Quem verdadeiramente manda entre nós são aqueles grupos de pressão ligados a actividades económicas e grupos profissionais que dificilmente alguém afronta sem correr muitos riscos.
No campo financeiro, existem os bancos e as seguradoras.
No campo da Justiça, temos os juízes e os advogados.
No campo da Saúde, temos a indústria farmacêutica, as farmácias e os médicos.
A primeira opõe-se aos genéricos.
As segundas opõem-se à venda de medicamentos não sujeitos a receitas fora das suas instalações.
Os terceiros fecham-se e defendem-se corporativamente, sempre que são acusados de negligência.
Nos três casos, são os utentes/doentes que pagam a factura, com a carteira ou com a vida.
Para mim, se os dois primeiros casos são clamorosos na defesa de privilégios corporativos - o funcionamento do sector farmacêutico é um dos resquícios mais vigorosos da política corporativa e de condicionamento industrial do Estado Novo que a democracia ainda não conseguiu anular -, o último caso é aquele que assume aspectos mais dramáticos.
Vou poupá-los à série de "enganos" e actos de negligência de que eu e familiares meus já fomos vítimas desde que tenho memória, apenas tendo escapado (por um triz e por enquanto) a minha descendência.
Não tenho nada contra a classe médica, muito pelo contrário.
Acho que são o grupo profissional com a missão mais nobre que existe.
Por isso, devem ser bem pagos e ter regalias. Mas, por isso mesmo, também devem ser responsáveis e ter respeito pelos que os procuram, por necessidade.
E não devem andar a correr de um lado para o outro, só para acumularem mais uns cobres para um novo turbodiesel alemão a cada par de anos, umas férias nas Caraíbas a cada semestre, uma vivenda em condomínio privado ou um barquinho de recreio para deixar na marina.
Por isso, não vou poupá-los às estatísticas publicadas pela Visão de hoje sobre as queixas e os processos levantados aos médicos em Portugal, entre 2002 e 2004:
1256 processos e/ou queixas entradas;
739 processos concluídos;
18 suspensões;
1 expulsão.
Palavras para quê ?
Em alguns casos, os mortos é que se enganaram, quando deixaram de respirar.
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