Com o Saldanha e a Maria José Morgado, que depois se tornaria sua mulher, eu e outros concorremos à Associação de Estudantes numa lista liderada pelo MRPP.
Foi nesta organização, ao lado do Ribeiro Sanches, estudante assassinado pela PIDE na Faculdade de Economia, que soube, na prática, o que era a luta clandestina.
Segui depois outros caminhos, em outras organizações políticas, mas não renego o meu passado, nem esqueço que aquele foi o meu berço político. Quando hoje andava navegando através da rede social do Facebook, num deambular descontraído cheirando a fim de semana, deparei com a notícia inesperada da morte de Saldanha Sanches.
Aí por volta de 1970, andava eu na Faculdade de Direito e a contestação dos estudantes de Lisboa estava ao rubro, apareceu um colega, um pouco mais velho do que nós, que logo se revelou um líder nas lutas académicas. Era a época em que a repressão se abatia ferozmente sobre os estudantes, a época dos tristemente célebres “gorilas” (seguranças de porte atlético) que invadiam as aulas à procura de contestatários e se passeavam pela faculdade como se esta lhes pertencesse, a época do emparedamento da Associação de Estudantes a época de todas as repressões, de todos os medos, mas também de todas as revoltas. Recordo agora o Saldanha Sanches e lembro o facto de este dar nas vistas pela forma peculiar como se expressava. O Zé Luís tinha acabado de sair da prisão por envolvimento na luta antifascista, quando era militante do PCP. Como tinha estado longe das lides académicas muito tempo utilizava nos seus discursos alguns termos um pouco desactualizados, que causavam alguma estranheza, mas que acabavam por conferir um certo encanto ao discurso.
Dentro da prisão não tinha deixado de estudar. Era um aluno excelente e recordo os brilharetes que dava nas provas orais, sempre muito concorridas por todos os que rejubilavam com o facto de um estudante antifascista dar uma “banhada” aos senhores catedráticos que relutantemente tinham de dar a mão à palmatória.
Com o Saldanha e a Maria José Morgado, que depois se tornaria sua mulher, eu e outros concorremos à Associação de Estudantes numa lista liderada pelo MRPP. Foi nesta organização, ao lado do Ribeiro Sanches, estudante assassinado pela PIDE na Faculdade de Economia, que soube, na prática, o que era a luta clandestina. Segui depois outros caminhos, em outras organizações políticas, mas não renego o meu passado, nem esqueço que aquele foi o meu berço político.
O Saldanha, além de meu colega, era ainda meu amigo e algumas vezes me ajudou na preparação para os exames em matérias que eu considerava áridas e sem interesse, mas que ele dominava com grande sabedoria.
Depois, a vida separou-nos, eu nunca cheguei a acabar o curso de Direito, ele tornou-se o professor universitário conceituado, o especialista a quem os jornalistas recorriam sempre que os assuntos eram as finanças e o direito fiscal.
Nunca mais nos encontrámos pessoalmente, mas sempre o segui atentamente quando na Televisão falava com grande à-vontade nas questões financeiras, não se coibindo de denunciar ferozmente a corrupção que grassava no país e de propor medidas severas para a travar.
Hoje fui confrontada com a notícia inesperada da sua morte e o fim-de-semana ficou, de repente, sombrio.
Não quero deixar de prestar aqui a minha homenagem ao fiscalista brilhante, ao cidadão consciente, ao homem íntegro, mas quero, principalmente chorar o colega e amigo, o antigo camarada que me faz recordar uma juventude distante, militante e generosa, onde as lutas tinham ainda um sabor virginal.
E lamentar profundamente a partida de alguém cuja voz, sempre alinhada à esquerda, se cala agora quando tanta falta fazia a um Portugal que se afunda “ numa apagada austera e vil tristeza”.
Foi nesta organização, ao lado do Ribeiro Sanches, estudante assassinado pela PIDE na Faculdade de Economia, que soube, na prática, o que era a luta clandestina.
Segui depois outros caminhos, em outras organizações políticas, mas não renego o meu passado, nem esqueço que aquele foi o meu berço político. Quando hoje andava navegando através da rede social do Facebook, num deambular descontraído cheirando a fim de semana, deparei com a notícia inesperada da morte de Saldanha Sanches.
Aí por volta de 1970, andava eu na Faculdade de Direito e a contestação dos estudantes de Lisboa estava ao rubro, apareceu um colega, um pouco mais velho do que nós, que logo se revelou um líder nas lutas académicas. Era a época em que a repressão se abatia ferozmente sobre os estudantes, a época dos tristemente célebres “gorilas” (seguranças de porte atlético) que invadiam as aulas à procura de contestatários e se passeavam pela faculdade como se esta lhes pertencesse, a época do emparedamento da Associação de Estudantes a época de todas as repressões, de todos os medos, mas também de todas as revoltas. Recordo agora o Saldanha Sanches e lembro o facto de este dar nas vistas pela forma peculiar como se expressava. O Zé Luís tinha acabado de sair da prisão por envolvimento na luta antifascista, quando era militante do PCP. Como tinha estado longe das lides académicas muito tempo utilizava nos seus discursos alguns termos um pouco desactualizados, que causavam alguma estranheza, mas que acabavam por conferir um certo encanto ao discurso.
Dentro da prisão não tinha deixado de estudar. Era um aluno excelente e recordo os brilharetes que dava nas provas orais, sempre muito concorridas por todos os que rejubilavam com o facto de um estudante antifascista dar uma “banhada” aos senhores catedráticos que relutantemente tinham de dar a mão à palmatória.
Com o Saldanha e a Maria José Morgado, que depois se tornaria sua mulher, eu e outros concorremos à Associação de Estudantes numa lista liderada pelo MRPP. Foi nesta organização, ao lado do Ribeiro Sanches, estudante assassinado pela PIDE na Faculdade de Economia, que soube, na prática, o que era a luta clandestina. Segui depois outros caminhos, em outras organizações políticas, mas não renego o meu passado, nem esqueço que aquele foi o meu berço político.
O Saldanha, além de meu colega, era ainda meu amigo e algumas vezes me ajudou na preparação para os exames em matérias que eu considerava áridas e sem interesse, mas que ele dominava com grande sabedoria.
Depois, a vida separou-nos, eu nunca cheguei a acabar o curso de Direito, ele tornou-se o professor universitário conceituado, o especialista a quem os jornalistas recorriam sempre que os assuntos eram as finanças e o direito fiscal.
Nunca mais nos encontrámos pessoalmente, mas sempre o segui atentamente quando na Televisão falava com grande à-vontade nas questões financeiras, não se coibindo de denunciar ferozmente a corrupção que grassava no país e de propor medidas severas para a travar.
Hoje fui confrontada com a notícia inesperada da sua morte e o fim-de-semana ficou, de repente, sombrio.
Não quero deixar de prestar aqui a minha homenagem ao fiscalista brilhante, ao cidadão consciente, ao homem íntegro, mas quero, principalmente chorar o colega e amigo, o antigo camarada que me faz recordar uma juventude distante, militante e generosa, onde as lutas tinham ainda um sabor virginal.
E lamentar profundamente a partida de alguém cuja voz, sempre alinhada à esquerda, se cala agora quando tanta falta fazia a um Portugal que se afunda “ numa apagada austera e vil tristeza”.
Jorgete Teixeira
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