sexta-feira, março 25, 2005

A Estante


Joseph Stiglitz, Globalization and its Discontents (New York, 2002)

Ontem à noite, no programa Expresso da Meia-Noite (SIC Notícias) discutiam-se, a certa altura, os efeitos da globalização nas economias ocidentais e na portuguesa, realçando-se como um fenómeno que inicialmente se pensava ser uma nova forma de dominação do Ocidente sobre o resto do mundo se está a virar ao contrário.
Devido ao sistema duplo existente actualmente na China, que permite um regime político comunista com uma economia parcialmente capitalista, as propostas liberais de livre-comércio mundial estão a virar-se contra as economias ocidentais, devido ao baixíssimo preço da mão-de-obra chines, várias vezes mais barata do que a da própria Europa de Leste e dezenas de vezes mais barata que a alemã, italiana, britânica ou americana.
Contra isso e as suas consequências ao nível da deslocalização de empresas, são pouco eficazes aquelas políticas de redução da carga fiscal sobre as empresas, pois são os custos do trabalho que no Oriente que tornam a atracção por essa regiões quase impossível de resistir pelas empresas transnacionais.
Entre outras revelações de ocasião, nos diálogos estabelecidos, por exemplo, entre Luís Nazaré (economista de reserva do PS) e Miguel Frasquilho (pseudo-guru neoliberal do PSD), ficou-se a saber que AutoEuropa tem direito a uma flat rate de IRC substancialmente inferior à de qualquer empresa normal e que essa foi uma das condições para a sua instalação e manutenção em Portugal e que em 12 estados dos EUA, para algumas empresas se manterem em território americano e não se irem embora para a China, já existe o recurso à mão de obra de prisioneiros, permitido por leis específicas que determinam um pagamento mínimo por esse trabalho (alguém por aqui já ouviu falar de trabalhos forçados, gulags e afins ?).
Para terminar o pequeno detalhe de se prever a existência de 75 a 100.000 novos desempregados nos próximos anos em Portugal, apenas devido à liberalização do comércio de têxteis da UE com a China.
Por tudo isso, o livrinho aqui recomendado é de leitura útil, mesmo se o descontentamento expresso pelo seu autor (Prémio Nobel e quadro de topo do Banco Mundial até há poucos anos) ainda é de um outro tipo, mais desconfiado com a agenda dos interesses financeiros ocidentais e os seus efeitos nos países emd esenvolvimento do que com o seu reverso.

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