II – Os meus critérios para para votar
Dando continuidade ao meu manifesto para este período eleitoral, gostava de passar para a identificação e explicitação daqueles que considero serem os três critérios fundamentais para definir o meu sentido de voto (ou de abstenção) numa eleição como a que se aproxima.
a) Que partido em actividade prefiro ver a governar Portugal, a partir da sua acção no passado e propostas para o futuro ?
b) Que candidato disponível quero ver como Primeiro-Ministro ?
c) Que lista de candidatos pelo meu círculo eleitoral considero que representa melhor os meus interesses e os da minha região ?
Quanto ao primério critério, nos tempos que correm, confesso que não consigo optar por nenhum dos existentes, mesmo se tenho graus diversos de simpatia/antipatia para com este ou aquele. No entanto, e para simplificar, considero que os que nos têm governado nos últimos 30 anos não fizeram, claramente, um bom serviço. Os do chamado “arco democrático europeísta” (PS, PSD e CDS) estiveram mais ocupados em governar-se do que em governar-nos e só em períodos muito circunscritos tiveram um ímpeto reformista e ainda em períodos menores esse ímpeto foi de sinal positivo. Quanto aos que têm estado de fora (PCP e BE com assento no Parlamento, os outros nem isso) coloca-se o problema da adequação do seu alinhamento ideológico com as condições concretas da nossa inserção na União Europeia. Por isso, por muito boas intenções que afirmem no plano social, duvido da aplicabilidade ou praticabilidade dos seus ideais confessos. Acresce a isso a minha profunda desconfiança quanto aos objectivos pessoais da maioria do líderes do Bloco e o meu desgosto com a aridez que vai campeando nas hostes do PC. Os restantes, por muito injusto que seja, a verdade é que são pouco mais que grupúsculos com limitada capacidade de mobilizar quadros para funções governativas.
A respeito do segundo critério, nem é bom alongar-me muito porque as duas opções que estão no mercado são claramente rasteiras, mesmo se só por erro grosseiro de apreciação se podem considerar vagamente similares. Sócrates é o pragmatismo sem alma elevado ao seu maior esplendor; é o vazio de ideias concretas ou, pior ainda, a adopção sem convicção e por mera estratégia de ideias que se julgam adequadas ao espírito dos tempos. É o lado mais cinzento da tecnocracia, mesmo se com fatiota Armani. Não é o problema do vazio ideológico, por si só, ou mesmo da indiferenciação do seu posicionamento pró-centrista. O maior problema é a sensação de se pretender ganhar o Poder por si mesmo, sem um projecto que vá para além do seu mero exercício e do controle dos cordelinhos do Orçamento e da distribuição de mercês e prebendas. A esse respeito, será interessante conhecermos, se o PS ganhar claramente as eleições, as contrapartidas negociadas com eminências pardas como Jaime Gama e o próprio Vitorino.
Já Santana é quase o inverso, no sentido da impulsividade crente no seu próprio carisma e na capacidade de fazer apenas com base no voluntarismo e na enunciação das vontades. O curioso é que, depois de sucessivamente derrotado internamente em Congressos pela força do aparelho
laranja, agora Santana Lopes só tem consigo alguns dos exemplares mais típicos do aparelhismo clientelista do PSD, daqueles que vão a todas, independentemente do líder. A única diferença é que, antes, esses aparelhistas de segunda e terceira categoria iam atrás de chefes fortes no desejo de ganhar o Poder, enquanto agora vão atrás de um chefe que não percebe ser fraco, com o objectivo de lhe sacarem todos os compromissos possíveis nos tempos que correm (leia-se luares de Deputados e nomeações de última hora do Governo). Perante a debandada dos chamados “notáveis”, seja por natural aversão a Santana, seja por adivinharem um fracasso, restou o peixe miúdo dos “interesses intermédios” das autarquias e do pessoal político das Direcções-Gerais e assessorias que, em caso de derrota estrondosa, farão ao “brilhante” Santana o que fizeram ao “apagado” Fernando Nogueira, de que já ninguém se lembra.
Por tudo isto, Sócrates e Santana são “má moeda” política, um por ser muita moeda com pouco metal valioso lá dentro e o outro por se achar muito valioso, mas não dar para as encomendas.
Eliminados os dois primeiros critérios, resta-nos o terceiro que passa pelas listas de candidatos a deputados pelo distrito de Setúbal. E aqui temos que ter em consideração tanto os cabeças de lista, como os candidatos em lugares elegíveis por cada uma das cinco forças políticas com capacidade de chegar ao Parlamento.
O que também nos deixa um problema bicudo.
Começando pela ordem alfabética:
A António Vitorino não conheço grandes ligações ao nosso distrito. Aliás, penso que Bruxelas e as cidades do Centro da europa lhe agradam muito mais para passar o seu tempo e para “trabalhar” do que Setúbal, Barreiro ou Alcochete, para não falar na Moita. Tido como um pequeno génio da nossa política, nunca lhe vislumbrei nenhuma porposta ou ideia particularmente genial, se excluirmos um certo jeito para a manobra política do género “deixa-me entrar no governo, deixa-me arranjar uma desculpa para sair que isto não está a dar nada, deixa-me arranjar coisa melhor, bolas que se acabou e agora o que é que eu faço, o Sócrates pode ser a solução”. Quanto ao resto da lista, a sua ligação concreto à região é ténue, se excepturamos o já actual deputado barreirense Eduardo Cabrita. De Hasse Ferreira e a Arons de Carvalho, sempiternos nestas andanças não vale a pena falar.
Passando a Fernando Negrão, continuamos no terreno das ténues ligações ao distrito (foi juiz no Barreiro e Setúbal, salvo erro), pouco melhorando à medida que se desce na lista: lá temos de novo Bruno Vitorino (correcção graças ao atento leitor TMaurício) do Barreiro em 4º lugar, ficando a sôtôra Fernanda Velez (da Moita) remetida para lugar não elegível.
O caso de Fernando Rosas, que repete a candidatura das últimas eleições, não vale muito a pena falar. É o único cabeça de lista que conheço pessoalmente e não estou nada feliz por isso. Ele adora o povo e o proletariado no papel, mas nunca viveria (a menos que fosse obrigado para alcançar coisa melhor) ao seu lado.Visita as massas em campanha e pouco mais. Quanto a algumas das causas emblemáticas do BE como a defesa dos direitos das mulheres, das minorias étnicas, dos toxicodependentes e dos homossexuais só quem não o conhece acredita que ele as arvora por convicção. O distrito de Setúbal é apenas um instrumento para alcançar um fim, que é o de chegar-se cada vez mais ao Poder. O resto da lista são (outras) flores; só lá estão para enfeitar.
Francisco Lopes é o que, aparentemente porque nunca tinha ouvido falar dele ou se ouvi o nome é tão comum que não registei, tem mais ligações ao distrito. Parece que é o delfim de Jerónimo de Sousa (é curioso ser-se delfim de um líder de partido que chegou apenas há um par de meses, quando delfins são aqueles que são preparados longamente para uma sucessão) foi responsável por parte da organização do PC no distrito mas nunca dei por ele até ter vindo à Baixa da Banheira lançar a sua campanha. Felizmente, logo a seguir vem a minha deputada favorita e a única que me diverte a sério, Odete Santos. Para fechar o pódio, temos direito a alguém do nosso concelho, pelos “Verdes”, ou seja Heloísa Apolónia, que faz parte da Assembleia Municipal da Moita e tem tido uma presença razoavelmente assídua em iniciativas locais e regionais. Por isso, o PC é o que se safa melhor neste parâmetro.
Por fim, Nuno Magalhães. O que dizer deste jovem rapaz ? Nada, porque dele nada conheço tirando o facto de ter sido Secretário de Estado (o que nos tempos que correm não é assim currículo muito abonatório) e Paulo Portas ter decidido recompensar todos os seus correlegionários que desempenharam cargos no Governo com lugares de cabeça de lista ou, pelo menos, com claras hipóteses de elegibilidade. O “nosso” homem no CDS, Titta Maurício, lampião da verdade e da democracia no concelho da Moita foi relegado para um triste 5º lugar (Correcção: é o 4º lugar de acordo com o próprio, o que já dá para ir à UEFA) que, nas últimas épocas do futebol, nem dá para ir à Taça UEFA, quanto muito à Intertoto. O que me deixou infeliz. E acredito que também a ele, a avaliar pela quebra de vigor das suas intervenções na imprensa regional e nos vários blogs (não foi só no nosso...) onde andou a intervir em parte do ano passado com o ar cordato que se lhe conhece.
Que conclusões tirar de todo este arrazoado ?
Isso fica para a terceira e última parte do meu manifesto, a publicar depois dos debates que estão a (não) acontecer e de analisar melhor as propostas e ideias (!?) em confronto.
António da Costa, 23 de Janeiro de 2005
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário