domingo, fevereiro 01, 2009

Artigo de Mário Crespo no JN

Mário Crespo – Jornal de Notícias – 26.Janeiro.2009

Acção executiva
Independentemente da verdade, José Sócrates pode já não estar em condições de continuar a chefiar o Governo. O envolvimento de familiares seus num processo de despacho governamental delicado cria-lhe fragilidades que o vão acompanhar daqui para a frente.

O ambiente de alegadas influências em decisões governamentais (supostas ou reais) para extorquir contrapartidas dá um carácter de favoritismo na prática governativa que, falso ou verdadeiro, lhe criam uma pressão política intolerável.

Em política, ao nível a que José Sócrates chegou, pura e simplesmente não há presunções de inocência quando há indícios insofismáveis. Não há comunicados com desmentidos nem notas da Procuradoria a dizer que hoje está tudo bem mas amanhã não se sabe, que lhe valham. Será este julgamento popular de José Sócrates injusto? É. Mas é assim. A infelicidade é que no ponto da pirâmide executiva onde José Sócrates se encontra o que parece já é, mesmo antes de o ter sido. É uma vulnerabilidade que vem com o território.

José Sócrates devia sujeitar-se ao julgamento popular que vem com o voto e aí saber se Portugal acredita na sua boa-fé e na ingenuidade do seu tio e primo, e se este conceito de "família" é compatível com a maneira como em Portugal se entende a função governativa. Está em jogo o bem-estar de uma população de dez milhões de pessoas e a necessidade de tomar medidas rigorosas e duras para enfrentar a crise. Está em jogo a respeitabilidade da imagem de um país que a esta hora está a ser retratado nos media estrangeiros na síntese dos que vêem a realidade de fora através dos desapaixonados despachos das agências noticiosas. Nessa óptica, o que aparece é o chefe do Governo de Portugal no centro de um furacão que envolve pagamentos avultados por favores oficiais num processo que entronca no estrangeiro com offshores de familiares metidos pelo meio. Justa ou injustamente a Standard and Poors vai adicionar este elemento à contabilidade do rating da República.

No mundo da banca e da finança internacionais também não há presunção de inocência. Na zona da vida pública em que José Sócrates se encontra, com a necessidade de executivo claro firme e duro que a crise exige, com a ameaça de todo o Portugal se tornar numa gigantesca Qimonda, a verdade ou mentira de uma insinuação são valores subjectivos de menor importância.

O momento não se compadece com as delongas da justiça à portuguesa. É preciso indagar se o povo aceita renovar a confiança em José Sócrates nestas envolventes ruidosas e cheias de incógnitas, ou se vamos continuar no "pântano" profetizado por António Guterres quando se demitiu, (curiosamente em data muito próxima do início de toda esta questão do Freeport). Alguém vai ter de tomar uma decisão executiva porque, face ao que já está escrito e dito, não chega clamar pela celeridade da justiça, que não existe, nem pedir o aval diário do até-aqui-tudo-bem-depois-se-verá da Procuradoria. José Sócrates, por si, ou Cavaco Silva, por ele, terão de tomar a única decisão possível, que é fazer o primeiro-ministro sujeitar-se ao juízo do voto antecipado que relegitimará, ou não, o seu Executivo.

6 comentários:

Anónimo disse...

Qualquer cidadão, tenha que posição tiver, não está acima da justiça. Mas também não pode estar abaixo por que tem um alto cargo, neste caso o mais alto cargo executivo da política. Ou seja, o direito à presunção de inocência até ser acusado ou inocentado. Qualquer cidadão tem normalmente tios e primos, e outros familiares, podem-se escolher os amigos, mas os familiares não. Como se sabe e ouviu o tio de José Sócrates até é e sempre foi do PSD, tendo sido deputado municipal em Setúbal pelo PSD e dito na TV que "se vier a saber que foi o PSD quem criou toda esta tarmóia não votaria mais no PSD". Ora, também não está provado que houve subornos ou luvas recebidos pelo tio e primo de José Sócrates, mas até pode haver, e Sócrates nada saber. Diz a justiça que não há arguidos e nem suspeitos, nem um, pelo que é prematuro julgar-se José Sócrates na praça pública como tem sido feito. E se tudo não passar de uma cabala ou um golpe de terceiros que envolveram injustamente o seu nome? Será justo demitir ou demitir-se o primeiro-ministro e antecipar as eleições? Numa altura de grave crise internacional e nacional, numa altura em que é preciso governação e forte para atacrar essa crise, ganharia o país em ter eleições antecipadas quando a opinião pública é todos os dias intoxicada com abundantes dados novos mas que nada trazem de avanço ao esclarecimento do caso e da justiça? Agora até a mãe de Sócrates vem a lume no Correio da Manhã dizendo que comprou a pronto um apartamento no prédio do filho e que o comprou a uma offshore. E então, que tem isso de anormal ou ilegal, e ainda por cima quando tal transacção de compra e venda foi realizada em 1998? O caso Freeport aconteceu em 2002. Também a opinião pública tem sido intoxicada com os projectos que Sócrates, como engenheiro técnico civil assinava para a cãmara da Guarda (processo levantado em sessão de câmara a semana passada pelos vereadores do PSD naquela autarquia. Porquê agora, novamente agora?)em 1983, há mais de 25 anos atrás? E volta-se a falar no ano de licenciatura de Sócrates como engenheiro civil, o que foi apenas 1 ano para passar de bacharel a licenciado (ele era bacharel em engenharia civil, 4 anos então, pela Universidade de Coimbra, curso que completou com bom aproveitamento então. Também foi por favores?). Se a Univ.Independente lhe facilitou fazer esse ano o que tem isso de especial? Era ministro ou primeiro-ministro? Não, não era, e as facilidades que certas universidades e escolas dão a muitos alunos é algo normal nestes país. Actualmente para ter uma licenciatura, pelo processo de Bolonha basta ter 3 anos. Sócrates tinha 4 feitos com aproveitamento, a tempo inteiro, como jovem estudante então, e para lhe darem o bacharelato, o título de engenheiro técnico civil. Já alguém ouviu chamar, neste país de doutores e engenheiros, engenheiro técnico a alguém? Pois até isso atacaram o home na altura e um dia destes dizia uma radialista do RCP que Sócrates não era Dr. nem Engº. Só são engenheiros os que a Ordem reconhece, é isso? E os milhares de pessoas que são nas empresas chamados de Dr. e Engº e que têm curos que não têm Ordem ou não reconhecidos por estas, são cidadãos menores é? Não podem ser chamados pelos títulos a que os seus cursos creditados pelos Ministérios da Educação de então lhes deram esse direito? Em 2005 levantaram este caso Freeport antes das eleições. Foi provado que nada havia contra o homem e foram até condenados por fuga de informação a processo em segredo de justiça um funcionário da PJ de Setúbal, uma jornalista directora do Independente e o secretário-geral do CDS, como calúnias e cabala por processos maliciosos contra o cidadão José Sócrates. Agora, 2009, em ano de eleiçoes novamente (coincidências dirão, será?) lá vem o caso Freeport, lá vêm novamente os projectos assinados na câmara da Guarda, a licenciatura na Independente (que não é a licenciatura, é 1 ano para conferir a um bacharelato de 4 anos na Univ.Coimbra o grau de licenciatura). Mas, por que há 4 anos o caso Freeport não passou, agora, vamos saber certamente como foi, com a conivência sabe-se lá de quem, voltaram com dados mais fortes, mais alarmantes da opinião pública. Mas o Sr. Mário Crespo e outros mais interessados que ele (cujas ligações ao PSD são conhecidas), querem eleições antecipadas. Porquê? por que agora, sem nada esclarecido, com a opinião pública dividida e com dúvidas, pode ser que assim tirem a maioria absoluta ao homem. Não gosto pessoalmente de Sócrates e da sua política. Sou socialista mas não apoiei a sua moção ao congresso do PS e não acho que ele seja bom para o futuro do PS, até admitindo que o possa ser no imediato para o país, não para os trabalhadores, mas não aceito e tenho muitas dúvidas desta grande campanha de ataque sujo ao homem e não ao político. Combata-se as suas políticas, que estes fait-divers têm distraído completamente, mas no terrenos da democracia e do combate político. Como se diz no futebol jogue-se contra para ganhar no terreno de jogo e de forma limpa, não na secretaria ou no jogo pelo lesionar intencionalmente o jogador adversário para ele não poder jogar livremente. Assim não.

Anónimo disse...

"Qualquer cidadão tem normalmente tios e primos, e outros familiares, podem-se escolher os amigos, mas os familiares não"

Mas os familiares de Sócrates indiciados, declaram todos ser inocentes, será que o anónimo das 4.40, sabe qualquer coisa que nós não saibamos?

PJ

Anónimo disse...

Caro anónimo das 5:15 PM, naturalmente que não sei nada mais do que leio nos jornais, e vejo nas TVs,todos e todas, documento-me e vou fazendo os meus juízos, que naturalmente podem estar também equívocados, pois as fontes que tenho provêm dali. Pessoalmente não conheço o Sr. Sócrates nem nenhum dos seus familiares. Quanto aos familiares dele estarem indiciados, não sei se o estão perante a justiça oficialmente, aliás parece que ninguém sabe, tal como não se sabe o que fez ou não fez a justiça. Como deveria já ter feito e não deixar arrastar 4 anos sem que aparentemente algo tenha feito. Quando me refiro aos familiares de Sócrates, refiro-me ao que ouvi do tio na Tv e li deste e do primo nos jornais e, acho que se nada têm que ver com favores ou corrupção, perderam uma boa oportunidade de estar calados e não dizer disparates que em nada beneficiam o seu familiar e em nada esclareceram a opinião pública, antes pelo contrário. É por isso que eu digo que com familiares destes ... quem é que precisa de inimigos? E inocentes podem ser, mas que se meteram a eles a ao Sócrates numa confusão, lá isso meteram.

Anónimo disse...

O 1º ministro devia já e antes de tudo dizer.
Relativamente aos meus documentos pessoais relacionados com a minha actividade de ministro nos anos de tantos a tantos bem como as minhas contas bancárias estão desde já disponívies para serem investigadas.
Quero lá saber se sou ou não considerado pelos Ingleses ou pelo MP suspeito. Os portugueses precisam que de 1º ministro livre destas acusações, por isso sou o 1º a fazer tudo para se descobrir a verdade.

Anónimo disse...

ainda bem que o Paulinho Portas mandou fotocopiar todos os seus documentos secretos, enquanto minstro da defesa. Assim, se houver algum ratito tirado debaixo do tapete, ele pode mostrar o seu diário

pité disse...

O PS é o braço politico da maçonaria; a maçonaria é a mafia dos jogos e dos interesses, e Sócrates o seu pião mor. Estes tipos mandam no pais desde 1910, fazem o que querem e o povo aparentemente gosta!