quinta-feira, setembro 07, 2006

A Intolerância dos Pseudo-Tolerantes

No final da semana passada, foi transmitido em duas partes na 2:, o filme-documentário de Scorsese No Direction Home sobre Bob Dylan, rapaz cantadeiro e rebelde que, por razões geracionais, nunca me disse grande coisa e, mesmo quando disse, raramente percebi. Abro uma excepção para o álbum Empire Burlesque e para a música Tight Connection to My Heart e por aí se percebe que falhei por completo a lógica dylaniana.
Mas tal como outros "heróis" da contra-cultura contestatária dos anos 60 que me escapam um pouco (Hendrix, Morrison) guardo-lhes sempre um espacinho em virtude da sua importância histórica.
No caso da história do Robert Zimmerman há um episódio por demais conhecido, que acho profundamente representativo da intolerância dos que, nos anos 60, se afirmavam guardiães da tolerância, da paz, do amor e de todo o resto da parafernália, incluindo sandálias mal-cheirosas péssimos penteados e roupa feminina para esquecer.
Em 1965, Bob Dylan que sempre fora um baladeiro à moda folk decidiu utilizar instrumentos eléctricos na sua música durante o festival de Newport.
Ora a assistência não esteve para meias medidas e com a anuência de gente iluminada como Joan Baez e Pete Seeger, vaiaram-no, chamaram-lhe traidor e obrigaram-no a sair do palco ao fim de apenas 3 músicas.
Porquê?
Porque o rapaz tinha ousado alterar a fórmula que lhe tinha dado sucesso nos anos anteriores e decidido inovar, adaptando as suas canções a uma nova forma de as divulgar.
Sacrilégio, pois não há nada pior para as vanguardas contestatárias, adeptas do "é proibido proibir" (eu sei que só apareceu em 68, mas aplica-se...) e de um teórico pacifismo pacóvio do que esfregarem-lhes na cara com uma novidade inesperada ou com o que encaram como uma deserção.
A malta defende a Contestação e a Revolução e tal, mas só se forem feitas de acordo com o manual de instruções.
Na prática, Dylan continuava a ser o mesmo e a cantar as mesmas palavras.
mas não lhe perdoaram ter aderido ao que era considerada uma novidade que traía o purismo folqueiro que achavam o único meio para divulgar a sua mensagem.
A verdade é que Dylan se manteve um ícone e ultrapassou a incompreensão, ganhando novos públicos para as suas mensagens, enquanto os bem-pensantes intolerantes ficaram para a História como figuras bem menores.
Porque quem recusa a mudança e a novidade é, por definição, intolerante, por muito que afirme o contrário e se arme em contestatário, estando-lhe reservada apenas uma nota de rodapé da História.

AV1

2 comentários:

AV disse...

Tu tinhas-me prometido que nunca citarias o nome dessa mulher, a Joan Baez, agora os meus pesadelos vão voltar e a música BANGLADFESH, vai ocupar o meu cérebro durante semanas, é a recaída o abismo o caos HIPPIE, por tua culpa vou ser obrigado a ouvir RAMONES, SEX Pistols e BUZZCOCKS, durante uma semana ou duas, para o meu cérebro voltar ao normal.

AV2

AV disse...

Eu falei nela, mas para dizer mal. Não tenhas pesadelos com a rapariga de chinelas, coroas de flores, saias de roda e com aquela vozinha irritante.

AV1