sábado, julho 31, 2004

Notas dispersas de José Silva

O nosso Santana

O país andou alvoroçado com a sucessão do Primeiro-Ministro, sendo afiadas as vozes, principalmente da esquerda, contra a «entronização» de Santana Lopes por carecer de legitimidade democrática.
No entanto, no concelho da Moita, bem entre nós, também temos o nosso Santana.
Também o nosso actual Presidente da Câmara, João Lobo, sucedeu ao titular do cargo quando este foi tratar da sua vida, ou vidinha, como diz Pacheco Pereira.
Também ele ascendeu ao topo da hierarquia, sem eleições, por aparente sucessão natural.
Também ele é bem apessoado e fica bem nas fotografias.D
irão alguns que é diferente, porque ele já era um autarca em exercício de funções, eleito na lista do partido vencedor para a vereação camarária.
É diferente, digo eu, porque o executivo camarária é eleito em lista própria, em que o cabeça de lista é o candidato a Presidente da Câmara, não o segundo ou terceiro da lista, enquanto o Governo da República é uma emanação da distribuição dos deputados na Assembleia da República. Por isso, pode acontecer que o Primeiro Ministro não seja do partido mais votado, apenas com maioria relativa, mas de um partido que, embora menos votado, assegure uma coligação governamental maioritária. Em contrapartida, quantos Presidentes de Câmara conhecem que tenham assumido o cargo sem pertencerem à lista vencedora, mesmo que seja sem maioria absoluta ?

Centralismos

Alguns são contra o centralismo, porque dizem que está errado ser o centro (capital do país, sede do concelho) a tomar as decisões sobre o todo.Para mim, centralismo não é isso.
Nada me repugna que o centro, num país como o nosso, em autarquias como as nossas, que seja o centro a tomar as decisões necessárias. Para quê multiplicar burocracias em tão pouco território, se não para alimentar clientelas ?
O que me choca é que o poder central tome decisões em proveito próprio e em favor, quase exclusivo ou de forma claramente desproporcional, desse mesmo centro, desprezando as periferias. O mau centralismo é esse. E é esse de que padecemos neste concelho durante muito tempo, não servindo de muito a cosmética recente para o disfarçar.

Revitalização porquê ?

No Boletim Municipal da Moita de Junho/Julho de 2004 é dado enorme destaque às operações de revitalização urbana da Baixa da Banheira e Vale da Amoreira.Não tenho nada contra tais iniciativas. Apenas gostaria de salientar o seguinte ponto:
Porquê embadeirar em arco com operações de revitalização, se quem as promove foi responsável pela degradação contínua que agora leva à necessidade de recuperação ?
Será que o poder autárquico nos últimos 30 anos não foi o responsável pelas más condições verificadas em grande parte do concelho ? E esse poder autárquico não foi dominado pela mesma cor partidárias, pelo mesmo grupo político (PCP), de forma contínua e aparentemente sem sobressaltos ou grandes inflexões de trajectória durante essas três décadas ?
O arrependimento bateu agora à porta, ou será que têm receio que, com eleições à porta, a coisa possa virar se não aparecer obra (tardia, muito tardia) feita ?

José Silva



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