Uma estratégia fundamental de qualquer actividade é o conhecimento da realidade que a envolve e na qual se move.
Como somos muito modernos e actuais fomos, a pedido do nosso editor Paulo, então ver o que se passa com os outros blogs que se apresentam como regionais ou locais.
Há uns 6 meses atrás tínhamos lido um artigo do jornalista Paulo Querido no Expresso sobre o tema que nos tinha deixado, mais que insatisfeitos, verdadeiramente desanimados com a falta de profundidade e esforço do trabalho em causa, mesmo se isso não é coisa invulgar no meio jornalístico que trata a blogosfera. Autor de um blog muito pretensioso a todos os níveis – (o vento lá fora) Paulo Querido (PQ) tinha o mérito de chamar a atenção para uma dimensão menos visível dos blogs, mesmo se de forma muito superficial e politicamente correcta. Nesse artigo destacavam-se uns quantos (escassos e sem critério aparente que não fosse o da quantidade de visitas) blogs e, para início de conversa, lá começámos por alguns desses destaques.
A nossa surpresa não podia ser maior pois realmente andamos por caminhos muito distantes de boa parte daqueles que se apresentam como blogs de natureza local e/ou regional. Façamos então um volta sumária pelo país, deixando de fora dezenas de blogs que se afirmam ou deixam catalogar daquela forma.
O blog O Castelo de Ourém depois de merecer a atenção de PQ no tal artigo envaideceu-se e os seus posts passaram durante algum tempo a versar esse mesmo tema e a destacar os blogs amigos da vizinhança, alguns como o de Tomar bem melhores que o próprio – é do género central informativa, com muitos colaboradores e razoáveis recursos, mesmo se com pouco feedback a avaliar pelos poucos comentários inseridos -, mesmo se nos ignora nos seus numerosíssimos links. No entanto, e voltando a’O Castelo, quem o mantém e alimenta, ultimamente parece ter atinado e voltado a lembrar-se que se diz um blog local.
Ainda por aquelas bandas temos o Ourém, outro daqueles blogs que só por distracção se pode considerar local, pois os temas abordados raramente refletem (sobre) a realidade da sua região antes dissertando sobre a actualidade cósmica e afins..
Mas, apesar de tudo, o centro do país não está perdido e, muito em especial a lezíria tem salvação, pois o Conspirações de Coruche é cá dos nossos: um blog local é um blog local e só, por excepção, deve enveredar por outros caminhos. Do mesmo género, é ainda o nosso perseguidor (nos hits do PTBloggers) da Figueira da Foz, que para além de ter um visual parecido com nosso, mas em verde, também tem um espírito verrinoso que nos apraz registar. Ainda dos nossos, em Celorico da Beira temos o respectivo Nabo e, logo pelo nome, está tudo dito. Má ou boa língua é questão de opinião.
Descendo ao Alentejo encontramos um ninho de blogs; deve ser da interioridade. Beja, Évora e outras vilas alentejanas estão tão bem representadas na blogosfera que não dá para citar tudo.
O Abençoada cama alentejana ganha o prémio do melhor nome, mas é mais generalista que outra coisa. O Abençoada cona alentejana já entra em outra dimensão e custa a encontrar (mudou de endereço, vai-se dar ao Blogger brasileiro, etc, etc), pelo que aqui não vai link. O Évora dos Pequeninos também está tão difícil de entrar que não dá para saber como anda.
Já em Mértola, temos um blog pouco regular na entrada posts mas bom no conteúdo. Também o Chaparro é interessante e merece visita e alguma exploração.
O Algarve, como em tudo, é muito assimétrico: o Algarveglobal não passa de um site generalista algo camuflado; já o bem achado Alcagoita é bem bom e não renega as origens algarvias.
Aqui para os nossos lados, não há muita actividade bloguística mas sempre se acha alguma coisa, mesmo se nem sempre a gosto. Na margem sul, aqui mais próxima de nós, encontramos dois blogs feitos a partir do/sobre o Montijo, com características muito diferentes: um, que já foi fortemente polémico (“Escândalos do Montijo”), quando se entra pelo Ptbloggers está okupado (o K não é gralha) com a epígrafe “Preso Pinto da Costa”, embora continue activo quando se entra pelo endereço correcto; infelizmente transformou-se e agora tem mais características de site de notícias e actualidades do que de outra coisa. O outro (Montijo no Mapa) é daqueles que só pareciam preocupados com as regras da elevação e cortesia nas declarações de intenções e, talvez por isso mesmo, não passou de um nado-morto.
Em Sesimbra encontramos muita erudição e pretenso bom gosto num daqueles blogs que tentam mostrar-se à altura dos mais evoluídos; infelizmente, da realidade local muito pouco se escreve. Outro dos blogs aclamados pela crítica é o Sadinos que mais parece uma página pessoal condimentada com um ou outro post de comentário local; ou seja, a sua natureza local é a excepção e não a regra.
Para Norte temos em Chaves um blog local como deve ser, pois é sobre a cidade que se debruça e não se perde em comentários deslocados e imagens que nada têm que ver com a realidade flaviense.
Continuando em Trás os Montes, o Escorreito fazia jus ao nome mas infelizmente desapareceu, embora deixando-nos os arquivos.
No Minho, e no caso de Braga, as angústias bracarenses dão origem a um óptimo blog que está muito para lá de vários sites de imprensa regional.
No Porto o Fonte das Virtudes é um belíssimo exemplo de um falso blog local, com um autor que prefere mostrar os seus gostos e alinhar com os blogs generalistas em voga. Já o Pobo do Norte é daqueles para quem o Porto é io FêCêPê e mais nada.
Em Ponte de Lima reside um blog local à maneira, como deve ser, onde imagem e palavra servem os seus objectivos como se espera de uma iniciativa deste tipo.
O Aqui é Nordeste merece visita apesar do grafismo pouco convidativo.
Dedicado à nação mirandesa temos o Blogger do Mirandês que não deixa de mostrar como servir uma comunidade local minoritária.
Nos Açores existem blogs interessantes como o de Vila Franca do Campo, simples mas directo ao assunto. Já o Professorices é mais uma extensão da página pessoal de um progfessor universitário local (Ponta Delgada).
No fundo, a blogosfera nacional, regional ou local, só a custo escapa ao mal do país que é o do domínio de um grupo restrito de figurões satisfeitos consigo mesmos, muito respeitadorzinhos das convenções definidas por si, pelos amigos ou por aqueles que os aceitam, virados para dentro do seu grupo, falando em circuito fechado, dando-se ares de erudição, elevação e respeitabilidade, sendo fundamental para a erudição a acumulação de dezenas de links nas margens do blog, para a elevação a utilização de um discurso redondinho e sem arestas ou com as arestas alinhadas com as tendências formatadas na nossa opinião publicada e para a respeitabilidade não colocarem em causa os poderes locais.
Apesar dos esforços e do impacto local, os blogs mais críticos acabam por ter pouca visibilidade, em termos globais, pois quem passa por analista da blogosfera só tende a destacar aqueles blogs que se citam entre si e que se mostram mais cosmopolitas e sofisticados.
Apesar de se dizer que o fenómenos dos blogs «deu voz a quem a não tinha» e que deu maior liberdade de expressão a quem não tinha acesso aos meios convencionais de comunicação social e patati e patatá, o resultado e´que depois só se destacam sempre os mesmos, os quais são normalmente da responsabilidade de personalidades bem destacadas da nossa vida política, social e cultural que já antes tinham capacidade bem acima da média para se fazer ouvir. Veja-se o recente artigo da Visão (nº 600, 2 a 8 de Set/04, pp 36) que aborda esta realidade (dos “blogues” na versão lusitana do termo) e depois destca uma meia dúzia de blogs, todos de reconhecidos protagonistas da nossa (triste) vida partidária, do clássico Pacheco Pereira (PSD) aos nóveis Diogo Feio (CDS-PP) e Jorge Ferreira (Nova Democracia, ex-PP), passando pelo colectivo PS do “causa nossa” (Ana Gomes, Vital Moreira, Vicente Jorge Silva and friends), pelos candidatos actuais à liderança PS (Manuel Alegre, João Soares), ou ao bloquista Daniel Oliveira.
No fundo, fora ou dentro da blogosfera, quem (a)parece (a) mandar são quase sempre os mesmos. E todos são, cada um com o seu traço, muito politicamente corectos, respeitáveis, elevados, respeitáveis e dignos de ser ouvidos/lidos.
E isto é a chamada pescadinha de rabo na boca.
Os amigos citam-se e elogiam-se; um(a) jornalista amigo(a) destaca-os e dizem que são os melhores; com a curiosidade o vulgo vai lá ver e alimenta as estatísticas que alimenta a legitimidade de novo(a) jornalista destacar os mesmo blogs e assim por diante.
E assim se formata artificialmente o que era (e apesar de tudo ainda é) um fenómeno espontâneo de liberdade, criação e crítica.
É pena mas é verdade.
Filipe Fonseca
José Silva
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