Talvez decidida a finalmente dar uma aparência de alternativa, procura apresentar uma visão de desenvolvimento para o concelho. Claro que não passa de ideias vagas, só um poucochinho menos vagas do que até aqui, e entra por aquele discurso sem arestas e aparentemente muito positivo, polvilhado de lugares comuns e expressões para ficar no ouvido, muito característico do discurso rosa local. Como potencialidades do concelho, apresentam-se:
«A qualidade do ar, a boa capacidade dos solos agrícolas, as reservas aquíferas subterrâneas, a localização do concelho e toda a riquíssima frente ribeirinha constituem mais valias para a “aposta” na sustentabilidade do desenvolvimento local".»
Por momentos, parece que propõe o regresso aos tempos bucólicos que já aqui nos acusaram de querermos fazer voltar. Por momentos, e neste parágrafo, quase parecia um texto nosso, em dia de preguiça e inspiração morna.
O problema é que quanto a qualidade do ar, depende dos sítios, porque não deve ser junto da zona ribeirinha de Alhos Vedros; quanto às reservas aquíferas não se percebe bem qual é a utilidade a ser-lhes dada e a propósito da boa capacidade dos solos agrícolas, gostaríamos que especificasse qual o modelo de desenvolvimento rural que propõe. Cá por nós, preferíamos que resolvessem o raio do atraso da construção das ETAR's do Barreiro (autarquia PS há quase 4 anos) e da Moita, mas isso é outra história.
A proposta de uma circular externa - já falada há um par de décadas e já com direito a cartaz de anúncio no cruzamento para a via rápida, ali a seguir à vacaria - seria interessante se viesse junto da proposta de traçado, só para perceber se não será para acabar com algumas das poucas zonas florestadas que sobrevivem. Assim, dito para o ar, não adianta muito.
Por fim, destaquemos a "pérola" do conjunto, que é esta passagem:
«O potencial humano é outra das “pérolas” do concelho que tem de ser acarinhado. A população é jovem, logo, seiva de boas perspectivas futuras; é identificada uma estrutura multicultural rica; o movimento associativo é vasto e pode ser parceiro inalienável nos processos de mudança e inovação; a tradição operária da população constituiu um trunfo para o fomento da educação/ formação, investindo-se seriamente no ensino profissional do concelho da Moita tendo como promotor o próprio Município.»
A população como "seiva" presta-se a demasiados trocadilhos fáceis a que não cederemos, bem como não iremos troçar de todos os clichés que enxameiam este parágrafo (como a "estrutura multicultural rica"); mas a ligação da tradição operária à necessidade de fomento na educação/formação é que nos deixa confusos, pois não se percebe bem como é que é para colocar em prática e, por outro lado, parece encarar a coisa como resultado da acção directa da autarquia, o que se afigura um modelo de tipo estatista à boa moda marxista.
Embora consideremos que a CMM tem responsabilidade no atraso do concelho e que poderia ter feito muito mais para travar a terciarização do concelho e a sua feição de dormitório descaracterizado - salvo os bois - nem a nós nos surgiria a ideia de colocar o município como agente principal do ensino profissional no concelho.
Mas por certo que fomos nós que, como de costume, treslemos o que está escrito.
Não foi, com toda a certeza, o texto que foi escrito à pressa e com pouco conhecimento das condições concretas da coerência e exequibilidade das propostas feitas.
Temos a convicção que, nas próximas tentativas, certamente a coisa sairá mais perceptível para as nossas pobres mentes.
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