Será que se contaram as espingardas todas?
Será da maior importância tentar perceber o que se passa na Autoeuropa. Rejeitado o recente acordo pré estabelecido entre a Comissão de Trabalhadores e a sua Administração pela mínima expressão de apenas 129 votos (1381 contra e 1252 a favor do acordo), importa de imediato perguntar aos trabalhadores que votaram contra se de facto pensaram nos trabalhadores contratados a prazo que proximamente serão despedidos com a recusa deste acordo, se “contaram as espingardas todas” ao decidirem de tal forma, ou se reflectiram no que será o seu futuro se quem tem todas as armas (a Administração) decidir utiliza-las em seu favor, aplicando o Lay Off com a respectiva redução do salário mensal líquido, equivalente até a um máximo de 25% em cada trabalhador.
Eu compreendo, quem habituado a respeitar os princípios pela defesa dos direitos adquiridos e cumprir à letra a lógica (muitas vezes esquecida) da luta de classes, se veja agora confrontado com uma realidade que pode passar pela redução de alguns direitos para o qual alguém intencionalmente não lhes alertou para tal eventualidade, e deliberadamente continua a esconder dos trabalhadores da sua necessidade, tentando desta forma aproveitar-se politicamente do descontentamento que resultar do fracasso das negociações.
É inquestionável, e apesar de todas as teses que nos querem fazer querer o contrário, a luta de classes continua sempre presente em todas as relações laborais, continuando os patrões a utilizar todas as estratégias para retirar cada vez mais dividendos (aproveitando-se da crise) apoderando-se da mais-valia resultante da exploração da mão-de-obra assalariada.
Apesar de esta realidade conviver connosco diariamente, penso que os trabalhadores da Autoeuropa terão que ter em conta o momento presente, avaliar as consequências da rejeição de um acordo negocial e aproveitar a situação que lhes seja mais favorável, mesmo que momentaneamente não lhes pareça ser a mais aceitável.
A salvaguarda dos postos de trabalho é no momento presente um bem a preservar (não necessariamente a todo o custo, pois nem tudo o que os trabalhadores nas fábricas da Alemanha já aceitaram poderá ser bitola para Portugal) mas que implica fazer uma avaliação daquilo que pensamos ser mais valioso no momento presente defender e sabermos “com que espingardas poderemos contar a nosso favor”.
“Contadas as espingardas”, aos trabalhadores da Autoeuropa resta unicamente a seu favor um bem que é inquestionável, que são os princípios e os valores na defesa dos direitos que o movimento operário foi conquistando até aos nossos dias. Por outro lado, a sua Administração (a quem o mercantilismo se sobrepõe aos princípios dos trabalhadores) valendo-se do poder económico que detêm, tenta utilizar todas as armas que dispõe e, na ausência de qualquer acordo, ameaça com o despedimento de cerca de 250 trabalhadores contratados e a aplicação do Lay Off com as suas consequências de que os trabalhadores são bem conhecedores.
É neste contexto que, em minha opinião deve prevalecer o bom senso, embora reconhecendo mais uma vez que é sempre o lado mais fraco que acaba por ceder.
A luta de classes é um processo constante e alvo de contradições, muitas vezes objecto de negociações, de avanços ou de recuos momentâneos, para que os trabalhadores possam mais tarde proceder a uma avaliação da situação e recuperar o que foi perdido quando a correlação de forças não lhes era favorável.
Esta é uma realidade histórica que não é desconhecida de quem neste momento aposta na radicalização do processo negocial na Autoeuropa, mas que, apesar de tudo (fingindo ignorar os manuais Leninistas de onde decoraram estes ensinamentos) tentam criar as condições para que não haja acordo entre os trabalhadores e a Administração, apostando no “quanto pior melhor” para mais facilmente explorarem o descontentamento dos trabalhadores e, como já vem sendo hábito, retirar daí dividendos políticos.
Uma coisa é certa. Embora o acordo não seja o ideal, é sempre preferível os trabalhadores continuarem dentro da empresa mesmo com os seus direitos reduzidos e aí aguardarem por momentos mais favoráveis para os reconquistar, do que estarem fora dela (despedidos) protestando junto ao Governo Civil de Setúbal (quando já nada mais se pode fazer) com as tradicionais bandeiras negras previamente distribuídas por dirigentes sindicais, que logo desaparecem quando o protesto se dispersar e aquela realidade deixar de ser notícia de primeira página.
É um cenário que infelizmente se tem repetido por todo o país, e é uma realidade bem dramática que muitos trabalhadores já viveram ao assistirem ao encerramento das fábricas onde trabalhavam, quando parecia ser evidente haver espaço para o diálogo que intencionalmente foi dificultado por alguns trabalhadores obcecados pela ideia de que negociar com o patrão é relegar a luta para segundo plano (como se as negociações não fossem também uma forma de luta) sendo atirados para o desemprego, devido à ganância e à chantagem das administrações mas também à irresponsabilidade de alguns dos representantes dos trabalhadores que, em obediência fiel às directrizes do seu partido, se alhearam intencionalmente da defesa dos direitos mais elementares dos trabalhadores pela defesa dos seus postos de trabalho, para privilegiarem a via da confrontação e da exploração do descontentamento que pensam ser a via que lhes dá mais votos.
Penso que os trabalhadores da Autoeuropa e a sua Comissão de Trabalhadores saberão encontrar o caminho certo para ultrapassar mais esta dificuldade, e assinar um acordo que lhes permita minimizar as suas desvantagens mas salvaguardar sobretudo os seus postos de trabalho, respondendo desta forma (a exemplo dos acordos anteriores) aos profissionais da desgraça que do interior de sindicatos e de sedes partidárias (onde se refugiaram e hoje têm o seu futuro assegurado depois de também terem contribuído para o encerramento das empresas onde trabalhavam) apostam no fracasso das negociações, esperando como abutres a melhor oportunidade para se saciarem com o descontentamento que inevitavelmente irá provocar em trabalhadores que, depois de viverem uma relativa estabilidade no emprego se poderão confrontar a curto prazo com o espectro da deslocalização da empresa e irem engrossar as já extensas fileiras do exército de desempregados.
“Saber que se vai entrar numa batalha já em desvantagem e sem primeiro ter contado as espingardas do inimigo” é um mero acto suicida que os trabalhadores da Autoeuropa decerto saberão evitar.
Carlos Vardasca
22 de Junho de 2009
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10 comentários:
O Carlos Vardasca, com as suas artérias/raízes maoistas, tem nesta matéria como em outras uma posição dúbia que na qualidade de sócio do BE ("clube" onde toda a gente serve, venham de onde vierem) reflecte o pensamento dessa organização e é uma mais valia no entendimento da ausência de estratégia clara, para ser simpático porque na verdade no BE ela é inexistente, relativamente à transformação da sociedade e ao modelo de organização política, económica e social do estado.
Para eles (BE) à parte as lutas/bandeiras de circunstância como a destruição de campos agricolas por ex. no Algarve, ou a legalização das drogas que tem o interesse que cada um entender, sobra-lhes o resto que é a defesa muito bem embrulhada e perfumada deste caduco modelo económico e social sob a capa, como se fosse possivel, de uma suposta justiça e humanização.
Por outras palavras, o que estes senhores inteligentemente especializados na não conotação com "cheiros e cores" dizem, é que esta sociedade capitalista asfixiante para quem depende do seu trabalho... pode ser "melhorada".
Fantástico!
O Vardasca diz reconhecer(?) a luta de classes, os direitos adquiridos dos trabalhadores e que não devem haver (concordo) intromissões.
Mas, simultaneamente e em contradição como bom revolucionário maoista, vai dizendo que o melhor é os trabalhadores da AE terem bom senso e amocharem, não reconhecendo aos mesmos o direito de tomarem decisões que sejam quais forem, são deles.
E só a eles competem!
A não ser que o Vardasca, ex- delegado sindical da Ariston/Setúbal, tenha abdicado da sua confortável reforma para ingressar na AE e nessa qualidade está então no direito de, como "bom educador das massas", querer orientar os trabalhadores e porque não, como na Irlanda, exigir tantas votações quantas as necessárias para aprovar a proposta do Fritz, ou do Chora. Desculpem, mas já não sei quem é quem.
Diz ainda o Vardasca que direitos adquiridos SÃO IMPORTANTES mas entende, ao contrário do constitucionalista Jorge Miranda, que não tem mal desistir da defesa da dignidade, deixar de lutar por aquilo em que se acredita, abdicar da negociação e baixar os braços que, como antigamente diziam, o calado e submisso acaba sempre por vencer e receber a recompensa.
Se não fôr nesta vida como nunca foi, será (para quem acreditar) na outra.
Porque, não tenho dúvidas, os magnânimos Boches desta terra não terâo qualquer problema em passar um cheque, desde que descontado num qualquer virtual banco do além.
Caro Vardasca, permita-me terminar com uma citação do seu texto, “Saber que se vai entrar numa batalha já em desvantagem...”.
Hum, foi então por isso que na sua condição de delegado sindical da Ariston/Setúbal virou as costas aos seus camaradas (abandonou-os) e zarpou antes do "barco" ir ao fundo.
Como em muitas histórias há sempre um mas, no caso do ex-delegado sindical e actual moralista Vardasca foi sem deixar de acautelar com a administração da Ariston uma negociaçãozinha pessoal e monetária que hoje lhe garante o futuro e permite cantar de galo.
Com os respeitosos cumprimentos,
O vosso melhor amigo.
O Vardasca só pensa assim, porque a luta que travou com os seus companheiros na Ariston aconteceu o seguinte, a empresa fechou devido ao peso das lutas sempre a cumprir religiosamente o calendário,e o vardasca foi para o desemprego mas os outros e passo citar o MANUEL BRAVO teve o encosto do PCP e colocou-o como DIRIGENTE SINDICAL com renumeração superior á que tinha na empresa, assim tambem eu, é assim que se desemvolvem as lutas destes artistas, tão iguais e tão diferentes.
Amigos. Mais dois para trabalharem na AE. Por este andar chegará o dia em que a AE tem de rejeitar pessoal pois com trabalhadores tão bons e dedicados os Hitlers até acreditam que são os melhores.
Caros amigos (parte 1)
Relacionado com um texto que se esconde sob o anonimato de “o vosso melhor amigo” enviado para os vossos blogs e sobre o qual já não é necessário fazer qualquer esforço para sabermos de quem se trata, solicitava de vós a amabilidade de editarem este texto pois gostaria de responder às calúnias de que sou alvo e esclarecer o seguinte:
1. Sobre o artigo “Será que se contaram as espingardas todas? ou outras considerações que esse anónimo faz, nada mais há para dizer, sendo qualquer pessoa livre de fazer as considerações que quiser fazer desde que não minta, não recorra à calúnia para vomitar verborreias gramaticais e afirmações sobre o que desconhece, e não se esconda sob o anonimato por falta de coragem de o dizer directamente à pessoa que se quer atingir, como aconteceu (como já vem sendo hábito) com este anónimo que revela alguns tiques deveras perturbador da sua falta de personalidade e que o tornam facilmente identificável.
2. Sobre a minha “confortável reforma” (é assim que a classifica onde é notório uma certa inveja) ela resulta (como qualquer cidadão) unicamente da média dos salários que usufrui ao longo de uma vida de trabalho (dos 17 aos 56 anos) e dos descontos (felizmente nunca interrompidos) efectuados para a Segurança Social durante esse período.
3. Fui de facto por várias vezes Delegado Sindical e membro de Comissões de Trabalhadores das empresas onde trabalhei (MOVAUTO-Montagem de Veículos Automóveis e Ariston Electrodomésticos S.A.) eleito pelos trabalhadores e contra a vontade da aristocracia operária que dirigia o Sindicato dos Metalúrgicos, mas nunca “abandonei nem virei as costas aos trabalhadores nem zarpei do barco antes deste ir ao fundo” como afirma, pela seguinte razão (que pode ser comprovada pelos camaradas do seu partido; os tais que para fugirem ao desemprego e por afinidades partidárias, foram logo acantonados no Sindicato dos Metalúrgicos, enquanto os restantes trabalhadores mais jovens tiveram que ir para o desemprego e posteriormente tiveram que arranjar outros empregos a ganhar a miséria de 500 Euros). Passemos então aos factos que desmontam a sua mentira envolta em calúnia:
(parte 2)
a) No período em que a empresa deslocalizou a produção para a Polónia e encetou negociações com os trabalhadores, há mais de 5 anos que eu já não fazia parte de qualquer organização de trabalhadores dentro da empresa, dado que tinha entrado para a faculdade e não me era possível compatibilizar o tempo com aquelas responsabilidades e os estudos.
b) No processo de negociação com vista ao encerramento da empresa (de que, para além dos interesses da administração os seus camaradas também foram cúmplices) eu e muito poucos trabalhadores fomos os últimos a abandonar a empresa. Portanto, cai por terra a sua afirmação de que “os abandonei” uma vez que nem sequer era representante dos trabalhadores na altura nem sequer “haviam trabalhadores para abandonar” dado que já não havia mais ninguém na empresa pois nós (cerca de 80 trabalhadores, entre os quais alguns camaradas do seu partido) fomos os últimos a negociar a nossa rescisão do contrato de trabalho com a empresa.
c) As indemnizações atribuídas aos trabalhadores (entre as quais a minha) foram correspondentes aos anos de casa de cada um de nós e um pouco acima do que a lei previa (mas para todos os 80 e não só para mim) e resultaram da nossa luta por termos pressionado a administração até ao dia do encerramento da empresa (e não da generosidade de ninguém ou de qualquer “negociaçãozinha pessoal” – como afirma) o que já não aconteceu com os que se quiseram ir embora mais cedo (logo no início das negociações) com receio de não “levarem nenhum”, (apenas levaram um mês por cada ano de trabalho) embora nós os tentássemos convencer a ficar até ao fim do processo pois estávamos convencidos de que a Administração (com a pressa que tinha em se ir embora e não querer ver o nome da empresa manchado na comunicação social) ainda iria ceder e melhorar os valores da indemnização. O que veio a acontecer.
Prestados estes esclarecimentos somente sobre as questões onde a mentira impera porque o resto são bazófias ideológicas (e dirigindo-me especialmente ao meu caluniador) eu reconheço de facto que este não merecia que eu perdesse tanto tempo com ele, dado ser um indivíduo que utiliza a cobardia e o anonimato para se expressar, quando a liberdade de expressão que tanto diz defender está ao seu alcance, ou seja; se não concordava com o meu artigo que escrevesse outro com as suas opiniões contrárias, assinando-o sem quaisqueres complexos.
A diversidade de opiniões é salutar numa sociedade que se quer plural e não amordaçada pelo medo e pela calúnia.
É pena e estranho que isto aconteça, pois este caluniador que auto denomina de “o vosso melhor amigo” (que parece fazer disto profissão) me conhece e ele sabe perfeitamente que eu sei quem ele é, poderia muito bem, das vezes que está comigo dizer aquilo que pensa sem ter que recorrer a esta estratégia tão baixa.
E porque preservo muito a frontalidade e a liberdade de expressão, eu sou
Carlos Vardasca
27 de Junho de 2009
Ó MM, era escusado teres ouvido mais esta
Dizem-se amigos e conhecidos, mas o que se conclui das empresas onde andaram é na hora da despedida uns serem mais iguais do que outros.
Pois bem alguns melros começam a cantar.
Afinal para eles "os melros" ou melhor dito "os cucos" o problema foi os trabalhadores da Autoeuropa por maioria e em vezes sucessivas terem dito de forma clara, e mais grave terem decidido que não aceitavam a proposta de acordo que a Administração lhes queria impor.
Proposta que se diga em abono á verdade, coincide no mesmo momento temporal em que os accionoistas da multinaciona dona da Autoeuropa aumentavam os dividendos que distribuiem pelas accções que são detentores, é pois claramente ilucidiativo que o objecto destes senhores é como sempre foi o para os dententores do capital o aumento dos seus lucros.
No caso da Autoeuropa como em muitas outras empresas o que fazem é á boleia da crise cortar nos direitos dos trabalhadores para aumentar os seus lucros.
Mas algo mais importa aqui dizer porque razão a empresa estando a sentir dificuldades não recorre ao PASA-Plano de Apoio ao Sector Automóvel, ou será que alguém se acredita que é por pudor que não querem usufruir de dinheiros e apoios públicos, ou será que já se esqueceram aqueles que atacam os trabalahadores que esta é daquelas empresas que têm sido muitissimo apoiada.
Por fim é caso para perguntar aos apoiantes da imensa manobra de chantagem que está em curso de á alguns meses a esta parte que este argumento dos contratados a prazo não colhe, ele em nada difere daquele outro que dizia que se devia cortar nos direitos dos mais velhos para dar acesso ao mercado de trabalho aos mais novos, ou de um ainda mais antigo e que levou a criação dos contratos a prazo que se veio a transformar numa chaga.
Será meus senhores que não se estão a esquecer de nada, é que aquilo que os trabalhadores recusaram foi a retirada de direitos, não foi a manutenção da laboração com todos os trabalahadores que hoje laboram na empresa, sejam eles efectivos a prazo ou até por conta de empresas de aluguer de mão de obra tenham elas a forma que tenham e o nome que tiverem.
Os trabalhadores são de facto e na forma a força da nação
Os trabalhadores da Autoeuropa disseram muito mesmo com a sua recusa ao acordo que lhes era proposto.
Disseram que a sua Fábrica pode continuar a ser das melhores do Grupo a nível Mundial como até hoje e sem khes ser retirados direitos.
Disseram que para os trabalhadores Portugal não é uma República das bananas, que têm leis e que se devem cumprir, tal como eles todos os dias cumprem com os seus deveres profissionais, que a empresa e os seus dirigentes não podem à boleia da crise usar como método de gestão, recusar recorrer aos apoios que têm disponíveis no PASA-Programa de apoio ao Sector Automóvel e em contra partida cortar nos seus direitos, e mais e que estes se mostram suficientes e bastantes para gerir a produção.
Disseram ainda que querem continuar a trabalhar com o mesmo Brio e profissionalismo que sempres demonstraram. Portanto meus senhores que se arvoram em arautos da desgraça não venham para cá culpar ninguém e fazer como Basílio Horta que no próprio dia da votação se encarregou de exercer pressão sobre os trabalhadores talvez a mando da multinacional ou até de mais alguém
mas não de certeza no estrito âmbito das suas funções profissionais.
A escolha dos trabalhadores foi simples, foi os seus direitos e os seus postos de trabalho, é legítima e feita a coberto da nossas leis, e como tal não pode ser mitigada.
Parece que anda por aqui o «amigo americano» que quando não se vota como ele quer é para matar esses ingratos.
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