Um dos sociólogos portugueses que menos estimo (Boaventura Sousa Santos, um rebelde de serviço, sempre disponível para um subsídio do Estado) é o mais distinto arauto entre nós da teoria das interligações entre o local e o total ou global (Um Discurso sobre as Ciências, p. 46).
Significa isto que, para ele e para os que partilham esta teoria/crença, nos tempos do conhecimento pós-moderno e da globalização (económica, cultural, política) que correm tudo se encontra interrelacionado da microescala local à macroescala planetária.
Ocorreu-me tão profunda referência (!!!) ao pensar na incipiente classe política oposicionista local quando um amigo de longa data me perguntou que posição tomaria este blog nas próximas eleições autárquicas.
Por princípio, e penso que a generalidade dos colaboradores e amigos do blog concordarão, o nosso posicionamento deve ser de apoio a qualquer movimento cívico que se apresente a votos com um projecto que recupere para Alhos Vedros um protagonismo que lhe é há muito negado e que promova uma requalificação (a sério, não daquelas que a CMM apresenta no papel) das condições de vida existentes.
Não me querendo adiantar muito cedo, considero, porém, que na ausência de um movimento deste tipo, e perante o cenário que hoje observamos, a neutralidade é a única opção, seja ela expressa por voto branco, nulo ou mesmo abstenção.
E isto porquê ?
Sejamos claros. Ninguém, como nós, tem maior tristeza e aversão pela forma como os actuais detentores/ocupantes do poder moiteiro o exercem de forma discriminatória, desigual e, digamo-lo sem receios, ignorante e incompetente.
Diz-nos um historiador de renome (Carlo Cipolla) que são tantos maiores os danos da estupidez humana quanto maior poder tem uma pessoa estúpida. Para mim, é esse o caso actual do poder da Moita.
No entanto, não confundo essa aversão a personagens menores com as forças partidárias em que, transitoriamente e enquano dá, esses figurões militam. Significa isto que não confundo Joões Lobos e Ruis Garcias com todo o PC local. Existe nele melhor do que isso.
Por outro lado, tamanha recusa do actual poder moiteiro poderia levar-me para os braços das forças de oposição no concelho da Moita com capacidade de funcionarem como alternância ou alternativa.
Ora é aqui que o problema se coloca de forma grave.
Aparentemente inexistente, o PSD parece ter deixado o terreno da direita ao activismo do CDS/PP, enquanto à esquerda, mesmo se é devido respeito à presença de décadas do MRPP ou à moda actual do BE, resta-nos um PS em aparente crescendo.
Aliás, se tomarmos como referência a intervenção na comunicação social local/regional, são apenas os dirigentes locais do PS e do CDS/PP que aparecem com voz activa.
Ora, e volto a repetir para o sublinhar, aqui é que o problema se coloca de forma (muito) grave.
Porquê, dir-me-ão Eurídice Pereira (EP), Hélder Pinhão (HP) e Titta Maurício (TM), os escribas mais empenhados da oposição local ?
Porque, minha senhora e meus senhores, vocês estão noutra, estão a pensar em termos do que podem alcançar a nível nacional através dos vossos partidos (e não me venham com aquela de que estamos afazer juízos de intenção). A luta a nível local é apenas instrumental, um meio ao serviço de fins que estão muito para além deste concelho.
E isto é facilmente demonstrável, bastando ler o que escrevem, seja para O Rio, seja para o Distritonline.
Se passarmos a pente fino os vossos textos, em particular de EP e TM, o que encontramos é uma intensa tentativa de chegar à frente, ganhar visibilidade e posições nos órgãos nacionais das vossas agremiações partidárias. O que analisam ou debatem são assuntos de âmbito nacional, o que elogiam são os vossos líderes nacionais, o que criticam são os vossos adversários a nível nacional.
Quando é que, em todo este ano de 2004 por exemplo, se ocuparam em divulgar propostas concretas de acção para o concelho da Moita ou, mais importante para nós, para Alhos Vedros ?
As vossas críticas ao PC no poder na Moita são as tiradas vagas do costume, sem propostas alternativas – CON-CRE-TAS – que se vejam.
Há meses atrás, quando aqui no blog se desafiou TM para o fazer, ele acabou por reconhecer não estar em condições para apresentar desde já propostas concretas. Quanto ao PS, para além das críticas à gestão municipal moiteira (tarefa por demais fácil, que até nós conseguimos sem estarmos no poder em qualquer freguesia ou termos acesso a informação reservada), pouco ou nada se encontra, salvo umas tiradas fraquitas de HP (já agora, rico, estava muito bem naquelas fotos do Congresso do PS).
Por tudo isto, são muitas as minhas reservas ao papel da oposição local, muito mais interessada no plano nacional. A intervenção que por cá fazem é apenas uma forma, como já se disse várias vezes neste blog, de ganhar créditos nos aparelhos partidários nacionais.
Por tudo isto, não encontro uma oposição credível neste concelho, capaz de mobilizar qualquer réstia de entusiasmo que me tenha ficado após 30 anos de poder PC.
Será isto uma atitude de rendição, de capitulação, de abandono de terreno ao adversário, de ajudar a perpetuar o que está, por omissão ?
Talvez, talvez...
Só que prefiro um cenário de luta aberta contra o que discordo do que alianças de circunstância para a tomada do poder por parte de quem, com o manto do compromisso, apenas se prente promover a si mesmo.
Uma coisa vos garanto, a mim certamente não encontrarão a solicitar subsidiozinhos à CMM, seja qual for a cor do poder lá instalado no futuro, nem a negociar lugarzinhos em troca de apoios.
A mim, e a nós no blog, chega-nos o papel de consciência incómoda.
E já dá muito trabalho.
António da Costa, 16 de Novembro de 2004
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