar-se com força aos jovens socialistas locais.
Leiamo-lo e rejubilemos.
O cosmopolitismo das jovens esperanças partidárias locais – o caso do PS
Eu tinha prometido aos meus amigos do blog Alhos Vedros ao Poder contribuir com um texto sobre o aparente cosmopolitismo de alguns jovens vultos do PS local mas, ao começar a escrever o texto, apeteceu-me alargar o seu alcance.
Na verdade, comecei a pensar que a adesão dos jovens aos partidos é um bocado como a simpatia pelos clubes de futebol: é tanto maior quanto o sucesso da equipa. Sem o sucesso do Porto desde finais dos anos 70 era impensável haver um número razoável de miúdos adeptos do Porto abaixo do Mondego nos anos 90. Assim como a atracção do Sporting diminuiu muito para a juventude no mesmo período.
Com as “jotas” dos partidos passa-se um bocado o mesmo. Só que é necessário considerar duas variáveis, a do sucesso a nível nacional (domínio do aparelho estatal central) e a do sucesso a nível local (domínio do aparelho autárquico)
Diz-me o meu irmão, já entrado nos 40, que no tempo dele (década de 70, após o 25 de Abril) na Moita e em Alhos Vedros só havia duas ou três hipóteses: a malta era do PC, da UDP ou do MRPP, quanto mais à esquerda melhor. O PS era de direita e o resto nem abria pio. Com o tempo, os do MRPP passaram-se quase em bloco para o PSD, os da UDP ficaram na mesma (agora estão no Bloco, mas mais velhos) e os do PC alaparam-se às vantagens do poder local (um até já chegou a Presidente da Câmara).
Quando a nível nacional os ventos mudaram, assim se foram mudando as vontades e crenças de alguns (muitos!!!).
No meu tempo, fim de anos 80 e primeira metade de 90, assisti por cá e em Lisboa a fenómenos muito giros. Primeiro, tudo alaranjou; a seguir, tudo rosou. Agora, mais para o fim, tem sido a febre do Bloco de Esquerda, que ninguém percebe ser uma estrutura para os velhos mais velhos e empedernidos herdeiros dos anos 60, sempre ávidos de poder, captarem a juventude tenra e inocente (estes não comem crianças, mas gostam de jovens).
Como a nível local, o PC foi resistindo, os dilemas dos jovens do concelho da Moita foram muitos porque, se queriam vantagens imediatas a nível local, deviam permanecer em domínios tradicionais (no PC), enquanto se pretendiam carreiras mais promissoras a médio/longo prazo as apostas tinham que ser outras. A JSD teve o seu período áureo a meio do cavaquismo e muito foi o menino que se governou; quando a laranja começou a apodrecer, foi ver a migração juvenil (e não só, pois os seniores já foram jovens e sabem como as coisas se fazem) para o PS. Cá no concelho, com o avanço eleitoral dos socialistas, foi um ver se te avias de jovens a descobrirem a sua vocação socialista, versão guterrista, tudo a salivar pela hipótese de um sucesso, mesmo que à tangente, como no Barreiro.
Como a viragem nacional para o PSD foi muito rápida, e ainda está trémula, é mais seguro o pessoal apostar na rosinha e tentar dar nas vistas nas estruturas locais do PS.
Vem isto tudo a propósito de alguns textos que surgem na imprensa local de jovens activistas partidários de um socialismo que eu gostaria que me soubessem dizer qual é (o dos livros que o Soares pai guardou na gaveta e agora desenterrou ? o guterrista, versão católica ? o soarista júnior, que ninguém percebe ? o do Ferro, que tem inveja de não ser bloquista ? o da esperança pragmática do tacho local ?), que produzem aquele tipo de texto redondo, que não vai dar a lado nenhum, mas que satisfaz muito o ego por se ver a cara estampada nas páginas de um jornal (ou o que por vezes passa por isso) ou o nome impresso em letra de forma.
Com efeito, o discurso de alguns dos “jovens” actuais é muito pobrezinho pois, à falta de conhecimentos ou convicções, restam os lugares comuns ou as tácticas do momento com vista a alcançar ou manter o poder. Ou se refugiam em banalidades vagas de carácter geral (supostamente sobre o mundo), ou em banalidades vagas de carácter particular (supostamente sobre o concelho).
Vem tudo isto a propósito da leitura de dois textos de uma jovem luminária socialista do concelho que padece do chamado vazio de ideias coberto de muita conversa fiada com floreados inúteis ou redundantes.
Embora não goste de fazer acusações às pessoas, mas aos percursos ou às ideias, não posso deixar de identificar o jovem (é da minha geração, pelo que isto não se trata de paternalismo) Hélder Pinhão como um destes activistas políticos locais que com muita pretensão nada trazem de novo ao debate. No texto “Concelho da Moita – Uma responsabilidade de todos” (O Rio nº 153), HP perora sobre o oportunismo político das obras e publicações da Câmara Municipal da Moita. Ora bem, o caríssimo terá razão, mas nada disso é novo e até tem barbas brancas, para além de que está por provar que os socialistas sejam melhores, a avaliar por muitos exemplos de autarcas socialistas com a camarada Edite à cabeça, condenada por aproveitamento indevido de publicações autárquicas para fins eleitoralistas, seguida da camarada Fátima (em fuga aos tribunais), do camarada Abílio (preso no momento em que escrevo e me lêem) ou dos camaradas Narciso e Manuel (prontos para formar milícias de peixeiras em Matosinhos). Por isso, estas superioridades morais de quem tem o rabo mais que preso não ficam lá muito bem, mas sempre se pode tomar a coisa por ignorância da juventude ou falta de leitura da imprensa nacional.
Quanto ao texto “As Europeias” (Jornal da Moita nº 209), em que o jovem já se assina como “autarca” (bela profissão) entramos já no domínio da pura exibição do lugar-comum mais rematado sobre temas de dimensão nacional. Não sei se a publicação destes textos dá créditos para a subida nas estruturas partidárias, mas é o que parece. A defesa da imagem do cartão amarelo ao governo é feita com uma subtileza e uma riqueza argumentativas ímpares, conseguindo-se em poucos parágrafos uma acumulação de clichés que o Jorge Coelho ou o João Soares, apesar da prática, teriam alguma dificuldade em igualar. Populações espoliadas, pânico dos agentes económicos, falta de sensibilidade social, expectativa do ser humano, obsessão do défice, hipotecar a saúde, são tudo mimos que, mesmo que referindo-se a realidades, podiam ser menos rasteiros e óbvios. Por uma vez, podia-se tentar a via da originalidade, sei lá, de uma ideia própria que não papagueasse a cartilha. Enfim, é o que se pode arranjar nos tempos que correm.
Se o último governo do Guterres e este do Durão é o que se arranja para governar o país nos dois maiores partidos do sistema (mais o PP), o que se poderá exigir das esperanças autárquicas locais ?
Então o parágrafo final, de crítica à CDU, é um outro espectáculo do que estas esperanças socialistas consideram ser discurso de combate político
Nota final: Já repararam que não há líder da JS que algures antes dos 30 anos não se passe para o Parlamento Europeu, como estratégia para governar a vidinha ? Ele foi o Tó Zé Seguro (já é quase um veterano, esta jovem ex-esperança), ele foi o Sérgio Sousa Pinto (aquele empertigadote que parece querer assumir a herança do Marocas), ela é a Djamila Madeira (que bem gritou até ficar em lugar elegível). Só não me lembro se foi o Sócrates, mas de calhar apenas foi a excepção que confirma a regra.
José Silva
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