terça-feira, março 01, 2005

A Estante VIII



«Na sua essência, a corrupção, ao nível político-administrativo de um Estado, consiste num acto secreto praticado por um funcionário ou por um político, que solicita ou aceita para si ou para terceiros, com ele relacionados, e por ele próprio ou por interposta pessoa, uma vantagem patrimonial indevida, como contrapartida da prática de actos ou pela omissão de actos contrários aos seus deveres funcionais.
(…) numa lógica de corrupção, o poder político ou administrativo dos titulares dos cargos públicos transforma-se numa mercadoria, num objecto de negócios, orientado quase exclusivamente para objectivos criminosos de enriquecimento ou de poder, individual ou de um grupo. Gradualmente, vai-se instalando um desvio dos fins dos poderes públicos para fins individuais ilegítimos.
(…) Ao reproduzir-se impunemente, a corrupção vai contaminando toda a estrutura pública, criando uma subversão desreguladora, porque a complexa teia de interesses e cumplicidades criada vicia o desenvolvimento do país e do próprio mercado. Surge em todo o seu vigor aquilo que se pode denominar “modelo de capitalismo felgueirense”, se quisermos encontrar um chavão explicativo a partir de um fenómeno da realidade nacional actual.»
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Maria José Morgado e José Vegar, O Inimigo sem Rosto – Fraude e Corrupção em Portugal (Lisboa, 2003, pp. 57-58)

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