segunda-feira, setembro 12, 2005

Ideias geniais sobre o trânsito

Um dos temas que parece agradar muito ao Alhosvedrense (para além do legítimo e compreensível apoio explícito às diatribes do Vigilante que apelida de "corajosas") é o da regulação do tráfego no centro de Alhos Vedros.
Em teoria, assim em abstracto, é uma boa ideia.
O que falta é a concretização, em especial a resposta ao óbvio “como ?”
“Como” se sabe quem é que “quer lá realmente ir” ?
Leitura de pensamento ? Criação de uma “Via Verde” ? Atribuição de senhas de residente ?
Claro que seria óptimo que certas zonas mais estreitas e de circulação problemática como a 5 de Outubro entre a Praça da República e a esquina com a rua Francisco Simões, depois a ligação por esta betesga até à Cândido dos Reis e, em seguida, a descida desta Cândido dos Reis até à esquina com a Humberto Delgado, não esquecendo ainda o acesso pela rua de Damão até à Avenida Bela Rosa são problemáticas para o tráfego actual.
No entanto, como se regulam estes acessos, numa vila como Alhos Vedros, em que as requalificações ficam muito aquém do razoável (a comparação com Évora é divertida, atendendo ao seu estatuto de Património Mundial e ao investimento que aí foi feito) e não existem zonas de estacionamento acessíveis aos moradores que mereçam confiança.
Esquecemo-nos, quando nos convém, que o edifício construído na esquina da rua Francisco Simões com a Cândido dos Reis (assim como vai acontecer com o que nasceu no espaço da antiga cadeia), com a desculpa de manter o alinhamento da rua, nem sequer espaço deixou para peões, quanto mais para os automóveis dos moradores.
Esquecemo-nos ainda que a requalificação do “centro histórico” de Alhos Vedros apresentou desde o início problemas que se denunciaram atempadamente, mas que nem depois da prática alguns admitem.
Esquecemo-nos que a requalificação urbanística não deve ser feita apenas ao nível do pavimento e dos equipamentos urbanos, mas também dos imóveis envolventes, que deveriam ser recuperados para os fins residenciais que sempre tiveram.
Só que as casinhas que existem são muitas vezes apenas de um ou dois pisos e é do interesse de alguns privados (com a complacência dos poderes públicos) que a sua derrocada aconteça para depois se poderem construir quatro pisos (veja-se o que se passa da Praça da República até ao Centro de Reformados, onde tudo está entaipado à espera de melhores dias).

Mas voltemos ao essencial:
É evidente que interessaria tornar as ruas 5 de Outubro e Cândido dos Reis de sentido único em toda a sua extensão, no primeiro caso no sentido Norte/Sul e no segundo no sentido inverso.
É evidente que seria preferível que as pessoas não estacionassem em cima de todo o espaço, para ficarem o mais perto possível do seu destino.
É evidente que existem formas de induzir comportamento mais correctos.
Em primeiro lugar, que a Câmara estude a melhor solução de circulação e a implemente,
Em seguida, que exista uma sinalização e fiscalização eficazes, não apenas agentes da autoridade com fome, sede e falta de trocos nos bolsos.
É evidente que o trânsito para o Centro de Saúde e para a Junta de Freguesia até pode ser feito, virando para o Largo do Descarregador e depois seguindo pela rua da Benfadada.
É evidente que o Parque das Salinas poderia ter sido feito com uma zona de estacionamento, na sua face Norte, junto à Estrada.
É evidente que a zona da antiga “Largada” poderia ter sido pensada de outra forma, criando uma bolsa de lugares de estacionamento.
É evidente que nem toda a zona da antiga Bore deveria estar destinada a casario, com estacionamentos insuficientes para os moradores, quanto mais para quem esteja de passagem.
É evidente que alguns espaços “perdidos” no centro da vila podiam ser reconvertidos em espaço de estacionamento, para isso bastando que muitos dos monos fabris há muito desactivados fossem expropriados e passassem para o domínio público.
Só que estas evidências, mesmo enunciadas, não chegam.
Não chega dizer agora que está mal, se houve quem deteve o poder de fazer diferente do que está ou de alterar antecipadamente as coisas e não se previu, não se planeou, não se fez.
É fácil fazer diagnósticos.
Até eu o consigo.
Atirar umas “bocas”, uns “bitaites” de pseudo-conhecedor bem-intencionado.
Mais difícil parece ser agir com pre(visão).
Mais difícil parece ser fazer algo que não transforme Alhos Vedros numa aberração urbanística, em que nada parece seguir um plano, construindo-se aos sacões, conforme os interesses de alguns construtores.
Onde os blocos de apartamentos se fazem sem os lugares de estacionamento devidos e com o espaço desejável. Veja-se a este respeito, e apesar do estacionamento feitos nos últimos anos, toda a zona entre o Largo do Mercado (este uma maravilha do desnorte) e a Rua António Hipólito da Costa, em que só o espaço da Rua Cabo António Correia parece ter sido pensado com alguma lógica (apesar das entradas das garagens fiquem nas traseiras dos prédios e impliquem belas passeatas para quem viva nos prédios centrais), embora fique encurralada entre a esquina com a rua de Damão e o acesso à Escola Primária.
Por tudo isto, meus amigos, vamos falar a sério das coisas e não só enunciá-las, como se a pólvora demorasse 20/30 anos a descobrir.
Palmela tem um centro histórico regularizado e requalificado como deve ser.
O trânsito no centro do Seixal está regularizado há muito.
Alhos Vedros padece do mal de ser o parente pobre do concelho
porque se a Moita tivesse a sua história e o seu património (já quase todo desaparecido ou ao desbarato), acredito que nada seria assim.
Já teriam aparecido as verbas e os reperfilamentos ou algo até mais eficaz já teria sido feito.
Assim ficam-nos apenas os Alhosvedrenses compreensivos com as patrulhas de Vigilantes para nos consolarem (e não me venham com as injustiças frias e prolixas da praxe).

AV1

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