quarta-feira, agosto 04, 2004

Os Bois e a Política ou a Política dos Bois

Não há férias para os nossos colaboradores.
Agora é o António da Costa com novo artigo sobre política local
A seguir é o José Luís Pinto com um contributo sobre os Malucos da Terra.
Para os próximos dias são as memórias políticas do José Silva
Até parece que somos pagos para isto.



Como já expus em análise anterior, o PS prepara-se para, em princípio para breve, ver cair-lhe no regaço a Câmara da Moita, sem que para isso tenha feito nada de assinalável mérito.
Um pouco à semelhança do que se passou no Barreiro, também na Moita a incapacidade da gestão autárquica do PC conduziu a uma erosão profunda do seu eleitorado o que, aliando-se a questões demográficas, tem consequências eleitorais naturais e óbvias para qualquer observador.
Neste contexto, o PS apresenta-se como o herdeiro natural do poder autárquico, mesmo que não consiga atingir os resultados das eleições para os Parlamentos Português e Europeu. No entanto,e apesar de uma aparente renovação do aparelhos partidário local, o PS do concelho da Moita caracteriza-se – a avaliar pelos documentos que divulga publicamente – por uma ausência de ideias novas ou mesmo de propostas concretas que só faz jus ao seu alinhamento socrático na luta interna pelo poder.
Mas, apesar desta vacuidade da oposição mais próxima, o PC sente bem a ameaça e, com a gestão presente, procurou inverter a situação de marasmo em que o concelho viveu longamente, em especial fora da sede do poder.
Algumas obras públicas de certo vulto, uma tentativa de patine cultural, e uma renovação dos esforços de relações públicas não se adivinham, apesar do esforço, suficientes para contrariar a força natural das coisas.
Perante o perigo de ver acabar três décadas de poder, os responsáveis autárquicos actuais lançaram mão daquele que é o último recurso disponível para tentar ganhar uns votos-extra em terreno hostil.
Ou seja, e ao arrepio de toda uma ortodoxia com profundas raízes, viraram-se para os bois e abraçaram a causa taurina com a força do desespero
Os aspectos mais caricatos desta viragem já foram denunciados aqui em textos do Manuel Pedro, mas nunca é de mais sublinhar o denodo com que a CMM passou a apoiar já não só as festividades taurinas locais, como a promovê-las com vigor e a subsidiar tudo o que seja organização ou publicação em que surja o rabo de um boi ou a teta de uma vaca.
A imprensa local sobrevive com dificuldades e, tirando as agendas e boletins municipais de propganda oficial, as publicações culturais dignas desse nome inexistem no concelho da Moita. No entanto, a revista Tauromaquia brilha com as suas cores impressas em papel couché conseguindo sobreviver afortunadamente mesmo se a sua distribuição – pasme-se – é gratuita.
Em post recente, noticiava-se neste blog a existência de novas verbas cedidas pela cãmara a organizações locais ligadas aos espectáculos taurinos.
Dirão os entendidos, em especial os que se consideram antropólogos, que é uma forma de projectar a Moita.
Certo.
A Moita projecta-se; o problema é que o resto do concelho fica na sombra.
E, pior, esta aliança política/bois é apenas uma derradeira estratégia dos detentores do poder moiteiro tentarem obter apoios num momento em que eles escasseiam.
E nada melhor que tentar pescá-los (melhor seria escrever “pegá-los”) num terreno tradicionalmente adverso à implantação do PC.
Penso, todavia, que esta é uma pega destinada ao fracasso, porque os bois, mesmo com a aparência de mansos, são falsos e não conhecem a mão que lhes deu de comer.
De certa forma, fazem bem, porque quem os engorda agora, pode querer matá-los amanhã.
Mas deixemo-nos de figuras de estilo de gosto duvidoso.
Peguemos os bois pelos cornos ou passemos a dar os nomes aos ditos cujos:
A CMM actual converteu-se aos bois por conveniência, e os apaniguados locais dos ditos ruminante quadrúpedes muito agradecem, apanhando o que podem, enquanto podem.
Daqui por uns tempos veremos quem se fica a rir.
Eu, pela minha parte, há muito que me rio de forcados de última hora, armados em grandes heróis, que levam a bela da cornada quando menos esperam.

António da Costa

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