Absolutamente inconcebível...

... mas perfeitamente natural entre nós.
Do alto da sua sapiência suprema, Gomes Canotilho tirou da cartola o coelho fundamental para provar que em Portugal as leis existem mas ou estão mal feitas ou são de tipo feudal, pois aplicam-se a uns mais não se aplicam a outros. E de caminho sugere o arquivamento de todo o processo em curso sobre corrupção no futebol e na respectiva arbitragem.
De acordo com peça de hoje do Correio da Manhã, o insigne constitucionalista descobriu que o caso Apito Dourado está a ser julgado de acordo com legislação sobre corrupção que não pode ser aplicada ao mundo desportivo.
Ou seja, acha ele que as leis sobre corrupção não se aplicam ao Desporto.
Isto seria deveras cómico, não fosse tão patético.
O Governo poderia ter legislado sobre corrupção com a autorização que tinha, mas não sobre corrupção desportiva.
Isto é a fundamentação explícita de que o Desporto - e o futebol em particular - é um mundo àparte, que funciona com regras próprias e com leis acima das aplicáveis aos comuns mortais. Aliás, mesmo na lei existente as penalizações por actos de corrupção no âmbito desportivo são menores do que as aplicadas quanto aos actos de corrupção "em geral".
Isto é verdadeiramente abstruso e, mesmo que tecnicamente exista um qualquer fundo de legitimidade nesta posição, Canotilho com todos os seus títulos e prebendas devia ter pudor em subscrever tal posição que resulta de um parecer, gostaria eu agora de sabê-lo porque o jornal omite esse dado, feito para quem e pago por quem.
Atrás disto vem o costume, as escutas foram ilegais, o processo está ferido na sua legalidade, arquive-se.
Mas os actos foram cometidos, todos os sabemos e os bandalhos que os cometeram continuam por aí felizes e alegres, os árbitros corruptos (apenas 18 em 25 da primeira categoria) a continuar a apitar e a asnar como de costume (veja-se o penalty do Leiria-Beira-Mar), os dirigentes da Liga e da arbitragem nos seus cargos como se nada passasse e os dirigentes desportivos a pedir clemência par jogadores que afrontam e ofendem à frente de todos nós os ditos árbitros que, por se saberem mais podres que macã bichada, também nem reagem muito, por causa das coisas.
Voltámos àqueles bons tempos em que um adepto do FCP agrediu um operador de cãmara da RTP perante todo o país e nada se passou ou em que Veiga Trigo foi atingido por uma moeda e, estando de costas, viu ter sido um adepto do Sporting no meio de uma claque boavisteira no Estádio do Bessa (e Alvalade foi interditado 2 jogos), não falando em agressões múltiplas do velho João Pinto e do Aloísio em jogos sucessivos numa certa época que os Silvanos, Calheiros e Guímaros deste mundo deixavam pasar em claro.
E por falar em Guímaro, parece que esse afinal também não devia ter sido condenado.
É a lama no ventilador a toda a força, mas sem consequências.
Se isto é um Estado de Direito, então eu prefiro ir para o Burkina Faso (mas continuando a postar mesmo de lá, com internet via lianas).

AV1