terça-feira, setembro 07, 2004

Roldão Preto de volta

As férias retemperaram o vigor ao Roldão Preto que regressa mais impetuoso que nunca, com um texto que assinala o nosso duocentésimo post.

A Vergonha do "Cais Novo"

Retomando a luta voltei da Galiza para unirmos forças e conseguirmos finalmente acabar com o poder moiteiro, a Independência do concelho de Alhos Vedros é o combate da minha vida.
O “Cais Novo” foi construído nos príncipios da décadas de 1970. Por informações recolhidas, o cais novo foi parte integrante do projecto de construção da 1ª fase da Urbanização da Quinta da Fonte da Prata e o seu objectivo seria o de fazer outra ligação entre a Margem Sul do Tejo e Lisboa, para ligações fluviais entre as duas margens do Rio.

O porquê dessa construção: nas décadas de 50 e 60 do século passado, o movimento oposicionista ao Estado Novo estava muito activo no Barreiro, devido ao seu colectivo ser de base proletária, que alimentava de mão de obra a CUF e as fábricas de cortiça.
Esse poder de reinvindicação, organizado na sua maior parte pelo PCP, estava em risco de alastrar e chegar a povoações vizinhas, como Alhos Vedros e Moita, como aconteceu.
A ideia principal foi construir uma cidade tampão situada entre Alhos Vedros e a Moita, que servisse para "colonizar" com pessoas de outras proveniências. O nome da empresa era e ainda é penso eu de que, Comitur. Se repararem no tipo de arquitectura da urbanização, notarão que todos os andares são ligados interiormente por corredores externos, como se pode também observar nas Bandas da Torralta em Tróia ( são os blocos de apartamentos de até ao máximo 3 andares ) que têm também essa ligação interior.
Penso que isso indicia que o propósito desses apartamentos não era serem de primeira habitação, mas sim uma segunda habitação de férias, o que implica que as caractrísticas da população migrante seriam da classe média, como se possa entendé-la em 1972.
Mas em 25 de Abril de 1974, Portugal saiu de uma época, ( A época do Império ) e entrou numa nova época, ( A época da Imperial ).
Com a Revolução de Abril, aconteceu a descolonização ( uma coisa e outra, são a mesma coisa ), e chegaram a Portugal Continental os retornados, trazendo com eles toda uma cultura construída no Império Ultramarino.
As Urbanizações como a da Fonte da Prata, serviram então para recolher esses nossos compatriotas.
O PCP entrou para o poder no concelho da Moita logo em 1975 com o advento das primeiras eleições Livres de Abril de 1975.
Em 1978 o cais novo foi concessionado à empresa Batista e Irmãos LDA. com sede em Sacavém.
Essa empresa dedica-se ao desmantelamento de barcos...
Muitos governos do PCP local passaram, mas o cais de desmantelamento de barcos lá continua, tendo aumentado a sua zona de influência do cais, que era só ocupado no lado esquerdo em 1978, até agora ocupar uma área superior a 2 Km2, de sucatas e lixo de toda a espécie. Só para terem uma ideia do tamanho, a zona urbana da Baixa da Banheira ocupa +-2 Km2.
Existem carreiras de camionetas de carga que fazem o transporte das sucatas numa média de uma por cada meia hora, imaginem as toneladas e toneladas de sucata que são desmanteladas e recolhidas por dia, isto é só o aspecto visível deste monstro.
Os tanques dos barcos a desmantelar vêm com certeza com restos de combustivéis, a nafta, que será alguma recolhida em bidons e outra pura e simplesmente deixada a escorrer para o Rio...
Desde 1978 estimo que mais de 500 barcos alguns de grandes dimensões, como na década de 80 me lembro de ver alguns da União Soviética, foram ali desmantelados.
Como curiosidade recordo que também o Huíge foi ali desmantelado que como sabemos era o navio-hospital que serviu durante a guerra colonial as nossas tropas.
O cais de desmantelamento de barcos tem uma rede independente de energia eléctrica com dezenas de postes de alta tensão que inclusive têm o nome "Batista & Irmãos" escrito nos postes. A camâra da Moita com certeza deu autorização para a contrução desta rede eléctrica.
Não sei se a água que consomem é da CMM, ou têm furo próprio. Sei que o poder moiteiro sempre lhe interessou este negócio, porque deve ter-lhes dado e continua a dar muito dinheiro, se ensarmos bem é um negócio
de milhões e deve ter enriquecido alguns moiteiros mais espertos...
E tudo isto à conta do sacrifício da zona mais bonita, no plano ambiental, de Alhos Vedros.
Local de antigas salinas e zona de sapal, que deveria ser defendida pelo Partido "Os Verdes", o suplemento "ecológico" do PCP, só que este "partido" nunca se referiu a este caso.
Presumo por isso que também devem estar a receber dinheiro da empresa "Batista & Irmãos",
por isso mantêm o bico calado.
Realmente "Os Verdes" é um partido que nem deveria existir, porque nunca foi a votos sozinho.
Além de serem pseudo ecólogistas só serve mesmo é para dar tacho à sua meia dúzia de dirigentes Nacionais e tachos locais, como por exemplo na Junta de Freguesia de Alhos Vedros, em que um dos seus militantes a coisa mais ecologista que fez, foi a organização das Festas da Quinta da Fonte da Prata: o "Conhecer para Aceitar", nada tenho contra este evento que até reputo de importante, acho é que nada tem a ver com as funções que deveria ter um partido ecológico. Especialmente aqui em Alhos Vedros, onde acontece todos os dias este atentado ao ambiente que é o cais de desmantelamento de barcos do “Cais Novo” !
Se este crime fosse efectuado em território moiteiro, há muito teria acabado ou nem teriam deixado em primeiro lugar, mas como é em Alhos Vedros que se lixe, e se alguns moiteiros ganharem alguma coisa com isso, melhor, porque Alhos Vedros sempre foi espoliado pelo poder moiteiro e menosprezado em relação a todas as outras freguesias da Moita.
Alhos Vedros que foi a mãe destes municípios todos em redor, e estou-me a referir ao Barreiro e à Moita em particular.
O problema é que os Alhosvedrenses também nunca se interessam por estes graves problemas e não temos força reivindicativa para exigir a defesa dos nossos direitos.
E esta situação vem-se arrastando há quase 30 anos.
Nas últimas autárquicas a candidata à Junta de Freguesia de Alhos Vedros prometeu que este problema iria terminar e consequentemente a empresa Batista e Irmãos sairia do “Cais Novo”, porque não lhe seria renovada a licença de exploração.
Mas foi tudo mentira !
Os barcos que chegam para desmantelar são cada vez mais e o pesadelo não tem jeito de acabar.
Só por este facto o PCP merecia ser para sempre expulso do poder aqui em Alhos Vedros.
Vamos lá ver se a população de Alhos Vedros toma vergonha na cara e retira a cadeira ao partido que mais tem feito pela desgraça de Alhos Vedros: o PCP.
O cais novo de Alhos Vedros precisa primeiro de ser expurgado do cancro, o desmantelamento de barcos e depois de presumo anos e anos de limpeza, voltar a ser o espaço lúdico que realmente existiu até 1978, onde as pessoas iam pescar e mergulhar ou simplesmente deitarem-se nas areias daquela prainha que está situada a Este e que naquela altura fazia séria concorrência à Praia da Gorda.
Porque no futuro concelho de Alhos Vedros esta zona terá de ser uma zona de praias fluviais e protegidos os seus valores ambientais de sapal, que é como sabemos a zona dos estuários onde as espécies jovens crescem e se desenvolvem, como deveria ser num ecosistema equilibrado que se pretende para esta zona do estuário do Tejo.

Roldão Preto

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