terça-feira, setembro 27, 2005

Pequeno Portugal













A reacção de alguns comentadores a determinadas (mesmo que assumidamente não inocentes) brincadeiras que fazemos neste blog levam-nos, por vezes, às raias do desânimo para com a espécie humana local e a sua capacidade de sorrir de si mesma.
A sisudez, o cinzentismo, o atrofiamento da imaginação parecem não conviver com um bocadinho do seu oposto.
São aqueles que, se pudessem, se assumiriam como censores prontos agora, depois se terem afirmado anti-censores há umas décadas.
Apesar da decadência do próprio, o Herman lembrava isso há uns meses quando dizia que aqueles que o adoravam e aos seus disparates há 20 anos, são os que agora tasquinham em tudo o que ele e outros fazem na área do humor.
Embora não sendo das minhas favoritas, a série Little Britain da BBC (lembrem-se que é uma estação pública...) de Matt Lucas e David Walliams que agora passa na RTP2 na secção Britcom é um dos pontos mais altos da comédia negra, ácida, por vezes difícil de "engolir" porque satiriza tudo, mas mesmo tudo, dos obesos aos gays (tem um delicioso homossexual homofóbico que insiste em ser o único gay da vilória, afastando todos os outros para manter o estatuto), dos deficientes motores (há um falso paraplégico que usa o seu pretenso handicap para se aproveitar de um amigo) aos políticos com as suas taras privadas (há um PM com um secretário apaixonado por ele).
Lá tornou-se série de culto e foi subindo de prestígio da BBC3 (de uma divisão equivalente à SIC-Radical em audiências) à BBC1, a estação cuja qualidade todos gostam de elogiar quando falam em serviço público.
Cá seria censurada em duas penadas e incompreendida por estes falsos moralistas, que defendem o palavrão contra os adversários, mas se ofendem com a sua irrisão gráfica.
Não digo que os nossos divertimentos privados sejam serviço público, mas pelo menos é uma tentativa para que, por breves momentos, certas mentes fechadas e já insensíveis ao que não é rotina, despertem da sua dormência, nem que seja para exercerem o seu direito à indignação.

AV1

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