Independência de Kosovo e o risco do 'efeito dominó' separatista na UE
MADRID (AFP) — A proclamação da independência do Kosovo, no domingo, suscita preocupação a respeito de um possível "efeito dominó" em uma Europa que, do País Basco a Flandres, passando pela Escócia, enfrenta movimentos separatistas.
A Espanha, que enfrenta anseios por independência no País Basco (norte) e na Catalunha (noreste), já anunciou que não reconhecerá a independência unilateral do Kosovo e baseia sua posição nos seguintes motivos: a ausência de consenso europeu, a estabilidade dos Bálcãs e o respeito à legalidade internacional.
A Espanha relaciona oficialmente sua oposição aos conturbados casos internos basco e catalão. Mas uma fonte próxima ao governo reconhece que o Kosovo representa para o país um "tema delicado, muito venenoso".
"Declarações unilaterais de independência não agradam o Governo espanhol", afirmou na terça-feira em Madri seu ministro da Defesa, José Antonio Alonso, referindo-se ao Kosovo.
Os defensores da independência basca e catalã acompanham a questão com atenção.
A organização separatista armada basca ETA se apropriou do exemplo kosovar no início de janeiro para destacar que sua luta pela independência do País Basco -que matou 819 pessoas em 40 anos de atentados- não era "uma utopia".
A situação dos Balcãs é "específica", insistiu na terça-feira o ministro espanhol da Defesa.
"Não é extrapolável para nenhum outro país da União Européia, muito menos para a Espanha", enfatizou.
A independência do Kosovo impulsionará inevitavelmente os movimentos separatistas europeus que sonham em se emancipar da tutela de Estados-Nações cada vez mais diluídos no seio da UE.
Criariam um precedente se reconhecerem uma "nação dentro do Estado", conceito defendido por nacionalistas bascos e catalães.
"Existe um risco real da queda do quase dogma da intangibilidade das fronteiras que prevaleceu depois da Segunda Guerra Mundial", declarou à AFP Jean-Yves Camus, pesquisador associado ao Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris).
E aqueles que se beneficiam são esses "movimentos que buscam alterar o traçado do mapa da Europa apoiando-se em critérios étnicos, lingüísticos ou culturais", acrescentou este especialista em identidades regionais e separatismos na Europa.
Na Bélgica, o partido nacionalista Nova Aliança Flamenca (NVA), ligado ao provável futuro primeiro-ministro democrata-cristão Yves Leterme, considera em relação ao Kosovo que "o direito à autodeterminação dos povos é essencial".
Então conclama a Bélgica a apoiar a independência da província, uma perspectiva que está longe de entusiasmar os políticos belgas de raízes francesas que temem o "efeito dominó".
"A Europa pode regular nosso governo e nossa solidariedade. Porque é preciso manter esse teto intermediário que chamamos Bélgica?", se perguntava no final de novembro no jornal francês Le Monde o líder nacionalista flamenco Bart de Wever.
Na Escócia, o Scottish National Party (Partido Nacional de Escócia), que preside o governo regional desde maio de 2007, se comprometeu a organizar, em 2010, um referendo sobre a independência.
Do País Basco à Escócia, o mesmo fim não justifica no entanto os mesmos meios e o exemplo kosovar é analisado a partir de diversos pontos de vista.
Na Escócia, "nenhuma pessoa morreu a favor ou contra a independência", declarou à AFP seu primeiro-ministro, o independentista Alex Salmond, que não "quer interferir nos problemas internos de outros países europeus".
"O único conselho que damos a outros países é o de encontrar uma maneira democrática e totalmente pacífica de chegar a nossos fins e objetivos", concluiu.
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