sexta-feira, setembro 01, 2006

Então, adeus...

O Independente, até prova em contrário, ficou-se hoje.
Não tenho o primeiro, pois penso que o número mais baixo que tenho é o nº 8.
Comprei-o de forma intermitente por causa dos textos do MEC, por causa das guerras que teve com o Cavaquistão e por causa de um coleccionável do Tintin.
Ultimamente, há mais de meia dúzia de anos que só o comprava aí de 3 em 3 meses para lhe tomar a pulsação e ver se estava ainda vivo ou nem por isso.
Há muitos anos que estava nem por isso.
O Independente foi um jornal útil, não apenas a Paulo Portas e ao seu grupo, mas também ao país durante as maiorias absolutas de Cavaco Silva, quando foi um dos raros fócos de Oposição eficaz.
Há quase uma década que tinha perdido objectivos, pois perdera o inimigo natural e, pelo seu espírito, só poderia afirmar-se contra a área cujo pai-fundador queria como sua e mais calminha.
Por isso foi-se perdendo, sem uma linha editorial que se percebesse.
Curiosamente, estamos num ciclo em que um jornal como O Independente original mais faria falta, devido à nova maioria absoluta que temos, bem mais autoritária e controladora do que a outra.
Só que O Independente sempre foi de Direita e dificilmente poderia ser genuinamente contra as políticas socráticas, assim como não tem no governo aqueles alvos típicos e óbvios do cavaquismo, aquele pato-bravismo que chegou ao Poder na segunda metade dos anos 80 e se deslumbrou e se amanhou (Duartes Limas, Belezas Cadilhes, Borregos, Loureiros, etc , etc) e aos amigos e amigalhaças.
Agora precisávamos de um Independente de Esquerda, caso o soubessem fazer, o que infelizmente não é o caso como se viu pelos sucessivos abortados projectos de uma publicação de Esquerda heterodoxa (?), como o semanário do Miguel Portas.
Porque à Esquerda falta o brilho da ironia acutilante de um MEC - a menos que o Ricardo Araújo Pereira fosse nisso - ou a fria análise política cirúrgica do Portas versão 2.0 (a 1.0 foi a de jovem laranjinha, a 3.0 de líder político e a 4.0 de pretenso homem de Estado).
Porque a Esquerda, quanto mais quer ser vermelha e afirmar a sua genuinidade, mais cinzenta e previsível se torna.

AV1

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