sexta-feira, março 18, 2005

A realidade agora em tons de cinzento



Se um objectivo teve a criação deste blog foi o de fomentar o debate em torno das questões que consideramos importantes para Alhos Vedros e região envolvente.
Para além das incursões por temas nacionais, pelas nossas memórias ou arquivos, o AVP quis constituir-se como um espaço de crítica, se possível de reflexão, e desejavelmente de debate sobre a nossa terra e o seu concelho.
Mesmo quando não tínhamos a hipótese de inserção directa de comentários, sempre divulgámos os textos que nos chegaram, a (des)alinhar connosco.
Mas, infelizmente, entre nós o debate não é um hábito, a crítica é mal vista desde que não seja louvaminheira e a reflexão é quase inexistente.
Entrincheirados nas suas posições, prisioneiros dos interesses que representam, os agentes políticos locais debitam discursos pré-fabricados, normalmente ditados pelos jogos tácticos da política local e raramente avançam por territórios novos. Basta ver os artigos de opinião que são fotocopiados para todos os órgãos da imprensa local e regional pela Situação e pela Oposição.
Aqui no blog, salvo escassas e honrosas excepções, é raro alguém chegar-se à frente quando se trata de debater questões de interesse local. Seja o abandono da zona ribeirinha, a degradação do Parque das Salinas, o que achamos serem os erros da requalificação urbana, o desaparecimento do património histórico da vila ou a desordem urbanística que assolou Alhos vedros nos último 25 anos, ninguém parece ter vontade de se pronunciar abertamente, mesmo que sob pseudónimo e/ou com garantia de absoluta confidencialidade.
O discurso político local eleva-se pouco acima do zero acerca destes assuntos, refugiando-se nas posições de ataque/defesa do costume: a Situação diz que está tudo bem, que o que não está é culpa do Poder Central, que não podia ser de outra maneira e que as críticas estão infiltradas pela Oposição; a Oposição diz que está tudo mal, mas não explica como faria de forma diferente, apenas dizendo que faria melhor, mas não especificando para não se comprometer com nada que se lhe possa apontar no futuro. É verdade que o pessoal político local é limitado (no duplo sentido da quantidade e qualidade) e que a realidade aparelhística e controleira em que vivemos, afastou muitas(os) das(os) mais capazes da intervenção cívica.
No nosso caso, apenas lamentamos que, mesmo a nível individual, os alhosvedrenses, na sua maioria, optem pelo silêncio e pela apatia. Mesmo quando nos criticam pela nosso desbragamento crítico ou por uma falta de seriedade “institucional”, têm receio de assumir as suas ideias e propostas “sérias” e “construtivas”. Este espaço tem as suas limitações mas é ditado por critérios de ampla liberdade de opinião, não sendo preciso reclamar o direito ao Contraditório ou o direito de resposta.
Podemos ser ocasionalmente destrutivos em algumas críticas, mas também já apresentámos propostas alternativas (travar a degradação da zona ribeirinha entre o Cais Velho e o Cais Novo, reflorestar a área entre o Pinhal Castanho, a Lagoa da Pega e a Fonte da Prata junto à EN, ordenar a construção no “perímetro urbano”, travar a degradação e recuperar o património arquitectónico de matriz popular da vila, dinamizar um forte núcleo museológico ligado às actividades económicas tradicionais) às que encaramos como erradas; aos que nos criticam as críticas, ainda não vimos nada de mais válido.
No entretanto, em que se entretiveram os poderes locais nestes últimos anos ? A Situação fez alinhar o seu desinteresse e a sua falta de firmeza ou iniciativa com os interesses privados que ditam a transformação de Alhos Vedros num dormitório de 3ª qualidade. A Oposição preocupa-se apenas em aparecer no retrato e parecer bem-pensante, capitalizando a insatisfação com um mínimo de propostas concretas e esperando cavalgar a onda que levou o PS ao governo da República. Ou seja, espera que o Poder lhe caia no colo de maduro (ou de podre).
Tanto num caso como no outro, e se isto continuar assim nos próximos seis meses, as opções que nos vão ser apresentadas nas próximas Autárquicas vão dividir-se entre o que sabemos ser muito fraquinho (mesmo se pretensioso) e o que desconhecemos em absoluto, mas que suspeitamos não ser grande coisa.
Ou seja, a modos que estamos tramados, num beco sem saída, no mato sem cachorro que se aproveite e num túnel sem luz à vista.
Aceitam-se opiniões em contrário.

António da Costa, 18 de Março de 2005

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