sábado, janeiro 22, 2005

Memórias de um BeDófilo em Alhos Vedros II


Cap II – 1974 foi um belo ano...

... e não só pelas razões mais óbvias.
Na área da Banda Desenhada teve boas (mais) e más (menos) consequências.
Começando pelo pior, foi a partir deste ano, e por causa da subida dos preços dos combustíveis devido á política de cartel da OPEP, que o preço da pasta de papel subiu e obrigou algumas revistas a diminuir de formato (Mundo de Aventuras, por exemplo) ou a subir os preços (o Tintin, colorido, chegou aos 10$00 a meio do ano contra 7$50 no início, o que era um aumento de mais de 30% de uma vez só).
Mas, no conjunto, o balanço foi bem positivo graças ao final da Censura às publicações e ao aumento do seu número.
Para quem ainda andava ocasionalemtede calções e estava nos finais da primária, tudo isto eram questões muito distantes, para não dizer absolutamente desconhecidas.
Quase tudo o que lia era emprestado por amigos mais velhos e mais endinheirados e, por isso, só fiquei a ganhar.
O formato enorme do início da 5ª série do Mundo de Aventuras era excessivo para mim e foi com alegria que vi o seu regresso a um tamanho mais manuseável, ao fim de um ano de ocupar metade da mesa da cozinha para ler a coisa. Em Outubro de 1974 a 5ª série do MA ganhou a forma que se manteria até ao final da minha adolescência e quase até ao fim da sua publicação.
Por outro lado, foi em 74 que começou no Tintin (nº 28 do 7º ano de 30 de Novembro) aquela que foi uma das histórias e séries mais marcantes para mim da escola franco-belga, O Clã dos Centauros, primeiro volume da Crónica dos Tempos Futuros de Simon du Fleuve, anti-herói da autoria de Auclair. História típica de um período atravessado pelas potenciais consequências de uma guerra com armas atómicas e do que se receava vir a ser um mundo apocalíptico, envelheceu com algumas rugas mas logo que arranjei capital, comprei o álbum da Bertrand num alfarrabista, juntamente com os que se lhe seguiram, Os Escravos e Mailis.
Mas, para ser verdadeiro, a maior felicidade de então era a colecção Falcão, na fase de formato pequeno, e toda a panóplia de heróis que povoaram o final da minha infância, desde os sucedâneos que mimetizavam outros mais famosos (o Oliver era uma cópia do Robin dos Bosques, mas o Ogan e o Kalaar também se deixavam ler bem) aos que, de mãos nuas e quase sós, derrotaram à vez Hitler e os nazis. São os anos de glória das aventuras de guerra e espionagem do Major Alvega, do Ene 3 e do John Steel, assim como de uma outra colecção concorrente de pequeno formato, a colecção Combate de que não guardei qualquer exemplar. Em meados dos anos 80, quando estupidamente achei que era já um adulto e que aquelas eram histórias menores, vendi quase tudo ao dono de uma banca de livros de segunda mão na Praça do Comércio.
Asneiras que se fazem quando se é (ainda) novo e não se pensa.

António da Costa, 21 de Janeiro de 2005

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