segunda-feira, julho 26, 2004

Nova colaboração de António da Costa

As Ideias, as Pessoas e as Acções

No que, entre nós, passa por ser debate político, desde o plano nacional ao local, existe uma enorme incapacidade para distinguir níveis de discussão que são muito diferentes.
Nos textos que produzi para este blog ou que enviei para a imprensa local (em especial os não publicados), procurei sempre fixar as minhas posições no debate das ideias e das acções das pessoas e não fazer uma discussão das pessoas, por si mesmas, independentemente das suas ideias e acções.
Sempre que individualizei críticas, fi-lo quando as pessoas nomeadas se tornaram veículo da expressão de ideias ou da realização de acções das quais discordo frontalmente.
No campo das acções, as minhas críticas dirigem-se ao poder autárquico sediado na Moita, pela sua omissão, acção tardia ou meramente errada, apesar de um exercício ininterrupto da governação local nos últimos 30 anos.
No campo das ideias, critiquei e critico aqueles que, por não terem responsabilidades directas no exercício do poder, se limitam a debitar discursos vagos e vazios de conteúdo, sem propostas concretas, limitando-se a coreografias de combate político. É que se passa com a generalidade dos que se afirmam como alternativa ao poder vigente, mas apresentam projectos concretos de mudança para o futuro.
Porque há que distinguir os que erram por acção, porque têm o poder para agir, e os que erram por não terem a capacidade de formular ideias alternativas que, chegando ao poder, pudessem ter o efeito de alterar o que está errado.
No concelho da Moita, em minha opinião, estamos muito mal fornecidos de elites ou do que, por cá, poderemos considerar como tal, desde os que, de forma muito pouco competente, têm vindo a exercer o poder, até aos que, na ânsia de lhes suceder, criticam sem o cuidado de aprofundar a sua argumentação.
Tomando como referência as publicações oficiais do município (Boletim Municipal da Moita, agenda Maré Cheia), ou a imprensa local (jornal O Rio, publicação de nome Jornal da Moita e Baixa da Banheira), a que conclusões chegamos:
· No primeiro caso, que vivemos a caminho do melhor dos mundos, em virtude da acção renovadora do executivo autárquico por todo o concelho, como se o que está mal e está em renovação não fosse resultado de décadas de incompetência dos sucessivos executivos da mesma organização política. O facto do actual Presidente da Câmara ter herdado o poder num contexto similar ao nosso actual Primeiro Ministro – sem leições, por fuga do detentor anterior – não justifica uma situação de dupla personalidade em que se afirma uma identidade nova, mesmo se esta nasceu do seio da anterior.
· No segundo caso, que tudo parece estar mal para as forças da chamada oposição, mesmo quando essa oposição já domina posições importante no concelho, nomeadamente no caso de Juntas de Freguesia. Aliás, existem pequenos vultos locais que, apesar de estar já ao seu alcance o que parece ser o aroma do poder local, não conseguem abandonar um discurso de debate político que, criticando, nunca vai além da crítica e chega ao plano da proposta concreta, para ser cumprida sem obedecer a calendários eleitoralistas.

O meu intuito como o deste blog não é de acção política no contexto partidário.
Nós não temos interesse em ser poder, por eleição ou cooptação.
Por isso, não nos digam que nós também só criticamos, poque essa é a nossa verdadeira missão e, diria mesmo, obrigação moral e cívica.
O que pretendemos é dar voz aos eleitores da freguesia de Alhos Vedros e apresentar questões, tanto a quem nos governa como a quem nos pretende governar.
E tentar obter respostas.
Como cidadãos intervenientes e eleitores, recusamo-nos a ser ouvidos apenas de 4 em 4 anos quando vamos colocar o papelinho da urna ou, formalmente, em ocasiões de debate público aberto com responsáveis autárquicos que não servem, pura e simplesmente, para nada, se não para encenar um simulacro de contacto como o «povo», essa massa informe que só serve para encher a boca e os discursos de quem mais o despreza, o mesmo se passando com as iniciativas com responsáveis das restantes forças políticas.
Por tudo isto, comecemos a abrir o jogo e, para além de jogos florais de má qualidade literária e argumentativa, passemos à fase das respostas às questões em aberto.
Tendo sido a freguesia de Alhos Vedros, a mais sacrificada e desprezada do concelho da Moita desde, pelo menos, meados do século XX, o que pretendem os detentores do poder, ou candidatos a detê.lo, fazer para inverter a situação de degradação existente ?
E, por favor, não nos respondam que é com novas urbanizações, com mais betão e alcatrão distribuídos sem critérios ou gosto.
Não é isso que é qualidade de vida.
E, apesar de dizimados, em Alhos Vedros ainda há quem saiba o que isso é, nem que seja por já viu em outros lugares, ou mesmo na TV.


Nota final: Em post recente, Titta Maurício parece querer dar a entender que chamar, na discussão política, «senhor careca de óculos esquisitos» é menos grave que charmar «xenófobo, racista, etc». Poderá ser menos grave, no seu entender, mas não deixa de ser o exemplo de uma crítica que, fugindo aos argumentos, se refugia na ofensa pessoal a traços físicos e pessoais individuais de cada um. Por outro lado, chamar xenófobo ou racista, independentemente da veracidade, pelo menos é uma crítica quanto às ideias e comportamentos políticos de alguém.
A diferença poderá subtil mas penso que é claramente perceptível.
E só faço aqui este comentário porque, não estando o visado (António de Sousa Franco) já entre nós e independentemente de simpatias partidárias, alguém que o defenda quando é atacado de forma que esquece o essencial.

António da Costa



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