Ainda em torno das questões levantadas pelo post anterior do meu conterrâneo Paulo G. quanto à situação da Educação entre nós, gostaria de deixar aqui dois reparos que acho importantes (e muito preocupantes) neste momento:
* Em primeiro lugar, a ideia que vai ganhando alguns adeptos de que a colocação de professores, para não ser tão centralizada e difícil de fazer, deveria ser descentralizada e dado um maior papel às autarquias. Em minha opinião, isto seria o golpe final no nossos sistema educativo. O nosso poder autárquico, nada eivado de caciquismos e clientelas, iria ser um óptimo gestor da colocação de docentes nas escolas !!! É só olhar para algumas das linhagens existentes nos aparelhos técnico-administrativos das Câmaras (ele é o primo, ela é a cunhada, ele é o amigo do genro, ela é a vizinha da amiga) para sabermos o que nos esperaria. Para além de que, quer atendendo à escassa extensão do nosso território, quer ao que isso significaria de incoerência num sistema que se pretende nacional, uniforme e equitativo, essa solução seria o dobre de finados por qualquer esperança de qualidade do nosso ensino. Aliás, seria regredir mais de um século, até bem fundo no século XIX, quando eram as Câmaras e Juntas de Paróquia a deter a capacidade de abrir escolas e apenas ficámos, desde então, no último lugar das estatísticas relativas à alfabetização e literacia. Como a memória é curta, o pessoal não se lembra do que não convém.
* Em segundo lugar, a questão das queixas dos pais quanto ao funcionamento das escolas e à dificuldade que têm em assegurar onde ficam os filhos o máximo de horas, no máximo de dias. Sempre que há qualquer atraso nas aulas ou pausa lectiva, lá temos as mesmas sacramentais queixas. Também sou pai e também sei o que custa tudo isso mas, sinceramente, vejo muito mais almas preocupadas em saber onde “despejar” os filhos do que em lutar pela melhoria da qualidade do ensino e da sua aquisição de competências essenciais para a sua vida. Ou seja, a quantidade sempre à frente da qualidade, menos quando se trata do número de aulas, porque essas são sempre tidas como muitas, mesmo se pelas estatísticas OCDE somos dos países com menor carga lectiva. Ou seja, as crianças devem ficar muito tempo na Escola, desde que não seja para terem aulas. É a solução do mega parque infantil ou parque de diversões para a pequenada (e não só) passar o tempo. Se é assim que acham que está certo, a vossa vontade tem vindo a ser feita. Cada vez estamos mais atrasados, mesmo se temos dos maiores investimentos per capita em Educação da Europa (é verdade, sim senhor). É o que dá a inteligência dos pobres de espírito que nos têm ditado as políticas educativas, mas o que podemos fazer, pobres mexilhões ?
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