Apesar de meio parado, chegou-me às mãos um publicação recente da Câmara da Moita com o título Retrato em Movimento – concelho da moita (as minúsculas são mesmo assim na capa, não é ironia).
Confesso que, para meu enorme espanto, o conteúdo é sério, útil e, digamos mesmo sem pudores, bom (!!!).
Atendendo à desgraça que caracteriza os textos do site da CMM e a pobreza dos materiais de divulgação do património local, não estava à espera e mais de 150 páginas globalmente classificáveis como francamente aproveitáveis.
Por uma vez, se deixa clara a ancestralidade de Alhos Vedros como unidade municipal tardo-medieval e a Moita como um aglomerado populacional que, em virtude de alterações nas ligações fluviais para Lisboa, só cresce a partir de finais do século XVII.
Por uma vez se reconhece a importância das festas em honra de N. S. dos Anjos, centradas na Igreja de São Lourenço, que no século XVI eram as mais importantes desta parte da margem sul do Tejo, estando obrigados a nela comparecerem as populações de todas as localidades dos actuais concelhos da Moita e Barreiro, mesmo se é esticada ao máximo da plausibilidade (à 1ª metade do século XVII) a origem dos festejos em honra da N. S. da Boa Viagem da Moita.
Por uma vez, se faz um inventário razoável do património edificado de relevo que resta no concelho.
Por uma vez, é deixada de parte aquela visão foclórica das tradições taurinas multisseculares da Moita, confirmando-se que a realização de espectáculos com touros na Moita só têm registo documental depois de 1834 e que só existiu o que se pode chamar como Praça de Touros em 1872.
Por uma vez, se faz uma abordagem dos elementos naturais (flora e fauna) do ecossistema das zonas húmidas ribeirinhas, cada vez mais soterradas por entulhos.
Se fica ainda muito por fazer – nomeadamente a reconstituição da cartografia da vila medieval de Alhos Vedros, da qual a memória os vestígios têm vindo a ser paulatinamente apagados ou uma transcrição das actas das vereações do concelho de Alhos Vedros no século XVII – não se pode deixar de dizer que este parece ter sido um trabalho feito com seriedade.
E, por vezes, isso chega.
Já não se pede talento, esforço, profundidade, etc.
Por vezes, já chega um mínimo de seriedade na atitude com que se enfrentam as coisas.
Para mim, que já tenho poucas esperanças, já me chega.
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