sexta-feira, setembro 17, 2004

Hipocrisias taurinas

Em todo este triste assunto que rodeia as alegadas práticas menos próprias do presidente/professor/etc da Escola de Toureio da Moita, mais do que o julgamento do indivíduo e dos seus comportamentos (para a sua averiguação e punição existem os tribunais), interessam-me em especial as questões envolventes bem mais importantes e que nos revelam muito do que é a hipocrisia e o cinismo do mundo taurino moiteiro.
Centremo-nos em dois aspectos de importância fundamental:
Em primeiro lugar, no facto de a Escola de Toureio da Moita ter sido a menina dos olhos da chamada aficcion taurina moiteira até à bem pouco tempo, ou seja, até ao momento em que transpareceu para o exterior algo de mais incómodo para as “boas” consciências. Antes de mais, foi o esforço para esconder, para ocultar, para evitar que se soubesse. Pelo que afirma o director do jornal As Farpas foram muitos os silêncios sobre o assunto e muitas as pressões para o abafar.
Em seguida, quando os boatos ganharam amplitude nos mentideros e, muito em especial, quando tiveram ampla divulgação pública, muitos dos que antes surgiam a rodear Armando Soares em todo o tipo de oportunidades e eventos (e o registo fotográfico existe de muitas dessas ocasiões, bem como de textos encomiásticos que alguns talvez gostassem agora de apagar) apressaram-se a demarcar-se dele e a erigi-lo como único responsável pelo que não pode deixar de se considerar um escândalo.
Significa isto que no mundo taurino da Moita, em situação de crise, a primeira solução é a ocultação dos factos e a tentativa de os subtrair ao conhecimento público e, na sua impossibilidade, a rapidez em isolar o bode expiatório e sacrificá-lo sumariamente.
Não é nosso interesse defender Armando Soares; muito pelo contrário, tudo parece apontar para a existência de comportamentos altamente reprováveis em quem se pretende um mentor e formador de jovens.
No entanto, parece-nos igualmente importante sublinhar a actuação dúplice, cínica e hipócrita daqueles que, num ápice, afirmam que o futuro das actividades taurinas na Moita não tem nada a ver com o passado – leia-se, com a Escola de Toureio da Moita - , que o problema daquela instituição era estar centrada numa única pessoas que se aponta como responsável por tudo o que lá se passava e que é necessário criar outra estrutura, como que se esquecendo dos seus próprios papéis naquele mesmo passado.
Até já há quem tenha anunciado o fim da festa taurina na Moita, depois de ter gasto uns bons (maus?) parágrafos a defendê-la com denodo. Dizem que só os burros não mudam de ideias, mas...
Pois, porque as declarações de Carlos Martins ao jornal As Farpas revelam que já há algum tempo se acumulavam indícios de mal-estar entre os ex-alunos daquela Escola, os quais dificilmente escapariam aos conhecedores do meio. Só que, como nada parecia transpirar para fora, fingia-se que tudo corria no melhor dos mundos. Nada contra os vícios privados, desde que se aparentassem públicas virtudes.
Agora, com o caldo entornado, todos procuram sacudir as responsabilidades das costas e reescrever o passado, com pressa em apagar o elemento incómodo da fotografia, lançando-o sozinho para a fogueira.
Resta saber se mais ninguém lhe deveria fazer companhia, por acção, por encobrimento, ou por voluntária indiferença.
Miguel Alvarenga escreve e bem que A. Soares deve enfrentar a realidade dos seus actos.
Mas isso deveriam fazer muitos outros, desde os que procuraram ocultar tão graves ocorrências e desculpabilizá-lo aos que o querem linchar na praça pública e apagá-lo de uma história que com ele têm em comum.
Como em quase tudo em Portugal, oscilamos entre os brandos costumes que tudo toleram em nome de um bem-estar colectivo bafiento e os fogachos de justicialismo sumário, mais preocupado com a aparência do que com a essência da justiça.
Assim se vê a coragem dos homens, em especial daqueles que muito a apregoam.

António da Costa


1 comentário:

Anónimo disse...

Hipocrisias taurinas....

Senhor António de Sousa...não o conheço (talvez por isso a minha maior isenção), contudo, se estivesse numa Praça de Touros e este seu "artigo" fosse uma "lide" - teria, certamente, saído em ombros...è preciso coragem, ombridade, caracter, para dizer o que disse_ atributos necessários para enfrentar os "bravos" e calar os "mansos"
Bem Haja
Uma aficionada anónima a quem muito doeu essa história