Iminência de tragédia no Mar da Palha

Embarcação à deriva há quase 10 anos corre o risco de ir ao fundo

Em terra ouvem-se gritos contraditórios: "ai que barco se salva, desgraça!", dizem muitos.
Enquanto isso, alguns poucos clamam: "socorro, miséria que o barco se afunda!"
Tragédia pode ocorrer a qualquer momento.
Ventos ciclónicos e forte ondulação fazem-se sentir desde há 2 anos na zona, sem interrupção.
A tripulação do navio está que nem pode.
Contactado, o Comandante afirmou não pôr os pés na ponte já lá vai para 9 anos. "A responsabilidade é toda do Imediato" , disse o Comandante em telegrama enviado esta noite mesmo ao AVP.
Acrescentou o Comandante: "Só agora que a água já me chegou ao pescoço é que eu vou avaliar os rombos no casco e os podres no porão".
"Em breve me pronunciarei", adiantou o responsável máximo pelo navio, no meio desta catástrofe há tanto anunciada.
Receia-se o pior.

No bojo do navio vêm muitos produtos altamente deteriorados, alimentos destinados às populações da margem Sul, nomeadamente da Zona da Moita.
Receia-se que entre produtos podres, envenenados e altamente tóxicos, a coisa seja do piorio.
Correm vozes que no Navio, bem resguardadas e conservadas, virão igualmente iguarias finas, para bocas bem refinadas. Uma pequena parte da companha traz mesmo 'libré' e salvas de prata, para servir a alguns eleitos tais iguarias.
Diz-se que esse serviço fino é em muitas outras partes lautamente compensado. "Gorjetas das arábias", sói dizer-se.
Entretanto, o risco de o Navio encalhar, ou ir a pique mesmo é muito grande.

O gáudio de muitos é enorme.

"Pior ainda que ir a pique é a barcaça salvar-se, mai'lo que traz no bojo", dizem.
"Mau mesmo muito mau será se o material do porão chega ao seu destino, e se for distribuído de forma imposta às populações", é a voz corrente.
Contudo, a aflição de uns quantos ainda é maior.
"Queremos o Mapa do Tesouro!", ouve-se em surdina pelos cantos. E explicam: "O Navio traz dentro dele um verdadeiro Mapa do Tesouro. Nele constam os locais exactos que nós pedimos que fossem assinalados. Foi tudo muito protocolado. Em cada local, sua Arca cheia de moedas de ouro. Cada arca, mil vezes mil réis, quatrocentas arcas, logo quatrocentas vezes…ora deixa cá ver…deixa cá fazer as contas…a conta tem zeros a mais, não dá para avaliar, mas é um dinheirão", acrescentam.
Com efeito, contradição maior é que há em terra muita gente a gritar: "não queremos essas sacas de comida podre!"
E outros, em muito menor número, que clamam: "Fizemos planos a contar com as iguarias a nós destinadas, quem nos paga o prejuízo que uma carta escrita nos anunciou. Queremos o Mapa do Tesouro!", gritam desalmados.

O Comando Marítimo da Zona está sobejamente avisado, mas tardam as medidas de socorro, o que traz a população da Costa muito ansiosa.
"Socorro", grita a população da Costa. "Ai que o Barco se salva!"
"Desgraça", respondem em coro alguns excêntricos. "Ai que o barco se afunda", rematam aflitos com as mãos postas aos céus.
"Tudo pode acontecer", é a voz que corre.
"O desfecho é imprevisível", comenta-se.

A cobertura noticiosa AVP vai continuar.
Aguardam-se desenvolvimentos surpreendentes.