Há muito que não tínhamos direito a uma prosa esclarecida e visionário do antropólogo-mor da moitice.
Hoje decidiu voltar à superfície e, entre outras escorregadelas, escrever sobre a questão do aborto, na página 6 do Jornal da Moita.
Ora bem para que não nos acusem de ataques ao home (ad hominem para os eruditos em geral), vamos apenas isolar o que parecem ser as ideias do autor:
1) Os homens não devem votar no referendo sobre a IVG porque isso é uma anomalia e é contraproducente e os homens não podem ter direitos sobre o corpo das mulheres e a IVG é um assunto de mulheres e o "género masculino" não deve ter palavra sobre o assunto.
Olha, era só uma ideia, ou melhor, uma salgalhada de ideias todas ao monte. E que bela salgalhada.
Tirando a parte em que chama impotentes ou estéreis aos deputados e deputadas (2º parágrafo da 4ª coluna do texto, pois afirma que "já não possuem capacidade para gerar nada") o autor do texto incorre numa série de disparates, uns de natureza jurídico-política, outros de mera aparente ignorância académica, não esquecendo os do politicamente correcto.
Então vamos por partes:
a) Do disparate politicamente correcto: a verborreia acusadora aos homens, considerando-os a vermínia desta sociedade, a quem não devem ser concedidos direitos de opinião e cidadania sobre a IVG é caricata de tão estapafúrdia. Eu não tenho direitos sobre o corpo de nenhuma mulher, quanto muito o dever de o venerar e lhe dar o conforto e prazer possível. Talvez esta noção escape ao autor do texto por razões que me escapam a mim. Quanto ao resto é apenas do domínio daquilo a que se chama tecnicamente parvoíce, advogar que só as mulheres evem ter opinião sobre a IVG. Ou seja, num eventual referendo sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo só poderiam votar homossexuais assumidos; sobre a legalização de qualquer tipo de drogas só os consumidores das ditas, num sobre a possibilidade da eutanásia só poderiam votar os moribundos. Isto é parvo, muito parvo.
b) Do disparate político-jurídico: decorre do que ficou atrás escrito, que um referendo não é uma consulta popular apenas aos interessados num dado assunto ou visados por uma determinada medida, pois isso implicaria, em diversas situações, que fosse necessário circunscrever os direitos de cidadania de parte da população. Ora, tirando referendos de base local ou regional, iria ser extremamente divertido ter cadernos eleitorais feitos à medida dos temas dos referendos, tipo segregação eleitoral. Neste só votam os toxicodependentes e vá lá, as suas famílias, naquele só votam lésbicas e gays; naqueloutro apenas chulos e prostitutas, e por aí abaixo. Arranjava-se cartões de eleitor coloridos para distinguir uns dos outros (lilás para gays, rosa para meninas e senhoras, azul para meninos, vermelho para aficionados e comunistas, verde para ecologistas) Mas eu vejo o alcance do pensamento do autor da prosa (que não nomeia para o não ofender ad hominem), pois no caso de um referendo sobre a eventual existência de toiros de morte em Portugal só poderiam votar os chamados aficionados. Claro, nesse caso, até se podia fazer o prognóstico antes do jogo. Mas, insisto, tudo isto é conhecido nos meios académicos pelo termo de "parvoíce".
c) Do disparate académico: o autor em apreço refere uma ou outra vez o conceito de "género masculino" no que aprece avançar para territórios conceptuais mais sofisticados da actual Ciência Social. É bom, é bom, só é pena que pareça manter a dicotomia masculino/feminino nesta discussão pois a introdução do "género" foi feita para ultrapassar exactamente o dualismo sexual de base biológica e alargar o esquema de análise aos múltiplos géneros que agora se admite existirem (sem a concordância dos fundamnentalistas religiosos como é óbvio), incluindo a bissexualidade, a transexualidade, o hermafroditismo, para além da já tradicional homossexualidade. Alguns antropólogos e antropólogas de nomeada consideram que a sexualidade é um contínuo sem categorias estanques. Ora o autor do texto, parecendo que conhece o que é o "género" afinal acaba por parecer não perceber nada.
E dito isto passemos adiante, porque realmente este ressurgimento bem poderia ter demorado mais. E eu nem calculo as horas que a prossa terá levado a depurar.
AV761
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