quinta-feira, outubro 11, 2007

Erudição ou nem tanto

Só hoje reparei numa coluna da página 8 do jornal Margem Sul da passada semana em, que são atribuídas a Francisco Carromeu as seguintes declarações:

"As acções que culminaram na proclamação da República começaram na noite do dia 3 através de combates e acções de rua e com a morte dos republicanos Miguel Bombarda e Cândido dos Reis."

E mais à frente afirma-se que Lisboa se atrasou na proclamação devido à "pouca e difícil comunicação com a outra margem do rio".

Isto tem alguns erros, não tanto factuais no que é explícito, mas mais no que se deixa entender nas entrelinhas, em especial:
  • Que Miguel Bombarda e Cândido dos Reis morreram na sequência de acções de rua dos republicanos. O que é falso. Miguel Bombarda foi assassinado por Aparício dos Santos, um seu antigo paciente e doente mental, no seu consultório. Cândido dos Reis suicidou-se, mas isso apenas atrasou parte das operações planeadas, que acabaram por ser concretizadas por Machado dos Santos (que, pelo seu voluntarismo, fez o papel de Salgueiro Maia da época).
  • Que a falta de comunicação fez com que Lisboa se atrasasse, o que não é completamente certo, atendendo ao decurso dos factos. O que aconteceu, isso sim, foi que em algumas localidades os núcleos republicanos revoltosos mantivessem o plano original e, ao não saberem dos contratempos, tivessem avançado sem saber o que se passava na capital
Para a descrição dos factos, ir aqui ou aqui. As intenções de mitificar o ardor republicanismo da Moita são muito interessantes, mas o Carromeu poderia fazer a coisa com um bocadinho mais de atenção aos factos.
Não foi o outro que disse que por vezes a paixão pelas coisas da nossa terra pode cegar?
Ao Carromeu pelo menos impediu de ler uns livrinhos ou textos mais actualizados do que as sebentas dos anos 70.

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