quarta-feira, dezembro 03, 2008

O AVP no Brasil



A Revista Zé Pereira, do Rio de Janeiro, Brasil, publicou as duas visões dos dois editores do AVP sobre o acordo e o desacordo ortográfico, visto que o AV2 acorda e o AV1 discorda...

O AVP agradece ao Zé José a publicação dos textos nesse conceituado Blog Carioca de grande divulgação da cultura do Rio e do Brasil.

Pode ver na revista, mas aqui estão os textos enviados:

"Comecemos pois com o texto a favor do acordo do AV2:

Que este acordo ortográfico seja eterno enquanto dure !

A realidade da língua portuguesa é que é mutável e mutante.
Miscegenada e misturada, em que o todo vale mais que as partes, mas as partes são por si um todo.

As partes da nossa língua portuguesa são os países que a falam, especialmente o Brasil, que em 1937 ainda escrevia desta maneira, mais afrancesada que portuguesa... Isto foi antes da revisão da ortografia feita de modo independente do português escrito em Portugal.

Formulário Ortográfico de 1943

"Insomnias

Segundo um jornal inglez descobriu-se um meio efficaz de combater a insomnia. dormindo-se a noite inteirou deliciosamente. Basta, para isso friccionar a cabeça com uma escova de roupa. O attrito dos cabellos da escova com os cabellos da cabeça, desenvolve certa electricidade productora do somno.
Para os que têm cabellos, o problema está resolvido. Mas para os carecas?

Revista-Vamos Ler, Rio de janeiro, 11 de Fevereiro de 1937."

Não admira que tenham ratificado sozinhos esta mudança de ortografia, porque
tenho a certeza que os Brasileiros em 1937 falavam o português da maneira gostosa com o falam até hoje, mas tinham de escrever desta maneira arcaica e cheia de letras em duplicado, que é um verdadeiro atrofio à liberdade expressiva e um cinto de castidade ortográfico do qual se tinha perdido a chave... como os portugueses ainda hoje o escrevem em muitos casos, por isso mesmo, não tendo havido acordo ortográfico entre Portugal e o Brasil em 1945, graças a Deus que o Brasil reformou a sua ortografia em 1943, simplificando a escrita. Portugal tardiamente vai reformar a ortografia e já não era sem tempo...

Quanto mais a língua falada se aproximar da língua escrita mais perfeito será o nosso idioma comum e mais universal se tomará, universal talvez não, mas galático certamente!

(O português com este acordo ortográfico, é uma língua já preparada para a comunicação com os extra terrestres, como muitos de vós já o sabeis)

Os outros países lusófonos, acabarão por aceitar o acordo ortográfico, como nós aceitamos muitas palavras novas africanas que enriqueceram o nosso léxico em Portugal como por exemplo: bué e maningue, que significam as duas, muito.

A língua portuguesa é por isso um património vivo de que todos os seus utilizadores, que, para mais de 220 milhões, contribuem para o seu enriquecimento constante.

O português PT, BR etc. na sua vertente diversificada na escrita, não faz por isso sentido, mas faz todo o sentido na sua oralidade diversificada, nos regionalismos verbais e literários que acrescentam riqueza ao português global. Ninguém põe em causa a liberdade de se falar ou escrever a língua comum portuguesa conforme os seus utilizadores o queiram e implantando-lhe ou supimindo-lhe o que bem entenderem.

A simplificação da escrita é por isso necessária para a evolução do português e para que cada vez maningue, seja mais falada e escrita no mundo.

Isso é que será bué da fixe.

Viva pois o acordo ortográfico e que seja eterno enquanto dure!

AV2

O AV1, só para contrariar, envia a sua opinião sobre o acordo, estando ele em desacordo com o acordo:

Se há Acordo Ortográfico eu sou contra!


Primeiro que tudo, porque gosto de estar contra é bom e sabe melhor. Estar contra tem qualquer coisa de mais prazenteiro e evoca algo com um aroma de sensualidade, que me desculpem os maus pudicos. Mente perversa, eu sei, mas estar contra alguém, desculpem, algo, dá um pouco de tesão só de pensar. Quero dizer, penso eu que sou assim do contra e gosto de estar contra.
Mas há coisa mais sem jeito que um Acordo ortográfico, mesmo para se estar contra ou de encontro, que é o contrário, não o parecendo?
Haver até haverá, mas não foi isso que aqui me encomendaram.
Aqui disseram-me para explicar porque estou contra o Acordo Ortográfico e eu aproveito.
Estou contra o Acordo Ortográfico porque é coisa de Língua e sendo coisa de língua eu gosto de estar contra a menos que seja língua que venha de encontro à minha. Nesse caso sou a favor e até muito. Mas aqui não bem de encontro, vai-se afastando, o que é pena.
E afastando-se estou contra.
Não gosto que as palavras minhas velhas conhecidas se transformem sem ser eu a decidir isso. Não gosto que o ótimo perca o seu pê que é uma letra que muito estimo e não quero ver perdida.
E na acção perdendo o cê, perde-se aquele encaixezinho ali no meio da palavra que parecem quase dois amantes enroscadinhos por entre os lençóis. Ação é coisa solitária, não gosto, a menos que seja muito necessária em virtude de carência extrema. Em podendo quero ter acção, assim a dois.
E também não gosto que palavras amigas percam seu chapéuzinho contra sol e intempéries, em especial o pêlo que sem seu ê fica um pouco pelado de mais para mim. Pêlo que queira ser pêlo não pode ser pelo.
Já me faz alguma espécie que a minha língua fique arranhando duplos erres, sem um tracinho pelo meio, e seja obrigado a escreve autorrádio, ou que cicie duplos esses sem necessidade nos autosserviços.
Sou bicho de costumes, não gosto deste tipo de novidades.
E não venham com as razões económicas ou econômicas que isso então não pega mesmo. Não gosto que o prazer da língua obedeça a cifrão, seja ele qual for. Prazer deve ser livre e usado como bem entenda o prazenteiro linguarudo. Prazer de língua não tem preço, por isso não quero saber se fica mais barato ou mais caro. Quase quebra minha erecção, ou será simples ereção?, e meu afecto fica diminuído em afeto podendo tornar dececionante o que poderia ser decepcionante, que é coisa bem mais composta.
E assim é, o Acordo Ortográfico não me é querido e, pensando bem, é coisa que me desprazenteia como poucas. Porque invencionar palavras deve ser coisa livre e não decretada por despacho de gente engomada. Palavra é coisa séria quando não é divertida, inesperada, surpreendente assim mesmo com dois és. Palavra deve ser coisa que baila na boca quando apetece, não assunto de Estado discutido por inteletual com falta de c. C de cecso, está mais que visto.

AV1"

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