Ainda hoje me atormentam as imagens que ontem vi no Herman-Sic sobre as festividades na Moita.
Só assisti a 15 minutos, mas chegou-me.
O tratamento da coisa feito pelo verdadeiro artista ombreou com os estudos antropológicos que, na esteira de Margaret Mead, consideram que o observador não deve perturbar o grupo que estuda, integrando-se nas suas práticas e rotinas da forma menos intrusiva possível.
Ora foi isso que o Herman fez e permitiu a quem assistiu à coisa concluir o seguinte acerca dessa espécie muito sui generis que são os moiteiros e que os distingue dos moitenses e das outras pessoas ditas "normais":
1) A maior parte tem mais de 50 anos, não usa pente, tem défice de cálcio na dentição e não gostam muito de se barbear, para além de apresentarem uma tez avermelhada e serem ou manifestamente rotundos, ou desgragadamente trinca-espinhas.
2) Os que não têm essa idade, apresentam um olhar ligeiramente embrutecido, quando não estrábico e tên tendência para se intrometerem nas conversas e apontarem para outros motivos que acham de interesse.
3) As fêmeas da espécie são bem nutridas, bem falantes e muito afectuosas para quem se lhe dirija de microfone em punho. Também gostam muito de usar enfeites aberlocados e de mexer nas pessoas com quem falam.
4) Algumas sub-espécies ainda vivem nas árvores, para lá transportando os fogareiros que lhes servem para cozinhar os alimentos recolhidos quando se deslocam a terreno firme.
5) Alguns indivíduos já correram mundo e aprenderam falajares exóticos, tendo sempre tentado exportar o gosto pelos rituais indígenas (uma largada em Bochum deve ser um espanto...).
6) O tempo na Moita corre de forma dilatada, porque durante 10 minutos faltaram 2 minutos para serem soltos os touros.
7) O sentido de orientação, variante alto-baixo, é algo confuso, porque enquanto uns indivíduos afirmavam que os bois vinham "lá de baixo", outros diziam que vinham "lá de cima".
8) Muitos indivíduos demonstram um grande orgulho em terem levado cornadas, achando muita graça quando inquiridos sobe se já puserem os cornos a alguém.
9) É frequente o hábito de correrem desordenadamente de um ponto para o outro, mesmo sem nenhum touro ou perigo aparente à vista.
10) Têm grande orgulho neste tipo de festas, não hesitando em desobedecer ao Primeiro-Ministro e às suas medidas de moralização das faltas ao trabalho, pois numa sexta-feira de meados de Setembro andavam a fazer tudo menos trabalhar.
E é assim...
Haveria mais a escrever se eu tivesse visto um pouco mais da reportagem, mas tanto envolvimento antropológico acabou por deixar-me extenuado.
É que a galeria dos horrores já ia longa em tão pouco tempo.
AV1 (com captação de imagem do AV2)
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