quinta-feira, setembro 16, 2004

A esquecida zona ribeirinha de Alhos Vedros

Como esta parece ser uma questão que mais ninguém se sente muito confortável ou com interesse em abordar, gostaríamos de lançar a partir deste espaço e do Alhos Vedros Visual um debate sobre a situação e o destino da zona ribeirinha da freguesia de Alhos Vedros, deixada ao abandono (ou pior do que isso) nas últimas três décadas.
A situação que se vive na vasta faixa fluvial de Alhos Vedros é absolutamente intolerável e simboliza o desprezo a que têm sido votadas pelo poder moiteiro questões de natureza ambiental e patrimonial absolutamente essenciais para quem defenda um desenvolvimento integrado, sustentado e equilibrado da freguesia e do concelho.
Num espaço onde ainda na minha infância, e por maioria de razão na de gerações anteriores,
existia a possibilidade de um saudável contacto com a natureza com salinas, viveiros piscícolas, pequenas enseadas arenosas onde se podia tomar banho, pontões rochosos para a apanha do caranguejo ou lameiros para a apanha da lamejinha, passou a ser possível encontrar detritos ferrosos, águas crescentemente poluídas, lixeiras de “monos”

O que ganhámos em troca com as transformações operadas na década de 70 e mantidas desde então ?
Por vezes, a mudança é feita em nome do progresso e, em alguns casos, a realidade que se constrói até pode justificar que se elimine o que antes existia. Mas esse não é o caso.
O desastre ambiental em que se transformou a zona do “Cais Novo” não tem qualquer desculpa e os poderes autárquicos que se sucederam desde o 25 de Abril foram coniventes, por acção ou omissão, na perpetuação de uma vergonha sem limites.
O desenvolvimento trazido à freguesia pela instalção de um mega ferro-velho a céu aberto foi nulo. Quem está em condições de dizer quantos empregos gerou para os alhosvedrenses ? Que receitas ou vantagens económicas trouxe para a vila ? Em suma, que contrapartidas, trouxe a instalação daquela pseudo-indústria para além da poluição do rio, a destruição da fauna e flora do sapal, para não falar no atentado visual para a paisagem ?

Alhos Vedros que, durante séculos, viveu virada para o rio ficou obrigada a virar-lhe costas. O desleixo, o abandono, a incompetência técnica e a cobardia política têm permitido a inexistência da criação de alternativas para que os alhosvedrenses possam fruir, de forma lúdica, de algo que teve e (ainda) tem um valor inestimável.
No contexto do concelho, a freguesia de Alhos Vedros é a que tem maior faixa ribeirinha mas, porém, é aquela em que a ligação com o rio é mais problemática. Os investimentos feitos no Parque da Baixa da Banheira ou os que se vão fazer na Moita, no que o poder moiteiro quer fazer crer que é uma zona ribeirinha (e que no fundo não passa de umas curtas centenas de metros entre a porta de água do “cais” e os vestígios da caldeira do velho moinho de maré do Álimo), não podem ter qualquer comparação com os feitos em Alhos Vedros, porque aqui eles simplesmente não existiram.
O nóvel Parque das Salinas de Alhos Vedros, com todas as suas incongruências, aí está como testemunho dos equívocos e como monumento à incompetência de um poder que carece de visão e de capacidade de intervenção efectiva na requalificação da zonha ribeirinha de Alhos Vedros.
Não nos esqueçamos que da Igreja ao “Cais Novo”, passando pelos moinho de maré, pelo “cais velho”, pelas antigas salinas e pelo sapal se estende uma longa faixa ribeirinha cuja recuperação e, como agora está na moda dizer, requalificação, poderia representar uma enorme mais-valia para a freguesia (para não fizer para o concelho); só que, infelizmente, os dinheiros (perto de 6 milhões de euros, mais de 3,5 de financimento através do programa Polis) só estão disponíveis para a faixa ribeirinha moiteira.
Pode ser que desta vez alguém tenha a presciência divina de colocar os bancos no passeio envolvente à caldeira de forma a apanharem a sombra das árvores na hora de maior calor, ao contrário do que acontece agora, em que os bancos que lá estão ficar á torreira do sol desde o fim da manhã, enquanto a zona de sombra do passeio serve para estacionar carros.

Mas não estamos aqui contra a realização de investimentos na Moita.
O que estamos é contra a sua concentração na faixa ribeirinha moiteira, deixando alhos Vedros na penúria e no abandono a que toda a gente se vai, a bem ou a mal, acostumando e acomodando.
E, infelizmente, cada vez surgem menos vozes em Alhos Vedros a reclamar contra este estado de coisas e a pedir contas ao poder autárquico da Moita, ultimamente mais atraído pelos bois.
Em Alhos Vedros o desânimo impera e quem ainda se indigna cada vez sente que é cada vez mais difícil fazer-se ouvir.
Só para dar um exemplo, mesmo num jornal que, nascido em Alhos Vedros, se reclamou do nome de O Rio, quantas vezes nos últimos anos se encontrou um texto sobre este tipo de problemática, essencial para a manutenção de uma identidade própria em Alhos Vedros e que não passa por largadas de bois e cheiro a bosta em Maio e Setembro.
Mas as coisas não podem ficar assim.
Indignem-se (já dizia o outro) e partilhem connosco essa indignação (dizemos nós).
O debate é necessário e para isso precisamos do vosso contributo.
Mandem-nos os vossos comentários (e imagens que possuam) para o nosso mail (avedros@clix.pt) ou insiram-nos directamento no nosso fotoblog (www.phlog.net/user/AVedrosVisual).

António da Costa
José Silva
Manuel Pedro
Paulo

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