sexta-feira, setembro 09, 2005

Surrealizar, talvez...

Chamaram-me a atenção e com razão para os completos ziguezagues que a argumentação do executivo camarário assumiu nos últimos dias a propósito do PDM, da REN e dos protestos dos cidadãos para com o comportamento da CMM em todo este processo.
Ou seja, aparentemente, o Presidente da CMM decidiu colocar-se ao lado dos "protestos das populações" contra a revisão do PDM que foi elaborada sob a sua própria direcção e, aliás, quase reformulada quando o anterior presidente da autarquia se afastou/foi afastado do cargo.
Numa reviravolta digna de figurar nos anais da falta de coerência política, e de acordo com notícias veiculadas pela própria CMM, os responsáveis da autarquia acusam o Poder Central das asneiras cometidas neste projecto de PDM, alegando que a culpa é da lei da REN.
Meus amigos, vamos a ter um pouco de seriedade e de vergonha na cara...
Quem fez o traçado da REN foram os responsáveis pelo PDM e não o Governo.
Se tivessem localizado a REN de outra forma, os protestos não tinham aparecido.
Pior, ao atacarem a lei da REN, os responsáveis políticos da CMM querem que lhe sejam abertas brechas que servirão para, a qualquer momento, fazer o que se quiser, onde se quiser.
Ora isto não é uma atitude séria porque o que devia ter sido feito era, atendendo às características da lei em vigor, traçar uma REN que conjugasse os objectivos de preservação da Natureza com as legítimas aspirações das populações.
Se por acaso tivessem colocado em REN a maior parte da faixa ribeirinha do concelho, em especial da freguesia de Alhos Vedros, preservando os restos do ecossistema de sapal que aí ainda sobrevive a muito custo, com uma zona de protecção para o interior, ninguém protestaria, a não ser quem tem intenção de lotear e construir mesmo em cima do rio blocos de apartamentos para dormitório.
Mas não foi isso que foi feito.
Vir agora desviar as atenções, culpando outros pelas acções praticadas é de grande falta de coragem e coerência política; e é isso que na última semana a CMM fez.
Infelizmente, com a Oposição de pacotilha que temos, sempre temerosa de avançar a sério com as medidas legais, com medo de se escaldar, a denúncia de tudo isto fica a cargo de grupos de cidadãos mais ou menos organizados ou a uma meia dúzia de bloguistas sem nada a perder.
Mas essa não é a solução.
A solução é termos quem, no plano da luta política democrática, dê os passos (políticos, jurídicos) necessários para denunciar e travar estes desmandos.
E quem deve fazer isso é quem tem aspiração a governar-nos.
Porque esperarem por outros para fazerem o seu trabalho, também não é grande demonstração de coragem.

E aqui afirmo, sem nenhum receio de ver os cães de fila das duas partes atirarem-se às minhas canelas virtuais, CDU e PS têm grandes, enormes responsabilidades neste processo, um por acção e o outro por inacção (as palavras não chegam, pois se assim fosse chegávamos eu, o AV2, o Brocas, o Oliude, o Mário da Silva e mais um par de leitores), e o PSD e Bloco, embora tendo menores, não podem querer passar apenas por espectadores de tudo isto.

Porque se isto assume contornos surrealistas, ao ponto de um Presidente de Câmara e ex-vereador do Urbanismo vir agora desdizer o trabalho que coordenou, mas sem assumir compromissos concretos de o alterar, apenas sacudindo a água do capote para cima ou para o lado, é missão dos outros candidatos à conquista da Câmara mostrarem o que valem.
Caso contrário, não vale a pena chatearmo-nos mais com isto, porque tudo não passa de uma encenação apalhaçada de um mau espectáculo de vaudeville.

AV1

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