domingo, janeiro 30, 2005

Grau (menos) zero

Nunca como agora uma campanha eleitoral chegou a um nível tão rasteiro de argumentação.
Há 25 anos tivemos a discussão em torno de uma dívidas de Sá Carneiro e umas veladas alusões à sua situação conjugal.
Há meia dúzia de anos, nas eleições em que se defrontaram como candidatos pelo distrito de Aveiro, Carlos Candal, Pacheco Pereira e Paulo Portas, houve um caricato episódio sobre a orientação sexual deste último.
Em qualquer dos casos, a coisa acabou por passar ao olvido graças à teoria da reserva da vida pessoal.
Discordo dessa teoria, em especial quando o carácter do político está em causa, mas concordo quando o que se questiona são comportamentos íntimos da pessoa, desde que não seja um caso de “públicas virtudes/vícios privados”.
Exemplificando: é relevante saber se um político na sua vida pessoal aufere (ou auferiu) rendimentos indevidos ou não cumpre as suas obrigações de cidadania; também é relevante se um político defensor da moral e bons costumes pratica, na sua vida privada, comportamentos claramente em contradição com os princípios propalados. Já não considero relevante se um certo político, que não apresenta um discurso moralista ou dogmático, tem um modo de vida alternativo, seja mulherengo, viva em união de facto ou seja homossexual.
Mas, o que acho mesmo mal, é quando se fazem críticas subreptícias e não assumidas a alegados comportamentos de adversários políticos ou, em contrapartida, se para se defender de ataques pessoais alguém se limita no pedido de esclarecimentos sobre comportamentos incorrectos de outrém.
Pondo o nome aos bois, pela ordem inversa da acima exposta e deixando já para trás o episódio revelador de Louçã sobre o aborto:
- O PS foi muito cordato na forma como aceitou os esclarecimentos de Santana Lopes sobre a sua história fiscal.
- As insinuações feitas num recente comício realizado em Braga, em que Santana Lopes se encontrou com mulheres laranjinhas são perfeitamente cobardes.
A podridão começa a instalar-se, ou melhor, ameaça tornar-se uma gangrena irreversível só passível de tratamento mediante uma amputação.

Links anexos: Notícia e comentário no Público. Comentários no Blasfémias sobre os episódios Louçã/Portas e Santana/Sócrates.

Sem comentários: