quinta-feira, setembro 02, 2004

Notas sobre a imprensa local

A leitura do nº 160 do jornal O Rio, agora numa versão estival mensal, despertou-me algumas ideias, em particular no que respeita à polémica entre Luís Chula e Lourivaldo Guerreiro e aos avisos à navegação feitos pela Direcção do jornal sobre este tema e também em resposta a uma carta do Secretariado do PS local.
Em primeiro lugar, repara-se que a direcção do jornal não se quer deixar envolver em questões mais incómodas e que foge às opiniões que podem colocar em causa os consensos ou que podem levar os mais distraídos a confundir as opiniões dos articulistas com a linha editorial do jornal. Percebe-se que os equilíbrios que permitem sobreviver o periódico não se compadecem com estas polémicas, mas é pena que não exista espaço para a discussão acesa. O aviso a Lourivaldo Guerreiro para não continuar a polémica é um sinal inequívoco para silenciar a sua voz e opinião, no sentido de salvar a posição do jornal. E os elogios quanto à idoneidade e elevação da argumentação de L. Chula mais do que a despropósito soam a debandada.
Aliás, já tínhamos percebido esta fuga ao que é incómodo quando se silenciaram as reacções favoráveis ao texto do Manuel Pedro sobre o Imposto Taurino e ao não ser publicado um segundo texto do António da Costa sobre o carácter pouco fundamentado das pretensas tradições taurinas seculares da Moita. Embora respeitasse a generalidade dos critérios definidos para a publicação (era inédito, era actual quando foi apresentado, não tinha alinhamento partidário, era bem fundamentado), foi esquecido porque retomava uma crítica ao lobby taurino moiteiro, o que podia “levantar ondas” numa questão que agora parece muito cara ao poder político local.
Não podendo avaliar, no concreto, as razões de queixa do PS quanto à não publicação dos seus comunicados (acho que os jornais não servem para divulgar os documentos de propaganda de cada partido), posso, contudo, criticar abertamente a forma como O Rio gere o seu conteúdo informativo e noticioso, com base nos próprios critérios definidos pelo seu director. Isto porque raramente o seu conteúdo informativo é actual, mesmo para um quinzenário, exceptuando-se o noticiário das festas e sessões partidárias, enquanto o conteúdo de opinião se divide entre a propaganda partidária e artigos de opinião que vulgarmente estão bem para lá do compreensível (caso do meu amigo V. Barros e a sua epopeia de fichas de leitura) ou da extensão tida/dita como aceitável (o texto do Luís Chula no presente número).
Claro que cada jornal tem a sua linha editorial e só publica o que quer ou lhe interessa, mas não se mascare isso com outros argumentos.
Quanto ao texto de desagravo do caríssimo não-aficionado (nas suas palavras) Luís Chula, sauda-se o carácter autobiográfico, justificativo e demonstrativo de raízes culturais que estão para além do cheiro a bosta. No entanto, pouco há a dizer quanto a alguém que considera um marco na sua vida ter participado aos 13 anos no elenco da revista Raparigas em Órbita; se o rídiculo cobrisse a cara e o corpo de alcatrão e penas, o dito senhor pareceria um daqueles batoteiros caricatos que aparecem na histórias do Lucky Luke. Quanto ao resto, e penso que o Lourivaldo Guerreiro não precisa de defensor oficioso, o aparente agravado deveria fundamentar melhor a afirmação da vetustidade das festas da Moita que, de acordo com a vulgata moiteira, têm 300 anos mas que nunca ninguém demonstrou com documentos comprovativos de forma minimamente convincente.
Felizmente, aqui no blog, como os custos de produção são baixos, podemos dar voz a todas as opiniões e manter as polémicas pelo tempo tido como necessário aos intervenientes.
Percebemos pela posição que tem vindo a ser tomada pel' O Rio que mais do que discutir as questões do concelho ou região que pretende representar, é importante não ameaçar o precário status quo local.
Pronto, está percebido.
Pela nossa parte, tentaremos não atrapalhar fora do espaço que é nosso.
O espaço para a opinião tem os seus limites.
Cada um traça os seus.


Sem comentários: