sábado, julho 17, 2004

Filipe Fonseca sobre as tabernas de A. Vedros

A nosso pedido, passamos a contar com nova colaboração, neste caso sobre a nossa iniciativa de escrever sobre as tascas/tabernas de Alhos Vedros. Ora aqui temos:
 
Do encanto perdido das tabernas
 
Pediram-me que escrevesse sobre as tascas de Alhos Vedros.
Quanto a isso, convém fazer duas notas preliminares: em primeiro lugar, suponho que querem dizer “tabernas” de Alhos Vedros, porque “tasca” já é nome que, mesmo se com tradição, só se tornou de novo popular aí pelos anos 80 em certos ambientes de boémia urbana. Por isso, de tabernas falarei, porque em Alhos Vedros eram tabernas que existiam. Em segundo lugar, não tenho idade para falar delas com verdadeiro à-vontade, pois apenas conheci algumas enquanto petiz, acompanhando pessoa da família ou fazendo algum recado, ouvindo porém algumas das histórias que nelas se contavam.
Nestes tempos que se dizem de progresso deixou de existir espaço para estas instituições que parecem anacrónicas e herdeiras de um passado que se quer definitivamente enterrar e esquecer.
E uma das instituições mais características de uma convivialidade que foi desaparecendo era exactamente a taberna, estabelecimento para o qual é difícil encontrar algum paralelo actual.
Antes de mais porque era um espaço eminentemente masculino; tolerava-se a presença da mulher ou uma filha do dono para ajudar ao serviço da casa, mas os frequentadores regulares eram homens.
Em seguida porque era um estabelecimento destinado, quase em exclusivo, à venda e consumo de um só produto, o vinho, aquele que «dava de comer a um milhão de portugueses» como alguns cartazes enegrecidos ou gordurosos lembravam ainda nos anos 70. Também se vendia tabaco, uns refrigerantes já em garrafa (a boa e velha gasosa) alguma cerveja e os tremoços em cima das mesas não deixavam de aparecer mas a taberna caracterizava-se, antes de mais, pelo vinho, acompanhado ou não com um ou outro petisco típico das diversas épocas do ano.
Em terceiro lugar, a taberna também era um lugar em que se jogava, por divertimento e para passar o tempo, às cartas e ao dominó, mas não só, coisa que agora é impensável em qualquer espaço público que se preze.
Por fim, porque a sua atmosfera era fruto de um tempo que passou e de vivências que o nosso actual mundo europeu e asséptico declarou pouco consentâneo com as regras da modernidade.
 
As minhas memórias das tabernas de Alhos Vedros estão longe de esgotar a vastidão do tema e a riqueza dos lugares, da taberna Lagarto junto ao cais velho até à taberna Mosquito, junto às bombas da gasolina, à entrada da terra para quem vinha da Moita, passando por muitas outras como as do Alentejano (na antiga Óscar Carmona), do Salvador (na esquina com a Bela Rosa), do Venâncio ou do Martinho (estas duas bem vizinhas na 5 de Outubro), das quais o óbito tem vindo a ser lavrado a pouco e pouco, por puro e simples desaparecimento (incêndio, demolição) ou transformação em restaurante, snack-bar ou cervejaria).
Lembro-me de nelas entrar, ainda de calções, pela mão do meu pai, e ficar entre o atemorizado e o fascinado pelo que via, ouvia ou cheirava pois porque então eram só estes os sentidos que a taberna me estimulava, visto que aí nada bebia. Nas mesinhas de madeira, por vezes com tampo de mármore, juntavam-se velhos e menos velhos a conversar e a discutir, como então podiam, as novidades do momento. À vontade só se falava verdadeiramente de futebol e, quando comecei a ler, aproveitava para apreciar as “gordas” d’A Bola, jornal oficial da taberna nacional, normalmente nas mãos dos seniores durante quase toda a manhã das 2ªas, 4ªs e sábados. Tal como com as cartas, os ânimos por vezes exaltavam-se e não era rara a gritaria mais exaltada que, por vezes, me deixava mais assustado quando, de garrafa debaixo do braço, ia comprar um litro de tinto para consumo familiar, vinho esse que corria directamente do barril do produtor.
Longe vão esses tempos em que o vinho se comprava a granel, conforme a necessidade, sem ser preciso pagar tara pela garrafa. Cada vez isso é mais raro, bem como a possibilidade de beber vinho a copo que não seja engarrafado e de marca, mesmo que má.
Mas voltando às memórias desses tempos, à medida que fui crescendo um pouco, passei a ter preferência por aquelas tabernas que tinham matraquilhos, onde se jogavam àrduos desafios de 11 bolas por 10 tostões, em moeda de cobre de bom diâmetro.
Por um daqueles acidentes felizes que acontecem na vida, aí por meados dos anos 70 apareceu uma colecção de chapinhas (apresentadas como medalhas, que já nem sei em que produtos vinham) redondas com a efígie dos ciclistas do momento (o Agostinho estava no seu auge) que tinham a medida exacta de uma moeda de escudo e então lá serviam, quando as tínhamos repetidas, para furarmos o sistema e jogarmos quase à borla. Claro que o truque não se podia repetir muitas vezes no mesmo sítio porque, no fim da semana, quando o dono fazia revista à caixa das moedas lá ficava com não sei quantos Eddy Merckxs e Luís Ocañas. As alternativas eram usarmos um fio colado às moedas para tentarmos que elas não deslizassem completamente pela ranhura ou então tentarmos colocar qualquer coisa nas balizas para impedirmos que as bolas descessem para o depósito a cada golo, mas esses eram métodos nem sempre fiáveis e por vezes pouco discretos.
E quando éramos descobertos lá ficávamos queimados durante uns bons tempos na taberna em causa.
E se era naquela em que o avô de um de nós tinha assento reservado, era certo que acabávamos com chatices em casa.
Mas isso era preocupações de curta duração.
Ao contrário desta crónica, que já vai longa e que deve acabar por aqui até uma próxima oportunidade.
 
Filipe Fonseca

1 comentário:

AIB FUNDING. disse...

Agora possuo um negócio próprio com a ajuda de Elegantloanfirm com um empréstimo de US $ 900.000,00. com taxas de 2%, no começo, eu ensinei com tudo isso era uma piada até que meu pedido de empréstimo fosse processado em cinco dias úteis e meus fundos solicitados fossem transferidos para mim. agora sou um orgulhoso proprietário de uma grande empresa com 15 equipes trabalhando sob mim. Tudo graças ao agente de empréstimos Russ Harry, ele é um Deus enviado, você pode contatá-los para melhorar seus negócios em .. email-- Elegantloanfirm@hotmail.com.