sexta-feira, setembro 24, 2004

Novo contributo de TM

Meu caro,
Começo pelo fim: a questão do fatinho azul-celeste! É bem verdade que os anos oitenta foram, na minha opinião, pouco dados ao bom-gosto. Mas fatos dessa cor não me recordo... a única coisa de estranho que tinha (e com todo o respeito por esses profissionais) era um fato azul-CP: era tão realista que uma vez interpelaram-me para saber se faltava muito para o barco partir! Ah, e claro (talvez o pior de tudo) as meias turcas brancas! Agora, hoje em dia, prefiro os factos cinzentos muito escuro, ou pretos finamente riscados... e com eles, invariavelmente, meias pretas! Além disso, o que me espantou no seu comentário foi a menção a uma cor: é que a foto que forneci é a preto-e-branco...
Mas, deixemo-nos de diálogos sobre moda e gostos... ou a memória da falta dele!
Primeiro as respostas aos "very short comments" ínsitos no meu texto. - A pergunta era se sabia quais são as convicções pessoais dele sobre o aborto. É que, como sabe, ele é acusado de ter publicado um texto (nos idos tempos de 1983, se não estou em erro - outra vez esta década...) onde expunha uma posição diferente da do CDS. Além disso, é público, alguns dos seus mais próximos e importantes colaboradores não filiados no CDS fizeram publicar no Indy, dois textos em que apelavam a uma liberalização das posições da direita sobre a matéria (bem cá suspeito porque o fizeram e imagino que não hajam desegradado... se é que, para tanto, não foram estimulados a fazê-lo)! Quanto aos "valores da família"... não me parece que eles se apliquem aqui. Parece-me mais que se deva falar do valor da vida humana! - O pedido de respostas às insinuações que fez (e faz) não foram respondidos e, como diria o outro, «você sabe bem do que eu estou a falar»! É que qualquer resposta só pode ser dada se concretizar! Vou ajudar: está a falar do tema que ainda há dias foi tema de um inqualificável editorial de "A Capital"? Eu também conheço alguma malta dos primórdios do Indy (um deles até foi meu aluno)... e depois?!? E qual é o sítio apropriado para falar sobre o "assunto"?!? Acredito que não seja o seu caso, mas acho fantástico a cobardia e (aqui sim!) a hipocrisia daqueles que andam a propor determinadas formas de casamento e depois tem recaídas sob a forma das mais rasteiras fobias! E depois as insinuações... como se isso, a ser verdade, fosse importante para determinar as opções dos eleitores... e quem o faz, julgando que isso aconteceria, é do mais estúpido possível! Volto a dizer (sem ironia ou mera cautela): não o estou a ver adoptar essa postura! Além disso, acha que um tipo que já foi acusado de tudo pelos seus adversários, que lhe inventaram todo o tipo de pecados, se fosse verdade não acha que já teriam arranjado alguém que aparecesse a confirmar o "assunto"?!? Parece que para alguns, a coisa nem é difícil: acreditam que foi possível montar uma "cabala" e arranjar mais de 130 testemunhas...
Mas isso é desviar-me (e muito!) do assunto.
Agora, os «pequenos detalhes - resposta temporária a TM». A questão Paulo Portas... já a respondi. Só acrescentava que conheço muitos casos de quem «sabe de coisas que lhe contaram outras que conhecem quem sabe»... etc! Mas, não quero fazer desta questão tema de conversa. Nisso acompanho-o: o tema é desinteressante e fiquemo-nos por aqui, em nome do bom tom e da decência! Quanto a mim, não tenho nada a esconder e tento (bem sei que não consigo) viver de acordo com aquilo em que acredito. Se o problema é conhecer-me... não estamos tão longe e eu confesso que tenho curiosidade de conhecê-lo! E Paulo, querendo, sabe como. Em relação ao que me levou a entrar na política... se calhar é o mesmo que me poderá levar a partir! Até porque não quero que haja "parcelas de mim que fiquem pelo caminho"... e pactuar... infelizmente sou mais acusado de radicalismo e fundamentalismo do que de cauculismo ou "interesseirismo"! O que pretendo é discutir ideias e tentar influenciar (pela persuasão e bondade das propostas) as decisões que nos afectam a todos! Porém, começo a duvidar que a política seja o espaço adequado... mas ainda não fui capaz de perceber qual seria o outro (a menos que fosse fora da política para influenciar a política)! Além disso, começa a incomodar-me a perspectiva de ser alvo de desconfiança porque digo que não quero nada... começam logo a pensar que quero algo de mais "apetitoso" ou inconfessável! De Fausto tenho muito pouco... ou quase nada... acredite! Agora, que não temo (por falta de calculismo, talvez) tomar partido e dar-a-cara pelo que acredito, também é verdade! Mesmo que seja desagradável ou prejudicial... porque, para mim, o pior é, por excesso de escrúpulos, ficarmos pelo conveniente "nada fazer"! Não o estou a criticar... apenas não gostaria de, no final, chegar à conclusão que as coisas poderiam ter sido diferentes se eu não tivesse guardado o meu pequenino contributo... é por isso que me recordo imensas vezes de Cícero: «A política é suja! E, por isso, as pessoas limpas não se metem nela! Assim, a política continua suja!»... não sou a central das limpezas... talvez me arrependa e me sinta sózinho... espero que consiga manter estas convicções... sem que nada fique pelo caminho! E, por isso, não diria que «há formas de, cedendo aqui e ali, atingir uma situação em que se pode fazer o bem e ajudar a extirpar o mal»... não acredito em soluções intermédias ou de consenso... pela minha profissão (que adoro e tento exercer do modo que me parece adequado) não acredito nas soluções perfeitas, mas acredito que devemos procurá-las... com honestidade e sem que as propostas sejam adequadas a satisfazer o máximo de membros do júri! Quanto à culpa por omissão é uma questão discutível: quem não está não conhece e quem vê e relata é destruído... por aqueles a quem a denúncia se destinava proteger! Esta é outra que não sei a resposta... mas, garanto, até hoje não vi nada que eticamente me incomodasse: será cegueira, falta de oportunidade ou baixos standards de análise?!?
O caso da Dra. Celeste Cardona. Admito a sua incomodidade... não vejo onde a nomeação para o cargo seja «recompensa por fidelidades»?!? Primeiro, uma nomeação não se pode classificar à partida mas pelos resultados (ou ausência destes)! Segundo, pelo que julgo saber, pela declaração de rendimentos da Dra. Maria Celeste Cardona antes de ser ministra, ela auferia mensalmente, em média, mais do dobro do que vai auferir na CGD. E, segundo dizem as más-línguas, sair do governo para a privada é bem pago... dizem até, muito bem pago! Terceiro, ela é uma reputada e reconhecida profissional em matéria económicas e em ramos do Direito ligados com a área fiscal, financeira, bancária e dos contratos! Parece-me uma indicação bem mais razoável e justificável do que a do Armando Vara... Quarto, a remuneração que ela vai auferir, ela foi fixada pelos governos anteriores e são abaixo dos valores que o mesmo argo paga na concorrência privada! Quinto, esclareça-me lá qual seria o seu critério para a escolha dos corpos gerentes de uma empresa controlada pelo estado? Finalmente... já reparou que a questão é só Celeste Cardona?!? E os outros 12?!? Ou será porque a sua presença é mais um espinho encravado no "centrão de interesses", que se sente incomodado porque é mais um lugar que é atribuído a outros que não só os indicados por "eles"?!?
Paulo, pode-se ter horror às forças fácticas, mas devemos conhecê-las...e ter o cuidado de evitar ser porta-voz inadvertido das suas queixas!
Ah, e não se diz "a" Opus Dei, mas "o" Opus Dei (como sabe, a palavra Opus é uma palavra neutra em termos de género e, em latim, para os termos neutros adopta-se o artigo definido no masculino). E muitas vezes, com diz o Povo, "é mais a fama que a rama"!
Mas uma vez mais estou a desviar-me...
Vamos ao tema. Está a dar-me razão quando diz que o termo lhe «soa mal»... mas a questão não é (nem pode ser) estética: os termos expressam realidades... "adocicá-los" é esconder a verdade, é colaborar! É como dizer CDU em vez de PCP...
A excursão pelo dicionário: eu também, com calcula, usei um! E o sentido que pretendemos é conhecido. O problema (e deve ter sido distração) é que os sinónimos que apresentei foram relativos a interrupção (que pressupõe não algo de "definitivo" mas uma "suspensão para continuação posterior"!), a qual me parece... desadequada à questão. E porque assim penso, vai perdoar-me, mas terá que explicitar melhor como esta se adequa à realidade "aborto"! A não ser que seja só por reflexo condiccionado...
E porque mais nada era dito sobre o assunto, aguardo, por isso, por mais desenvolvimentos
Tenho dito... ou escrito!

João Titta Maurício

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